Nos rios da Babilônia por Gebhard Fugel |
Existe uma narrativa onde a nossa
fé na inspiração divina na Bíblia é testada. O salmo cento e trinta e sete, no
verso um, pergunta: Como
cantaremos a canção do Senhor em terra estranha? Este primeiro verso é apenas o início
de uma sequência de juras de amor e maldições que incitam o ódio e a
vingança como única postura diante da situação a qual o salmista e seu povo se
viam forçados a viver. Em uma das linhas, mais precisamente no verso nove, o
salmista chega a dizer: Bendito
é aquele que pegar a cabeça das tuas criancinhas e esmagá-las com pedras. O
que começou com um simples pedido de uma canção, resultou na mais bárbara
expressão de ressentimento e ódio de toda a Bíblia.
Por mais que estas palavras nos
incomodem, e por mais que a mensagem central do Cristianismo as desaprove,
somos forçados a concluir que em certas situações realmente fica quase
impossível cantar o cântico do Senhor. Como cantar as maravilhas de Deus em
meio à mortalidade e o abandono de crianças que não morrem esmagadas por pedras
porque a fome dá cabo delas? Como exaltar a soberania de Deus com músicas que
enaltecem a criação, quando nós mesmos nos incumbimos de condicioná-la à nossa
vontade? Como cantar o cântico do Senhor numa terra tão estranha?
Em vez de me perguntar como posso
cantar que os céus proclamam a glória de Deus nesta terra tão indiferente ao
seu amor? Passo a perguntar qual é a razão da primavera florida para um mundo
que caminha a passos largos para a degradação ambiental? Por que será que nos
lugares mais inóspitos, como os lixões, onde não vemos qualquer possibilidade
da regeneração da natureza, Deus faz brotar uma flor? É complicado entender
como, por mais crueldade que se instale no mundo, Deus continua a nos enviar
crianças. Por que será que ele ainda insiste em investir nós, em mandar as suas
joias mais preciosas, as criaturas que lhe são mais caras, a este mundo no qual
nós mesmos não depositamos qualquer confiança. Mas o desabafo do salmista ainda
reflete a sua confiança. Mesmo que sinta na pele a mesma dor do afligido ele
crê fielmente que nenhum mal, por maior que seja, tem em si o controle deste ou
de qualquer outro universo. Só que ama é capaz de entender nas entrelinhas que
o reino deste mundo já passou a ser de nosso Senhor e de seu Cristo, e ele
reinará para sempre.
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