A descida da cruz, Rembrandt |
O quarto e último cântico do servo sofredor de Isaías começa
com versos bem otimistas, levando-se em consideração, é claro, os três
anteriores. Ele canta antecipadamente uma vitória, enaltece o trabalho do servo
e até antevê que a vitória final do servo será reconhecida por todos.
Este cântico consegue antecipar que estes acontecimentos chegariam a tocar
a sublimidade. No entanto, parece que são somente olhos que estão abertos
para Deus, como estavam os de Isaías, podiam enxergar a vitória do servo dessa
maneira. Para todos os demais, a sua aparência era tão desfigurada que ele nem
parecia um ser humano. Era uma aberração tão grande que assustava a muitos. E
aqui se estabeleceu um contraste entre o que Isaías sentia, os que foram
tomados pela comoção pelo estado do servo e os que sentiram repulsa diante de
tal visão.
A pior impressão que se pode ter do servo é a condolência. O
sentimento de pessoas que se dispõem a sofrer no lugar de Jesus. Pessoas que
através de flagelos e sacrifícios empenham-se inutilmente em amenizar a dor da
paixão de Cristo. Este é um sentimento a nutrir um sentimento de ódio por Deus
Pai, pelo fato de permitir que seu Filho passasse por todas essas agruras.
Para aqueles que imaginam que Deus o abandonou na cruz,
porque naquela hora Jesus trazia sobre si os pecados do mundo, e Deus não pode
relação com o pecado, Paulo responde: a
saber, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando
os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação.
O segundo menos pior sentimento é o asco pelo acontecido,
mesmo seja através da indiferença. Pessoas que acham que a vida e obra do servo
não passaram de um completo absurdo. Não é de agora que a religião tenta calçar
a via crucis de romantismo e poesia.
São muitos os que ainda pensam que Jesus, por ser Deus, nada sofreu com as
humilhações, os açoites e com a crucificação, e que tudo não passou da mais
perfeita encenação da paixão realizada até hoje. Se por um lado a compaixão
pelo sacrifício de Cristo nos induz a atos de fé sem propósito, subestimá-lo
nos leva à omissão.
Mas ainda nos resta o sentimento apropriado, daquele que se
rejubila com radicalidade do amor de Deus quando sofre junto com seu Filho a
dor do Calvário. A manifestação de alegria daquele que tem orgulho do sangue
derramado, e que faz dele a razão da sua vida. Ainda existem aqueles que
honesta e sinceramente cantam: Mas
eu amo essa cruz, porque nela Jesus deu a vida por mim pecador.
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