O bom samaritano, autor não identificado |
Eu nunca gostei muito de ler a parábola do bom samaritano porque eu sei bem de que lado eu estou nela, e eu penso que vocês também saibam. Mas vamos ser condescendes hoje. Vamos ser humanos e admitir que o sacerdote e o levita tivessem que chegar ao seu destino com pressa. Eles teriam imaginado que alguém iria chegar logo em seguida e socorrer o ferido, como de fato aconteceu.
Vamos acreditar que eles não eram pessoas más. Vamos crer que eles eram pessoas sem coração, mais do que nós mesmos, e nós não somos não. Eles estavam apenas cegos, pelo menos tão cegos como nós estamos. Eles viram no caminho somente aquilo que esperamos ver quando encontramos com outro ser humano. Eles viram um outro homem, quer dizer, um ser distinto deles. Um homem que tinha os seus próprios problemas, exatamente como eles também tinham. Eles não estavam errados em pensar assim. Vocês têm os seus problemas, e eu tenho os meus. Eu tenho as minhas necessidades e elas são inconfundíveis. Numa situação de confronto eu tenho que decidir que necessidade eu vou atender: a sua ou a minha?
Enxergar assim é enxergar apenas parte do que deve ser enxergado. É ver apenas superficialmente a realidade. Ver isso é ver somente a parte que se espera ver. É como ter a mão cheia de areia e ver somente a areia. É olhar através da janela e dizer que viu apenas o céu. A realidade é bem maior do que isso. Quando andamos por essa natureza fantasticamente bela, quando vivemos a vida que Deus nos tem dado, cada pessoa é aquele homem semimorto deitado ao lado da estrada. Eu digo isso porque cada pessoa que nós encontramos, não importa como ela nos pareça, não importa o quanto ela fique surpresa em perceber que está quase morta em sua necessidade de nós. De uma maneira ou de outra, todo o ser humano está gritando de dor, está gemendo continuamente, porque está pagando um preço alto demais para fazer a sua necessidade ser reconhecida, ser aceita e ser atendida por nós e por todas as pessoas.
Quando olhamos aquela outra pessoa com necessidades tão distintas das nossas; aquela pessoa tão diferente de nós, de fato ela não está distante, porque ela nem pode ser um ser humano completo sem nós. Para ser vivo e não quase vivo ela carece de nossa ajuda. Mas existe aqui uma verdade mais profunda, uma realidade mais terrível. Para ser vivo e não apenas quase vivo como o mestre da lei que provocou Jesus ele precisa da nossa ajuda e da nossa misericórdia. Sua necessidade de receber ajuda e misericórdia se iguala a nossa necessidade de prestar ajuda e exercer misericórdia. E não é somente por ela que temos que socorrê-la, mas também por nossa própria causa. Nenhum de nós pode ser realmente vivo sem o outro. Todas as vezes que passamos ao largo e deixamos as pessoas à sua própria sorte todos sofremos por isso. Nós carecemos uns dos outros infinitamente. Carecemos uns dos outros muito mais do que enxergamos e muito mais do que admitimos ver.
Em nosso texto bíblico o terceiro homem finalmente apareceu. Ele olhou e viu não só um homem, um homem qualquer, mas viu um homem à beira da morte: Quando viu o homem, ficou com muita pena dele. Então chegou perto dele, limpou os seus ferimentos com azeite e vinho e em seguida os enfaixou. Depois disso, o samaritano colocou-o no seu próprio animal e o levou para uma pensão, onde cuidou dele. Ele levou a fama eterna de o bom samaritano. É um título que não acho adequado. Eu prefiro pensar que o oposto não cabe aqui. Eu quero dizer que o sacerdote e o levita não eram maus, assim como o samaritano não era meramente bom. Ele era extremamente bom. Eu prefiro pensar que a diferença entre o samaritano e os outros dois era mais do que uma simples questão de sensibilidade. O samaritano tinha algo diferente. Ele tinha algo que os outros não tinham. Ele tinha o olho de um profeta. O olho de um santo. Um olho que podia ver naquele homem deitado à beira do caminho algo mais. Um olho que podia ver a provisão extraordinária do amor de Deus.
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