O dom que vem da cruz

Subiste às alturas, levaste cativo o cativeiro; recebeste homens por dádivas, até mesmo rebeldes, para que o SENHOR Deus habite no meio deles. Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo! Deus é a nossa salvação. Salmo 68 18-19
Comércio de escravos, Cléssio Réris

Nesse salmo atribuído a Davi Paulo faz uma interpretação tão importante quanto pertinente sobre as consequências da Páscoa. Para tanto, ele não se apega, como os evangelistas o fizeram, à análise dos elementos históricos e muito menos aos relatos testemunhais daqueles que conviveram com Jesus antes, no seu ministério terreno, ou depois, na sua ressurreição. Paulo fala do resultado prático e mais imediato dessa ressurreição: levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens.

Em primeiro lugar, o texto do salmo fala de uma grande libertação, o que era o sonho mais almejado de todo Israel, e que finalmente foi levada a cabo por Jesus no Calvário. Levar cativo o próprio cativeiro significa que na cruz fica abolida qualquer forma de escravidão. Não se trata aqui de aspectos ou de modos de escravidão, pois foi o próprio princípio da opressão que Jesus atacou e extinguiu. Não se tratou das libertações experimentadas pelo povo, quando livre dos babilônicos se viu sob a opressão de Ciro. Ou mesmo da falsa liberdade de opressões leves ou subliminares, mas sim de toda a forma de opressão.

O salmista também faz uma projeção de uma das promessas mais confortadoras de Jesus: vinde a mim vós que estais cansados e sobre carregados, que eu vos aliviarei. Um dos progressos que a mente humana obteve quanto à personalidade de Deus é ideia de que Deus não apenas luta as batalhas ao nosso lado, mas que na grande maioria das vezes luta por nós as nossas batalhas. O salmista, mesmo que não possuísse esta clarividência teológica, falando da sua experiência pessoal mais elementar, deixa registrado: Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo!

É justamente a partir dessa libertação da opressão e de encargos que Paulo vai falar de um momento muito especial da igreja: a distribuição dos dons, que a despeito da tradução equivocada de I Co 12, não são de forma alguma exclusivamente espirituais. Muito pelo contrário, são dons de toda a sorte e natureza, e que vão servir a todos os aspectos da vida, pois também não são dons exclusivos da igreja. Eles estão disponíveis a todos os homens e mulheres que experimentam a liberdade plena, porque somente de posse dessa liberdade podem desenvolver plenamente os seus dons.

Porém, apesar dessa pluralidade, esses dons prestam à igreja em um serviço muito particular. Eles servem para que “não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”.

Uma vez que eu tomo conhecimento de que o pastor que está no púlpito, diz o que diz, porque um dom gratuito lhe foi concedido; uma vez que eu sei que a bela voz ou que a música inspiradora de um cantor também é um dom que lhe foi concedido de graça e por graça; uma vez que tomo conhecimento de que a oração restabeleceu a doença ou a ordem é apenas e tão somente uma resposta do amor de Deus, todos os ídolos que a minha mente tem projetado caem por terra. Eles assumem as suas verdadeiras faces, As faces que deveriam sempre fazer questão de apresentar: a face de um pecador que foi liberto da escravidão do pecado pela morte e ressurreição de Cristo, e que ainda, sem qualquer merecimento ou valor, recebeu gratuitamente um dom para desenvolvê-lo exclusivamente em favor do Reino de Deus, com vistas à salvação do mundo.

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