O que é CONSUBSTANCIAÇÃO?

Ceia do Senhor, Sieger Köder
União de duas substâncias de que resulta uma terceira: coexistência local de duas substâncias; união natural dos elementos terrenos e dos celestes na ceia do Senhor. Católicos romanos e protestantes afirmam que Lutero e a dogmática luterana ensinam a consubstanciação dos elementos celestes e terrenos na ceia do Senhor. O argumento é sempre o mesmo, razão por que basta citar um autor católico romano e um protestante.

Reginald Garrigou-Lagrange,  diz que Lutero ensinou que na consubstanciação, a saber, o corpo de Cristo está com o pão; em o pão; sob o pão. Jerônimo Gueiros, teólogo e filólogo presbiteriano, argumenta citando as Confissões Luteranas: "o corpo e sangue de Cristo estão verdadeira e substancialmente presentes e se distribuem e recebem verdadeiramente junto COM (destaque do autor) o pão e o vinho”. Há quem entenda que o termo consubstanciação designa uma coexistência local de duas substâncias. Outros a descrevem como união de duas substâncias de que resulta uma terceira. Consubstanciação na ceia do Senhor, é o pão e o corpo de Cristo confundidos numa nova substância por um eutiquianismo sacramental. O autor lembra o caso análogo da heresia monofisita de Êutiques, o qual negou que são impermistas as duas naturezas de Cristo, ensinando, pelo contrário, que elas se confundem numa só. Ainda outros preferem definir a consubstanciação como sendo a teoria da união natural dos elementos terrenos e celestes na eucaristia.

À luz das definições citadas, o termo consubstanciação é imprestável para designar a doutrina de Lutero e da dogmática luterana sobre a união dos elementos celestes com os terrenos e a presença real. Essa doutrina exclui ideia da coexistência local, a da união natural dos elementos terrenos com os celestes e a da formação de uma só substância, ou, o que dá no mesmo, de uma terceira substância. Durante o Sínodo de Wittenberg de 1536, do qual saiu a Concordia Vitembergaense, o teólogo reformado Martin Bucer explicou a Lutero que já ia para oito anos que ele e os seus estavam convencidos de que Lutero negava a união natural do pão e do corpo, bem como a inclusão local. Diz o erudito teólogo luterano dinamarquês Andreas Gottlob Rudelbach, que observa, entre parênteses, que a união dos elementos celestes com os terrenos é sobrenatural; o corpo e o sangue de Cristo são recebidos de modo sobrenatural; logo não tem cabimento falar em inclusão local, impanação a propósito da doutrina luterana.

Lutero negou qualquer concepção espacial na doutrina da presença do corpo e do sangue de Cristo na ceia do Senhor, dizendo que o corpo não está na hóstia como o grão no saco. No século XVII, o dogmático luterano Abraham Calov resumiu a questão de forma correta: "Julgamos que o corpo e o sangue de Cristo estão presentes na ceia, não na verdade, por metousiaou transmutação substancial, como querem os pontifícios, nem por sunousia ou consubstanciação, que nos carregam falsamente os calvinistas, nem por inclusão local, a saber, a impanação". James F. McCue pensa que Lutero "favoreceu uma doutrina de co-presença não grandemente diversa do que acima se chamou consubstanciação". O autor chama de consubstandação. p.ex., o que o cardeal Pedro de Cápua descreve com estas palavras: "Alguns dizem que não há nenhuma mudança aqui, senão que, permanecendo a substância do pão e a substância do vinho, ao serem pronunciadas aquelas palavras (as palavras da consagração), começam a estar presentes sob as mesmas espécies a carne e o sangue de Cristo, ainda que primeiro não estava aí senão a substância do pão e do vinho". MacCue transcreve outro exemplo do que chama de consubstanciação. É uma palavra tirada da obra de Lotáriode Contidi Segni, o famoso Inocêncio III, Papa desde 1198: "Mas, permanecendo as substâncias do pão e do vinho, quando são pronunciadas aquelas palavras, o corpo e o sangue de Cristo verdadeiramente começam a estar presentes sob eles, de tal modo que sob os mesmos acidentes um e outro, pão e carne, vinho e sangue, são verdadeiramente recebidos". "Resolvem facilmente aquela questão na qual se indaga o que é que o rato come ao roer o sacramento. Segundo eles, o rato come a substância do pão, sob o qual o corpo de Cristo imediatamente deixa de existir".

De acordo com a dogmática luterana, não existe a hipótese de um rato roer o sacramento do altar, pois o sub de Lutero não significa união natural ou inclusão local. Sobre o conceito de consubstanciação e sobre essa concepção na Idade Média, em Lutero e na teologia luterana posterior à Reforma, escreve Gustaf Aulén: "No fim da Idade Média, em oposição à teoria da transubstanciação, foi proposta a da consubstanciação. Segundo ela, o corpo e o sangue de Cristo unem-se aos elementos comuns sem que estes deixem de ser pão e vinho. Embora esta teoria seja menos passível de objeção, a ideia de substância está ainda presente, ocultando a presença ativa de Cristo. A teoria da consubstanciação tomou-se parte da teologia luterana nos séculos posteriores à Reforma. É de notar-se, contudo, que a palavra não é encontrada nos escritos de Lutero. Sua constante ênfase na presença real de Cristo vivo e ativo era incompatível com o conceito de substância".

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