Bom samaritano, Beom Ho |
Texto baseado em sermão do rev. Garrison.
Vez após vez, nós temos a tendência de nos equivocar em não ver o que é realmente para ser visto. Como é difícil, senão impossível, ver a realidade dessa vida como ela realmente se apresenta e não como gostaríamos que fosse. Eu acredito que vemos assim porque as coisas dessa vida não se encaixam na nossa ideia de como elas deveriam ser. Ratificando isso temos vários exemplos.
Vejam, por exemplo, a beleza. Esperamos ver a beleza no pôr do sol. Esperamos ver a beleza nos quadros de artistas famosos. Esperamos ver a beleza nos rostos de pessoas lindas. Esperamos ouvir a beleza no cântico dos pássaros. No Aleluia de Handel. Nós sabemos onde procurar a beleza. Porém, existe beleza nos lugares onde menos esperamos encontrá-la. Quando temos a mão cheia de areia da praia não vemos nada incomum, apenas areia. Mas um olhar mais atento vai nos mostrar que a areia é composta de cristais fantasticamente coloridos. Assim, percebemos que temos na mão uma beleza rara. Ou quando andamos em uma rua, uma rua qualquer em um dia chuvoso. Não percebemos nada de lindo, e não existe nada mesmo. Se tentarmos ouvir alguma coisa ouviremos as nossas passadas nas poças d’água. Mas há também o barulho dos pingos de chuva batendo nas folhas. Há um murmúrio das árvores. Há vozes alegres de crianças brincando na chuva. Que música abençoada!
O nosso problema é que somos colonizados pelas palavras. Alguém nos aponta para a janela e pergunta: o que é aquilo? Eu lhe respondo com outra pergunta: é o céu, não está vendo? Eu dou um nome à coisa. Eu ponho um rótulo na visão. Eu a reduzo a uma palavra que engloba todas as características de todos os céus e de tudo que esse céu tem em comum com todos os outros céus. Deste jeito eu deixo de fora tudo que lhe é singular. Fazendo isso eu a descarto, porque eu falhei em não ver o que está lá fora da janela. Eu falhei dando àquele céu apenas a minha concepção de céu, e céu passa a ser tão somente um som que a minha boca emite ou um desenho numa folha de papel. Mas o que está lá de verdade, acima de mim, não é o céu, porque não existe tal coisa. O céu não é o que eu vejo, porque o céu é uma plenitude que contém bilhões de bilhões de estrelas, de trilhões de trilhões de quilômetros de extensão. É a matéria prima, o mistério do universo todo. O que é aquilo? Eu repondo: é o céu!
Assim, existem outras coisas em nossa vida que repudiamos, porque elas não se encaixam na maneira como imaginamos que elas são. Por isso precisamos tanto dos poetas, dos artistas, das crianças e até dos loucos para nos mostrar os milagres que nós nunca percebemos nessa vida. Todos esses nos perturbam. Sua presença entre nós incomoda. Eles são místicos demais. Neuróticos demais. Por isso os descartamos, porque temos que viver a realidade dessa vida. Nós não vivemos nas nuvens dos poetas, no arco-íris dos artistas e nem nos delírios dos loucos, somos bem realistas e a realidade dessa vida é outra bem distinta. Quanto vai ser a inflação desse mês? A quantas andam os juros? Quem vai nos governar? Quando os políticos vão fazer aquilo para que foram eleitos? Esta é a realidade? Claro que é! Embora tais coisas sejam reais, a pergunta é: são elas tudo o que é real? Ou ainda: elas são o mais real de tudo?
Eles viram duas coisas
distintas: a necessidade do homem ferido e a necessidade que tinham de chegar
ao lugar para onde se dirigiam. Em que lugar nos encontramos nessa parábola?
Os ladrões da parábola do nosso texto assaltaram o homem que
ia de Jerusalém para Jericó, tiraram a sua roupa, bateram nele e o deixaram
semimorto. Por acaso outros homens estavam trilhando aquele mesmo caminho e não
estavam quase mortos. Podemos dizer que eles estavam quase vivos. Talvez porque
eles quando eles viram o homem deitado semimorto, eles viram somente isso: um
homem deitado à beira da estrada quase morto. Aparentemente não foi só isso que
o sacerdote e o levita viram. Eles viram o homem se esvaindo em sangue, mas
viram a estrada também, e nos olhos das suas mentes eles viram os alvos que
estavam seguindo.
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