O tesouro é você III

A pérola preciosa, Domenico Fetti
As metáforas das parábolas nos comunicam duas coisas: aquilo que Jesus Cristo é por nós, e aquilo que nós somos por ele. É o seguinte: você e eu somos primordiais na estratégia de Deus para o seu Reino. A soberania de Deus tem que começar dentro de nós. A soberania de Deus tem que residir entre nós. Isso é uma questão de tempo, porque vai chegar o dia em que todo joelho vai dobrar e toda língua vai confessar seu senhorio. Não será pela força, mas espontânea vontade.

O Reino do Céu tem que entrar em nós antes de nós podermos entrar nele. Não estou inventando qualquer novidade. Isso é o básico do evangelho. Foi exatamente isso que Jesus queria que seus discípulos entendessem: o Reino de Deus tem que entrar em nós antes de podermos entrar nele. Uma vez que os discípulos entendessem que eles eram amados por Deus, não por merecimento, não porque eles eram bons, mas pelo contrário. Apesar de não merecerem, eles eram amados por Deus. E uma vez que eles reconhecessem que eles eram valorizados por Deus e que valiam até o preço que foi pago na cruz, os discípulos dariam tudo para possuir o tesouro do Reino. Aqui está a motivação.

O evangelho sempre foi apresentado para nós como aquilo que nós temos que pagar para conseguir a graça de Deus. O que nós temos que fazer para agradar a Deus. O que nós temos que fazer para sermos salvos. Mas a verdade é o inverso. O que Deus tem feito por nós é a única motivação adequada para aquilo que estamos para fazer e para aquilo que estamos para ser. Vocês poderiam me perguntar: mas Jesus não falou que era para buscarmos primeiro o Reino de Deus? Então é a gente que busca. Está certo. Temos que buscar primeiro o Reino, mas isso só se dará depois que reconhecermos que foi ele quem nos buscou primeiro. Podemos buscar o Reino somente depois que reconhecermos que foi ele quem nos encontrou. Que ele nos ama com aceitação e perdão que não têm limites. Uma vez compreendermos essas coisas, assim entraremos no Reino de Deus. Aqui está a essência das parábolas do tesouro escondido e da pérola preciosa: amor respondendo ao amor.

Jesus disse em Lc 17.21: O Reino de Deus está dentro de vocês. Realmente quando ele é soberano em nossos corações nos podemos orar dizendo: Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Isto significa que a vontade de Deus tornará melhor a paixão dominante das nossas vidas. Tornará melhor o propósito supremo de tudo que somos. Todas as outras paixões, e até as mais nobres ambições devem ficar em segundo plano. As pérolas menos valiosas que possuímos, tais como os nossos planos, nosso prestígio, nossos prazeres, nossas prioridades tem que ceder lugar à pérola de valor inestimável. Quer dizer que o Reino e o governo absoluto de Deus dominam sobre todos os nossos relacionamentos em todas as nossas responsabilidades.

A grande carência do mundo no nosso tempo é a negligência dos cristãos em viverem as implicações do Reino de Deus. É por isso que eu não entendo certas posições de alguns teólogos da Teologia da Libertação. Mas eu penso que Deus tem os usado para nos alertar. Porque as implicações do Reino de Deus em nossa sociedade exige estudo, exige oração, exige imaginação, exige comprometimento. Já pensaram como seriam as nossas vidas se elas fossem plenas do Reino de Deus e motivadas pelo seu amor? Assim ele nos revelará aquilo que estamos para fazer e estamos para ser com o seu amor para com os outros. As necessidades da nossa sociedade que quebram o coração de Deus têm que quebrar também os nossos corações.

Trinta milhões de crianças abandonadas com oito ou nove anos de idade em nosso país, crianças dormindo nas ruas ou fugindo das guerras com menos idade ainda, vocês acham que isso não quebra o coração de Deus? Não deveria quebrar o nosso também? Ao alinharmos a nossa vontade com a vontade de Deus, nossa inatividade ante as injustiças desse mundo vai nos incomodar. Por que é que tantos de nós que temos Cristo como nosso Salvador, hesitamos em tê-lo como Senhor de nossas vidas? Por que isso? A resposta nos foi dada em Lc 7.47: a pessoa a quem se perdoa pouco, mostra pouco amor. O amor nos torna aptos para amar. Nós temos que descobrir o quanto significamos para Deus, para depois conhecer aquilo que ele quer que sejamos para o mundo. Quando reconhecermos que somos nós mesmos o tesouro pelo qual Jesus deu tudo que tinha, até a própria vida, estaremos prontos para fazer a sua vontade, custe o que custar.

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