A ressurreição do filho da viúva de Naim por Pierre Bouillon |
Todas as narrativas de ressurreições na Bíblia têm pelo menos dois
elementos comuns: compaixão e solidariedade. Quando encontra a viúva de Naim
que perdera o filho Jesus se move de íntima compaixão e diz para ela: não
chore. Ao passo que quando recebe a notícia da morte de seu amigo Lázaro é o
próprio Jesus quem chora. Essa é a verdadeira compaixão, a paixão de que sofre
junto.
Mas é na solidariedade que as narrativas encontram o seu
senso comum. Uma cidade inconformada pela morte de Dorcas; a vizinhança aflita
pela morte da filha de Jairo; uma família dilacerada pela dor da perda do seu
irmão que era como um pai; um povo inteiro manifestando o seu pesar pela morte
de um rapaz que era o arrimo da família.
Podemos perceber nestas passagens que a solidariedade está
não somente presente, mas consolidando decisivamente o milagre da ressurreição.
É na solidariedade das pessoas que a ressurreição encontra o terreno fértil que
necessita para se fazer realidade. Uma das cenas mais chocantes dos últimos
tempos para mim foi o sepultamento do assassino das crianças de Realengo. As
fotos nos jornais mostravam um caixão abandonado no meio do pátio vazio do
cemitério. Um enterro que os amigos não estiveram presentes, que não foi
lamentado, não foi pranteado e que não contou com a solidariedade de
ninguém. O típico exemplo de morte sem qualquer possibilidade de ressurreição.
Pelo menos do tipo de ressurreição da qual estamos falando.
Não é à toa que os textos que falam da ressurreição de
pessoas são os de maior apelo na Bíblia. Neles que descobrimos o quanto a vida
é de fato preciosa. Uma das marcas mais expressivas da plenitude do Reino de
Deus é justamente a morte da própria morte. A única morte que ansiosamente
devemos esperar. Enquanto esta não acontece e enquanto não pudermos fazer
absolutamente nada para evitá-la é nosso dever minimizar os seus efeitos. Ainda
que não consigamos realizá-la de forma concreta estamos obrigados a promover os
símbolos da ressurreição através dos gestos de compaixão e de solidariedade.
Assim fazendo estaremos trazendo para o mundo real uma das mais estranhas
promessas que fez Jesus Cristo: Em
verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, não provará a
morte, eternamente.
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