O terceiro homem III

O bom samaritano, Svetoslav Roerich
O samaritano e o homem ferido não eram pessoas separadas em suas individualidades. A vida de um corria em direção à vida do outro. Deus nos criou assim, de modo que as nossas vidas fluam umas das outras, incessantemente, como as são as ondas do mar. Se não há paz, gozo e liberdade para você, se não há paz, gozo e liberdade para quem quer que seja ou se encontre, então não poderá haver paz, gozo e liberdade para mim.

Precisamos enxergar a realidade dessa vida não como queremos que ela seja, ou com os olhos que só nos permitam ver o que esperamos que seja visto. Para ver a realidade dessa vida como ela realmente se apresenta temos que ter a consciência de que não vivemos para nós mesmos e sim para os outros. Se não vivemos uns para os outros, então não vivemos de fato. Só pode haver vida no amor. Mas este não é o jeito como o mundo é. Sabemos bem como o mundo funciona. A pregação cristã parece mais uma coisa de outro mundo, totalmente distante da realidade e que só serve para nos trazer uma ilusão de paz e segurança. Parece que pregamos fantasia, porque a realidade da vida é outra coisa bem diferente.

“Olho por olho”, “cada um por si”, “salve-se quem puder”, “meu pirão primeiro” são as regras vigentes nesse mundo que não comporta um ser diferente, assim como o bom samaritano. Somente nas parábolas pode existir alguém deste jeito. Apesar de todas essas evidência os cristãos têm por vezes insistido em enxergar o mundo como um mal a ser extirpado cirurgicamente, de modo a não afetá-lo na sua clausura.

O problema se dá porque Deus criou a todos nós para sermos diferentes do que aquilo que o mundo se empenha ao máximo para que sejamos. Ele nos criou para cuidarmos uns dos outros, para socorrermos uns aos outros, para limpar as feridas uns dos outros, dando e recebendo misericórdia. Se olharmos de verdade as nossas próprias vidas e não esperando ver aquilo que desejamos que elas sejam, jamais poderemos deixar de ver o outro.

Como somos cegos, não é mesmo? Parece que esticamos as experiências da nossa infância, até os dias de hoje, para continuarmos vendo o mundo com olhos ingênuos, que esperam que as coisas se mudem por si mesmas. Vivemos a vida que desde de crianças gostaríamos que ela fosse, ou pelo menos na expectativa de que ela assim se torne, mesmo sabendo no mais íntimo recanto do nosso coração que o mundo não deveria ser assim.

Poderíamos ter nascido para viver as nossas vidas cada um para si. Poderíamos ter sidos criados pelo Deus eterno para vivermos em interesse próprio. Poderíamos ser criados para vivermos tirando vantagens dos outros. Poderíamos ter nascido para vivermos em solidão e completo isolamento. Poderíamos ter sidos criados à imagem de um mundo individualista e inconsequente. Como eu gostaria que fosse assim! Como nós gostaríamos que fosse assim! Mas não é não. Deus nos criou para caminharmos na contramão dessa história, e para sermos como o terceiro homem que fez toda a diferença. Vamos dar graças a Deus porque ele nos criou para sermos diferentes.

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