Mesmo sabendo que a experiência de Moisés jamais será
repetida com igual intensidade, muito se tem para aprender com este texto. Em
primeiro lugar que a glória de Deus não é uma sensação para ser percebida por
aquele que a reflete, e sim pelas pessoas à volta de quem a reflete. A pessoa
que Deus escolhe para resplandecer os seu rosto não experimenta manifestações
extáticas e muito menos sensação de poder. Não há como saber quando e nem onde
somos escolhidos para que as pessoas vejam o nosso rosto refletindo o rosto de
Deus. Por isso é uma bênção que traz consigo o maior comprometimento e a mais
plena responsabilidade, pois temos que estar sempre conscientes de que Deus
pode nos usar para refletir o seu rosto de amor, justiça e verdade, bem como
estarmos atentos para reconhecê-la quando refletida em outro rosto qualquer.
Outro dado importante é sabermos que a medida exata do
resplandecer da glória de Deus está situada entre o espanto e o medo. É algo que
deixa perplexo qualquer e que vai fazer com que muitos desviem o olhar por medo
da sua grandiosidade.
Mas a bênção que encerra a oração é uma palavra das mais mal
usadas e mais mal interpretadas da nossa língua: a palavra paz: e dê a paz. A maioria de nós não faz
ideia da complexidade de conceitos que esta palavra de três letrinhas encerra,
pois a mantém relacionada estritamente à palavra guerra, como se paz fosse
apenas a ausência de guerra. Mas paz fala muito mais de salvação do que de
sossego ou tranquilidade. Não dá para enumerar a variedade de sentidos que o shalom hebraico quer transmitir, mas com
toda a certeza, aquilo que consideramos ser a verdadeira paz tem significado secundário
nesta língua, e, obviamente, nesta oração.
Para que se tenha uma noção básica do termo paz é preciso
recorrer a Paulo nas saudações que ela faz às igrejas que pastoreou, pois nela
está contida toda a Bênção Aarônica: graça e paz. A palavra graça, no Primeiro
Testamento, vem da expressão hebraica eleos,
que engloba toda a misericórdia e cuidado, muito embora Paulo tenha usado a
palavra grega charis, a qual se
refere muitas vezes como a gloriosa riqueza com que Deus dispensa a sua graça.
Tudo isso mostra que a saudação de Paulo tem profundas raízes na Bênção Aarônica.
Por isso Paulo a usa como abertura de quase todas as suas cartas.
Imaginem a razão pela qual o apóstolo dos gentios prefira se
dirigir ao povo que não conhecia as tradições hebraicas e muito menos a Bênção
Aarônica começando a conversa justamente com esta saudação. Imaginem agora a
alegria dos gentios ao saberem que estão debaixo da mesma bênção que foi
dispensada por Deus desde os primórdios do Plano de Salvação. Depois tentem imaginar
o quanto essa bênção pode anular doutrinas enganosas, o quanto pode ensinar
sobre petições erradas e como pode reverter pecados inconscientes se voltar a
ser proferida dominicalmente em nossos cultos.
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