Se algum de vocês tem cem ovelhas e perde uma, por acaso não vai procurá-la? Assim, deixa no campo as outras noventa e nove e vai procurar a ovelha perdida até achá-la. Lucas 15.1-7
Israel sempre considerou a si mesma como o rebanho do Senhor. Esta é uma imagem que está em todo o Primeiro Testamento. A imagem de Deus como o pastor e o povo de Israel como seu rebanho preferido. Isso fazia parte da sua história. Davi orou dizendo: o Senhor é o meu pastor, nada me faltará. Cada da hebreu ao longo de sua vida orou incontáveis vezes o Salmo 100: Lembrem que o Senhor é Deus. Ele nos fez, e nós somos dele; somos o seu povo, o seu rebanho.
Seria possível que estes religiosos, os fariseus, tivessem lido Isaías e que a sua profecia estivesse se cumprindo ali, diante deles? Todos nós éramos como ovelhas que se haviam perdido; cada um de nós seguia o seu próprio caminho. Mas o Senhor castigou o seu servo; fez com que ele sofresse o castigo que nós merecíamos (Is 53.6). Se os fariseus entenderam este texto eu acredito que a parábola de Jesus tenha sido um duro golpe. Observem o contraste entre Jesus e os líderes religiosos. Havia um ditado que era o predileto entre eles: Há alegria perante Deus quando aqueles que me provocam perecem. E vem Jesus e dia exatamente o contrário: Hoje a salvação entrou nesta casa, pois este homem também é descendente de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar quem está perdido (Lc 19.9-10).
Neste contexto nós temos como analisar a parábola. Deus mesmo está nos falando por meio daquele pastor que havia encontrado a ovelha perdida. Alegrem-se comigo porque achei a minha ovelha perdida. Pois eu lhes digo que assim também vai haver mais alegria no céu por um pecador que se arrepende dos seus pecados do que por noventa e nove pessoas boas que não precisam se arrepender. (Lc 15.6-7). Deus é assim mesmo. É assim que ele trata as pessoas perdidas. É assim que ele trata as atitudes que nos levam a ficarmos perdidos.
A análise também vai nos dizer que esta parábola tem quatro atos, e que cada ato tem uma palavra chave.
Primeiramente a palavra perdida descreve a nossa condição. O que significa estar perdido? A resposta não é fácil, tanto para nós quanto para os fariseus. Eles tinham uma dificuldade enorme em se identificar com as ovelhas perdidas. Jamais pensaram sobre si mesmos nesta condição. Afinal de contas eles eram o rebanho de Deus, não eram? Eles eram as pessoas de boa fama. Eles eram os não-perdidos. E pensar que Jesus estava lhes dizendo que eles precisavam se identificar não com as noventa e nove, e sim com aquela perdida. Como fazer-lhes negar a condição que era mais óbvia?
E como é conosco? Não é mesma coisa? Claro que sim! Nós também somos o povo de Deus, não somos? Claro que sim! Eu tenho certeza de que Deus me salvou. Eu tenho a certeza de que o Espírito Santo habita em mim. Eu tenho a certeza de que sou do seu rebanho. Nós também somos as pessoas de boa fama. As noventa e nove de boa fama. Nós somos as noventa e nove não-perdidas. Então podemos nós sentir tudo o que um relacionamento íntimo com Deus pode nos fazer sentir? A verdade é que estamos perdidos simplesmente pelo fato de não sentirmos a plenitude do amor de Deus em nossas vidas. Estamos perdidos quando não experimentamos o perdão de Deus na sua completude. Estamos perdidos quando não aceitamos a presença dele em todos os aspectos da nossa vida. Alguns de nós estamos perdidos quando não aceitamos a direção do grande pastor em nossas vidas. Alguns de nós estamos perdidos quando queremos agir por nossa conta e fazer aquilo que é da nossa escolha. Ficamos perdidos também na multiplicidade de escolhas sem a indicação clara de para onde estamos indo. Estamos perdidos quando não temos noção alguma de que decisão tomar em cada oportunidade que nos aparece. Alguns de nós estamos perdidos no sentimento de não sermos amados, quando não nos sentimos especiais a ninguém, principalmente às pessoas que nos são mais significativas. Existem aqueles que estão perdidos no sentimento de ter fracassado. Estamos perdidos quando nos sentimos inaceitáveis por causa daquilo que temos feito ou daquilo que não temos feito. Todos nós nos sentimos perdidos na dor de relacionamentos quebrados, na família, na escola, no trabalho, na igreja, por palavras ásperas, por fingimentos ou por silêncio repelente. (continua)
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