Um não definitivo à morte

Criação por Paolo Uccello
Nas Bíblias tradicionais, das setecentos e cinquenta e cinco vezes que aparece a palavra nêfesh, cuja tradução literal é garganta, seiscentas vezes a Septuaginta a traduziu por psyche, o que no Português mais se aproxima de alma. O que se pode concluir deste fato é a constatação de que em muito poucos versículos bíblicos a tradução desta palavra corresponde ao significado que realmente damos à palavra nêfesh. Em Gn 2.7 temos: Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser nêfesh vivente. Observe aqui por onde entra o sopro divino. Passa narina, subsequentemente vai para a garganta e esta passa a ter vida. Certamente aqui nêfesh não é alma e sim o conjunto que configura totalmente o homem que tem vida, particularizando o sinal mais visível, que é a respiração. Por isso é que para a Bíblia o homem não possui ou é possuído por um nêfesh, ele próprio é nêfesh e vive como sua vida como nêfesh, dirimindo de imediato qualquer dúvida quanto ao dualismo corpo e alma.
Este é um dado que pode esclarecer bem a diferença entre a ressurreição de Cristo e aquilo que normalmente chamamos de ressurreição. Entra na tumba um ser completamente destituído de reação e pronto para virar pó. Deus levanta de lá um ser plenamente glorificado, livre de paixões e de limitações.
Para mim, a melhor declaração acerca da ressurreição de Cristo está no livro de Atos dos Apóstolos e nos foi dada pelo apóstolo Pedro. E quem melhor traduziu o que é alma no conceito humana foi o escritor Mário Quintana. Enquanto Pedro diz: Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. Ao que Mário Quintana acrescenta: Alma é aquela coisa que nos pergunta se a alma existe.

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