A pérola preciosa, Domenico Fetti |
As metáforas das parábolas nos comunicam duas coisas: aquilo
que Jesus Cristo é por nós, e aquilo que nós somos por ele. É o seguinte: você
e eu somos primordiais na estratégia de Deus para o seu Reino. A soberania de
Deus tem que começar dentro de nós. A soberania de Deus tem que residir entre
nós. Isso é uma questão de tempo, porque vai chegar o dia em que todo joelho
vai dobrar e toda língua vai confessar seu senhorio. Não será pela força, mas espontânea
vontade.
O Reino do Céu tem que entrar em nós antes de nós podermos
entrar nele. Não estou inventando qualquer novidade. Isso é o básico do
evangelho. Foi exatamente isso que Jesus queria que seus discípulos
entendessem: o Reino de Deus tem que entrar em nós antes de podermos entrar
nele. Uma vez que os discípulos entendessem que eles eram amados por Deus, não
por merecimento, não porque eles eram bons, mas pelo contrário. Apesar de não
merecerem, eles eram amados por Deus. E uma vez que eles reconhecessem que eles
eram valorizados por Deus e que valiam até o preço que foi pago na cruz, os
discípulos dariam tudo para possuir o tesouro do Reino. Aqui está a motivação.
O evangelho sempre foi apresentado para nós como aquilo que
nós temos que pagar para conseguir a graça de Deus. O que nós temos que fazer
para agradar a Deus. O que nós temos que fazer para sermos salvos. Mas a
verdade é o inverso. O que Deus tem feito por nós é a única motivação adequada
para aquilo que estamos para fazer e para aquilo que estamos para ser. Vocês
poderiam me perguntar: mas Jesus não
falou que era para buscarmos primeiro o Reino de Deus? Então é a gente que
busca. Está certo. Temos que buscar primeiro o Reino, mas isso só se dará
depois que reconhecermos que foi ele quem nos buscou primeiro. Podemos buscar o
Reino somente depois que reconhecermos que foi ele quem nos encontrou. Que ele
nos ama com aceitação e perdão que não têm limites. Uma vez compreendermos
essas coisas, assim entraremos no Reino de Deus. Aqui está a essência das
parábolas do tesouro escondido e da pérola preciosa: amor respondendo ao amor.
Jesus disse em Lc 17.21: O
Reino de Deus está dentro de vocês. Realmente quando ele é soberano em nossos
corações nos podemos orar dizendo: Venha
o teu Reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Isto
significa que a vontade de Deus tornará melhor a paixão dominante das nossas
vidas. Tornará melhor o propósito supremo de tudo que somos. Todas as outras
paixões, e até as mais nobres ambições devem ficar em segundo plano. As pérolas
menos valiosas que possuímos, tais como os nossos planos, nosso prestígio,
nossos prazeres, nossas prioridades tem que ceder lugar à pérola de valor
inestimável. Quer dizer que o Reino e o governo absoluto de Deus dominam sobre
todos os nossos relacionamentos em todas as nossas responsabilidades.
A grande carência do mundo no nosso tempo é a negligência
dos cristãos em viverem as implicações do Reino de Deus. É por isso que eu não
entendo certas posições de alguns teólogos da Teologia da Libertação. Mas eu
penso que Deus tem os usado para nos alertar. Porque as implicações do Reino de
Deus em nossa sociedade exige estudo, exige oração, exige imaginação, exige
comprometimento. Já pensaram como seriam as nossas vidas se elas fossem plenas
do Reino de Deus e motivadas pelo seu amor? Assim ele nos revelará aquilo que
estamos para fazer e estamos para ser com o seu amor para com os outros. As
necessidades da nossa sociedade que quebram o coração de Deus têm que quebrar
também os nossos corações.
Trinta milhões de crianças abandonadas com oito ou nove anos
de idade em nosso país, crianças dormindo nas ruas ou fugindo das guerras com
menos idade ainda, vocês acham que isso não quebra o coração de Deus? Não deveria
quebrar o nosso também? Ao alinharmos a nossa vontade com a vontade de Deus,
nossa inatividade ante as injustiças desse mundo vai nos incomodar. Por que é
que tantos de nós que temos Cristo como nosso Salvador, hesitamos em tê-lo como
Senhor de nossas vidas? Por que isso? A resposta nos foi dada em Lc 7.47: a pessoa a quem se perdoa pouco, mostra
pouco amor. O amor nos torna aptos para amar. Nós temos que descobrir o
quanto significamos para Deus, para depois conhecer aquilo que ele quer que
sejamos para o mundo. Quando reconhecermos que somos nós mesmos o tesouro pelo
qual Jesus deu tudo que tinha, até a própria vida, estaremos prontos para fazer
a sua vontade, custe o que custar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário