A Prática Homilética de John Wesley

Wesley pregando no túmulo do seu pai
Texto do rev. Luiz Carlos Ramos.

A fama do pregador John Wesley
Conta-se que Wesley, depois de ter pregado em Peasholm Greem no domingo, foi até a sede da paróquia. O pároco, notando pelas vestes de Wesley, que se tratava de um clérigo, mesmo sem conhecê-lo, ofereceu-lhe o púlpito. Depois do culto, o padre perguntou ao ecônomo/zelador quem era aquele pregador. “Senhor”, disse o ecônomo, “esse é o vagabundo Wesley, a respeito de quem o senhor nos advertira.” “Ah, é… de fato!” disse o perturbado reitor, “fomos trapaceados; mas deixa pra lá, pelo menos tivemos um bom sermão”.

Em geral, Wesley tem a fama de ter sido um grande pregador, mas é difícil chegar a essa conclusão objetivamente somente com base nos relatos de seus contemporâneos. Não faltam empolgados elogios que fazem de John Wesley uma nova versão do Apóstolo João, nem críticos severos que dizem que Wesley fazia um papel ridículo, com sua pequena estatura e voz esganiçada… É natural que não possamos esperar críticas dos admiradores nem elogios dos opositores, e é compreensível que tenha havido não poucos exageros tanto da parte de uns como de outros.

Critérios para análise
É necessário, portanto, que se estabeleçam alguns critérios mais isentos para que se possa formar uma ideia mais apropriada a respeito do pregador Rev. John Wesley. Uma iniciativa nesse sentido foi feita pelo historiador Richard. P. Heitzenrater, em seu ensaio “Princípios e Práticas da Pregação de John Wesley”, publicado em 1977, nas Lectures on Severl Occasions, número 1, do Centro de Estudos Metodistas da Biblioteca Bridwell. Nesse ensaio, Heitzenrater se propôs a analisar a prática de Wesley submetendo-a aos critérios que o próprio Wesley havia estabelecido para avaliar os pregadores metodistas que estavam sob sua liderança. A conclusão de Heitzenrater foi a de que nem sempre Wesley correspondeu às suas próprias expectativas, e nem sempre cumpriu à risca suas próprias recomendações e determinações.

Proposta de abordagem
No presente artigo, procuraremos fazer algo semelhante: compararemos a prática de Wesley à luz dos seus princípios homiléticos. Para isso, levantaremos as mesmas questões propostas por Heitzenrater: No entendimento e na prática de Wesley, quem deve pregar, onde e para quem, quando por quanto tempo e com que frequência, bem como o que e como pregar? Acrescentaremos, entretanto, algumas considerações a respeito das possíveis aproximações da prática homilética de Wesley com os desafios próprios da América Latina dos nossos dias.

Princípios de Wesley
Comecemos relembrando quais foram as principais regras estabelecidas por Wesley quanto à tarefa homilética de seus pastores/pregadores.

Regras para a pregação (Minutes, 1747, 48):
1. Faça tudo para começar e terminar na hora determinada.
2. […].
3. Esforce-se para ser sério, ponderado e solene em todo o procedimento diante da congregação.
4. Escolha os textos mais simples possíveis.
5. Tome cuidado para não se deixar desviar do seu texto, mas mantenha-se sempre dentro dele, e realize o que planejou.
6. Sempre escolha um assunto apropriado para a sua audiência.
7. Tenha cuidado para não usar muita alegoria ou espiritualizar demais.
8. Evite gestos ou modo de falar rebuscados ou inadequados.
9. Falem uns com os outros se observarem alguma coisa desse tipo.

Exame dos Pregadores (Minutes, 1746, 30-31):
1. Eles sabem em quem têm crido? Eles têm o amor de Deus em seus corações? Eles desejam e buscam somente a Deus? Eles são santos em todo o seu comportamento?
2. Eles têm dons (e também a graça) para o trabalho? Eles têm (em um grau tolerável) uma compreensão clara e profunda? Eles têm o julgamento correto das coisas de Deus? Eles têm a concepção justa da salvação pela fé? Deus lhes deu o dom da elocução? Eles falam justa, fácil e claramente?
3. Eles têm frutos? Quando falam, geralmente têm sido só para converter ou influenciar seus ouvintes? Ou eles têm obtido a remissão dos pecados mediante suas pregações? E também uma sensação clara e duradoura do amor de Deus?

Tendo estas três marcas, ocorrido inegavelmente em qualquer um deles, reconhecemos que ele foi chamado por Deus para pregar. Nós as aceitamos como evidências, razoavelmente suficientes, de que ele é movido pelo Espírito Santo.

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