O que é MAU-OLHADO?

Verde de inveja, John Alex Deane
Efeito pernicioso atribuído ao olhar de certas pessoas. Julga-se que po­dem provocar toda sorte de desgraças com o simples fato de mirarem alguém ou alguma coisa. Observações como a de Boaventura Kloppenburg, para quem o mau-olhado é uma imaginação baseada num mentalismo fantasioso, constituem, na opinião de muitos, a avaliação esclarecida. Mas é preciso esclarecer um pouco mais.

A pesquisa parapsicológica há muito estabeleceu que certas pessoas têm a capacidade misteriosa de provocar efeitos estranhos, tais como mumificar um pedaço de carne, secar uma planta, matar um animal de pequeno porte. Quando fenômenos como os que citamos são produzidos por maldade, dá-se-lhes também a designação de mau-olhado, de maneira que o termo já não se refere apenas a fantasias supersticiosas.

Há muito sofrimento por causa da fama do indivíduo chamado olho-de-seca-pimenteira ou olho-de-matar-pinto (as duas palavras usadas para denotar o indivíduo que produz o mau-olhado e que exemplificam os dois possíveis maus efeitos dessa capacidade: pode secar plantas e matar animais de pequeno porte). A descrição que Luís da Câmara Cascudo faz da crença do mau-olhado em seu Dicionário do folclore brasileiro dá uma ideia do sofrimento que ela pode produzir: força irradiante e malévola, mata devagar; árvores, flores, animais, homens (adultos e jovens), crianças (crianças são as vítimas preferidas). Por isso é importante esclarecer que aquela capacidade estranha antes referida e que também recebe a designação de mau-olhado no caso que indicado, pode matar uma violeta ou mumificar um gato.

Afirma-se que o mau-olhado faz coisas muito piores do que murchar samambaias ou dessecar passarinhos: mata crianças, jovens, adultos, etc. Mas a verdade é outra: o que pode fazer mal aos seres humanos é o medo, um dos grandes aliados dos feiticeiros. Quando os adeptos do vodu ensinam a uma criança que ela morrerá caso um feiticeiro transfixe um boneco que a represente, a criaturinha pode morrer, mas por causa do pavor, não em consequência da transfixação do boneco.

A noção de que o medo pode causar toda espécie de males, inclusive a morte, é antiga. Em Jó 3.25 temos esta palavra: "Aquilo que temo me sobrevêm, e o que receio me acontece". O controvertido médico Paracelso (século XVI) já ensinava: Quem teme um grande mal, inconscientemente e em linha reta vai ao encontro dele. E o seu contemporâneo Jerônimo Cardano, também médico, ensinava que o medo é mais letal dos sentimentos. Sabe-se agora, que a emoção do medo pode gerar fenômenos parapsicológicos assustadores que, por sua vez, intensificam o medo. O livro Fronteiras do desconhecido (ed. de Seleções do Reader's Digest. 1983) afirma que na Bíblia há referências ao poder do mau-olhado. Cita Provérbios 23.6-8. "na versão do rei Jaime': "Não comas o pão daquele que tem um mau olhado (...]. O bocado que comeste deves vomitar”. Com esse método de argumentar, poder-se-ia provar até que Cristo ensinou o poder do mau-olhado. Lá está o ophtalmos poneros (= olho mau) na parábola dos trabalhadores na vinha, quando o proprietário pergunta: ”É mau o teu olho porque eu sou bom?" (Mateus 20.15). E poderia provar-se ainda, com aquele método de argumentar, que Cristo indica a procedência do mau-olhado, a saber, o coração. Já que o "olho mau" aparece no conhecido catálogo de males' de Marcos 7.22, só que, nesse texto, felizmente. Almeida RA traduz o ophtalmos poneros (olho mau) como inveja. No texto de Provérbios, citado em Fronteiras do desconhecido, o mau de olho (trad. literal) quer dizer invejoso, avaro.

Os eruditos da famosa Versão autorizada de 1611 sabiam disso tão bem quanto os eruditos que os precederam. Por exemplo Jerônimo, que sinonimiza homo invidus (ho­mem invejoso) e ocuhs malus (olho mau). Ou Lutero, que traduz olho mau como invejoso). E o evil eye (olho mau) dos sábios do rei Jaime não tem nada a ver com o sentido em que se usa a expressão inglesa hoje.

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