O tesouro é você II

O tesouro escondido, Rembrandt
Vamos rever as duas parábolas, mas agora de um ângulo diferente. Se me permitirem, eu gostaria de tentar mostrar uma outra interpretação. A princípio fica bastante claro o que Jesus quer dizer, mas eu penso que existe um sentido bem mais sutil. As parábolas nos falam do propósito de Jesus na cruz e do propósito que ele espera de nós.

Aqui, tanto o homem do campo quanto o comprador de pérolas não somos nós, como sempre temos pensado, mas Deus. Com essas parábolas Deus está nos dizendo: você é tudo para mim. Você é o tesouro. Você é a pérola de valor inestimável. Eu encontrei você, e agora nenhum preço é caro demais. E a hora em que as nossas mentes têm que se voltar para a cruz do calvário, porque ali custamos justamente isso: tudo. O sofrimento, a humilhação, a degradação e a agonia daquela cruz foi o preço que ele pagou por você e por mim. Com esse pensamento em mente o autor da Carta aos Hebreus escreveu: Hb 12.2 - Conservemos os nossos olhos fixos em Jesus, pois é por meio dele que a nossa fé começa, e é ele quem a aperfeiçoa. Ele não deixou que a cruz fizesse com que ele desistisse. Pelo contrário, por causa da alegria que lhe foi prometida, ele não se importou com a humilhação de morrer na cruz e agora está sentado do lado direito do trono de Deus. É assim que Deus nos ama. Ele encarnou por nós, Ele viveu por nós. Ele morreu por nós. Ele foi ressuscitado por nós. E é assim que estas parábolas tão conhecidas por nós brilham com nova intensidade. 

Vejam a pérola. Pérolas são o resultado de invasão, injúria e ferimento. Elas são produtos de organismos vivos. Um grão de areia entra ostra e a fere. Assim as ostras cobrem o elemento estranho que a está ferindo com madrepérola. Camada em cima de camada até a pérola estar formada. O ferimento se torna a fonte do objeto precioso. A palavra pérola foi usada apenas uma vez no Primeiro Testamento, no livro de Jó. Jó 28.18 – a aquisição da sabedoria é melhor do que a da pérola. O termo pérola não era tão significativo para o povo de Israel. Eles não moravam perto do mar, eles não conheciam o seu valor e não se utilizavam dele em comparações. Então por que Jesus o usou aqui para falar do Reino de Deus? Foi por acaso? Eu não acho.

Pensem na transformação de uma pérola. O Reino de Deus não poderia se iniciar sem a ferida terrível do Calvário. Jesus sabia o que lhe estava reservado. Seus diálogos com os discípulos mostram que ele sabia que ia para Jerusalém para morrer e ressuscitar, mas eles não aceitaram isso de modo algum. Foi por causa dessa não aceitação que ele chamou Pedro de Satanás. O profeta Isaías já havia profetizado essa tragédia: No entanto, era o nosso sofrimento que ele estava carregando, era a nossa dor que ele estava suportando. E nós pensávamos que era por causa das suas próprias culpas que Deus o estava castigando, que Deus o estava maltratando e ferindo.

Foi por causa destes ferimentos que o mundo seria salvo. Ele jamais seria salvo sem o que aconteceu lá. Somente o poder do amor pode nos fazer reconhecer o quanto significamos para Deus. Mas é tão difícil para nós aceitarmos. Nossa auto-depreciação nos limita. Os modelos do mundo nos deixam com uma imagem própria bastante negativa. As frustrações que sofremos durante a nossa existência nos deixam com a autoestima baixa. Com toda essa carga em cima de nós, quem pode crer em si mesmo? Quem pode aceitar o amor que Deus nos oferece em Jesus Cristo? Essa é a questão da nossa vida. Nunca valeremos o que foi pago na encarnação. Nunca mereceremos um dom dessa natureza. Mas Deus conhece bem as feridas que temos experimentado a vida toda. E é a partir dessas feridas que ele quer criar uma pérola em você e em mim. (continua)

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