Compromisso e atração por Edvard Munch |
Em verdade vos digo
que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que
proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão
para sempre, visto que é réu de pecado eterno. Mateus 12.22-37, Marcos 3.28-29
e Lucas 12.4-11
Devemos realmente acreditar que Deus marca com o ferro da
condenação eterna uma pessoa que ainda tem alguma possibilidade de voltar atrás
nos seus conceitos? Segundo a nossa injustiça teríamos que punir com uma
sentença máxima aqueles que o crucificaram e relaxar um pouco a pena daqueles
que blasfemaram contra ele sem feri-lo. Uma vez que a pena capital deve ser
sempre empregada aos crimes de maior dolo, não pode haver neste caso dúvidas
quanto qual deve ser o crime de fato hediondo, ou qual foi de fato o crime sem
volta. Mas não é isso que pode ser averiguado nos evangelhos. Para todos os
efeitos, Jesus condenou os fariseus de Cafarnaum, onde curou o cego mudo, e
suplicou a Deus perdão pelos chefes supremos de Jerusalém, que estavam prestes
a matá-lo.
Um pouco de conhecimento do caráter e do ministério de Jesus
nos faria entender que o seu ultimato estaria mais bem situado no contexto de
Lucas do que propriamente no de Marcos ou no de Mateus. Aquele que disse que a
sua missão precípua era salvar o homem da perdição e não condená-lo pelos seus
pecados, teria, através de uma declaração contundente como esta, uma
oportunidade maior de se fazer entender em um diálogo franco e aberto com os
seus amigos, do que propriamente numa disputa acirrada aos gritos contra seus
opositores. Não quero dizer com isso que quando voluntariamente fazemos do mal
bem, e do bem mal, do doce amargo, e do amargo doce, da luz escuridão, e da
escuridão luz, não precisamos nos preocupar, posto que a graça de Deus está aí
para perdoar mesmo. Como disse o próprio Bonhoeffer: O homem persiste em pecados ainda não perdoados, acumulando culpa sobre
culpa, que o levará ao endurecimento total do coração, à ausência de temor e à
piedade hipócrita. Não há mais lugar para o arrependimento e sim para a
idolatria, onde Deus passa ser o ídolo que serve aos seus propósitos.
Estar condenado ou condenar a si mesmo? Ser jogado no fogo
do Inferno ou caminhar voluntariamente a passos largos para ele. Sem a
pretensão de dar uma resposta a esta insolúvel questão, quero, ao final,
lembrar apenas do que, Jesus disse um pouco antes de fazer esta afirmação que é
indigerível para muitos ambientalistas: Por
acaso não é verdade que cinco passarinhos são vendidos por algumas moedinhas?
No entanto Deus não esquece nenhum deles. Até os fios dos cabelos de vocês
estão todos contados. Não tenham medo, pois vocês valem mais do que muitos
passarinhos! Lucas 12.6-7
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