Agonia no Jardim por Giovanni Bellini |
Sempre existiram entre nós aqueles que consideram Jesus um
semideus revestido de total invulnerabilidade e isenção das fraquezas humanas.
Dizem eles: Jesus nada sofreu, porque não era formado da mesma matéria que
nós humanos e, portanto, não estava sujeito às leis naturais que nos são
impostas. Mas não é isso que nos diz o texto bíblico. Ao relatar os
momentos que antecederam à prisão de Cristo, a Bíblia é precisa em traduzir a
sua agonia e o seu estresse emocional em uma anomalia do metabolismo humano,
que até há pouco tempo era tida como um milagre fantasioso de um ser superior,
mas que a medicina moderna considera o suar sangue perfeitamente possível em
pessoas submetidas ao estresse máximo. O Getsêmani é uma prova irrefutável da
condição humana sob a qual viveu entre nós.
Também existem aqueles que movidos por uma piedade não
requerida, não somente intercedem por Cristo diante de Deus, mas se oferecem
para tomar sobre si os flagelos, na intenção de aliviar o sofrimento de Cristo
daquela hora fatal. A ideia por trás destas manifestações é que sofrendo
voluntariamente com Cristo, não somente aliviamos a sua dor, como também
conquistamos os méritos pessoais que quase se equivalem ao sacrifício de
Cristo. Há várias contradições dos princípios bíblicos nesta intenção.
Primeiramente, não existe nada que possamos fazer hoje que consiga alterar a
imutabilidade da história passada. Esta é uma regra básica que não somente se
aplica a nós humanos, o próprio Deus também se sujeitou a ela. Nem mesmo Deus
pode fazer com que o fato, de repente, deixe de ter acontecido. O que nos é
exigido, não é mudar o passado, mas sim corrigir, sempre que possível, as suas
consequências. Eu não posso mudar o que aconteceu há dois mil anos atrás
naquele obscuro recanto do império romano, mas eu posso responder positivamente
ao apelo do amor de Deus na infame cruz e transformar a situação a minha volta,
tornando o mundo um pouco melhor.
Eu louvo a Deus pela mente de Paulo, o apóstolo, que mesmo
sem ser testemunha ocular dos fatos, enxergou uma paixão bem distinta desta que
bem conhecemos. Paulo não considerou derrota ou perda, mas sim um ganho
inquestionável. Paulo, com sua visão além do imediato, vê Jesus sendo açoitado
e pergunta: Onde está, oh morte, a tua
vitória? Vê Jesus agonizando e questiona: Onde está, oh inferno, o teu poder de destruição? E
quando Jesus finalmente morre, Paulo grita jubiloso: Tragada foi a morte pela vitória!
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