Primeiros e últimos I

Trabalhadores da última hora, Rembrandt.
Então disse: “Vão vocês também trabalhar na minha plantação de uvas, e eu pagarei o que for justo.”  Leia Mateus 20.1-16

Texto baseado em sermão do rev. Garrison.

As histórias de Deus nas Escrituras muitas vezes são espetaculares e algumas são até escandalosas. São histórias de adultério, de traição, de conflitos em família, rivalidade, inveja. Elas são histórias de reis furiosos, administradores fraudulentos, de gente trabalhadora, de investidores extorquindo. Elas são histórias de impostos, de guerra, casamentos de vida e morte. Além de serem seculares e desconcertantes, as parábolas de Jesus são cômicas e são um meio de graça.

As pessoas que tentam negociar com Deus, aqueles que exigem favores especiais, aqueles que se julgam merecedores do amor e da misericórdia dele por meios dos seus esforços e por suas boas obras, eles simplesmente ficam frustrados e caem no ridículo. Os primeiros trabalhadores dessa parábola, que tinham trabalhado o dia inteiro ficaram pasmados e perturbados, e nós também. Já os trabalhadores da última hora, que não tinham direito algum à misericórdia e ao amor, eles ficaram extasiados em recebê-los. Essa é a matemática de Deus. É assim que Deus age.

Mas é bom que observemos o contexto em que ela foi contada. No capítulo anterior, Simão Pedro vem a Jesus com a seguinte pergunta: Nós deixamos tudo e seguimos o senhor. O que é que nós vamos ganhar? Boa pergunta! Pedro estava preocupado com a recompensa que os discípulos iriam receber por terem andado com Jesus desde o início. Certamente Jesus iria tratá-los de modo especial, não é? Certamente Jesus tinha guardado bênçãos especiais para os seus amados, não acham? E qual foi a resposta de Jesus? Nós a encontramos nessa parábola, que é o nosso texto de hoje. Jesus disse que ia fazer justamente o oposto do que Simão Pedro estava esperando. Ele pagaria aos discípulos a mesma quantia que ele iria pagar aos que chegassem ao Reino nos acréscimos da prorrogação, que chegassem na última hora. Esse é o ensinamento da parábola.

É importante notar que o dono da vinha contratou trabalhadores sem se preocupar com a hora, e em três grupos distintos. Primeiramente, aqueles que chegaram cedo, com quem ele negociou uma quantia. Eles tinham uma vantagem enorme para negociar com o patrão. Uma vantagem que os seus companheiros tardios não possuíam. Um moeda de prata era um pagamento mais do que justo por um dia inteiro de trabalho, e ainda é nos dias de hoje. O segundo grupo é composto por aqueles que entraram às nove, ao meio-dia e às três horas da tarde. Esses não tinham poder de barganha, e o dono não lhes ofereceu um salário. Apenas disse que pagaria o que fosse justo, e eles foram trabalhar confiados nessa promessa. O terceiro grupo é composto por aqueles que pegaram no trabalho às cinco horas da tarde. A esses o patrão não fez qualquer promessa de recompensa, em vez disso lhes deu uma ordem. Isso reflete a necessidade real do grupo, pois foram trabalhar mesmo que recebessem uma quantia irrisória.

É na hora do pagamento que conhecemos o desfecho da história. O patrão começou o pagamento pelos que chegaram mais tarde. Uma atitude inusitada e provocativa, pois se ele tivesse pago aos primeiros, eles iriam para casa satisfeitos da vida, com a sua moeda de prata no bolso e sem tomar conhecimento do salários dos outros. São sempre os outros que nos atrapalham, não é? Mas o dono da vinha fez questão de subverter toda e qualquer ordem. Ele teve a coragem de pagar para esse grupo o salário integral. Imaginem agora a generosidade desse patrão e a felicidade dos trabalhadores da última hora.

Tamanha generosidade despertou uma enorme expectativa nos outros, principalmente naqueles que chegaram primeiro. Eles tinham a certeza de que um patrão tão mão-aberta pagaria, não o salário de um dia, mas o de doze dias. Mas quando receberam apenas o salário de um dia ficaram indignados, e fulos de raiva foram reivindicar justiça ao patrão. Nada mais do que justo, não acham?


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