Morte e vida

Severina, autor não identificado

Meditação baseada em sermão do rev. Garrison.

Sim, lembre-se dele, antes que se rompa o cordão de prata, ou se quebre a taça de ouro; antes que o cântaro se despedace junto à fonte, a roda se quebre junto ao poço, o pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu. "Tudo sem sentido! Sem sentido! ", diz o mestre. "Nada faz sentido! Nada faz sentido! " Eclesiastes 12.6-8

A lei natural do terra à terra, cinza à cinza, pó ao pó não pode explicar a situação humana. Tem que haver algo além disso, e esse algo além existe, só não aparece na natureza. Existe uma outra ordem não visível sob a qual a humanidade fica refém: a culpa do ser humano e o julgamento de Deus.

A humanidade toda está sujeita à lei natural. É claro que somos terra à terra, cinza à cinza, pó ao pó. Isso serve para nos lembrarmos de que não somos deuses ou que não somos como Deus. Primeiramente, nós temos que morrer porque nós somos pó. Assim estamos submetidos, como estão todos os demais seres vivos. Mas em segundo lugar, nós temos que morrer porque somos culpados. Essa é a lei moral. É uma lei sob a qual apenas os humanos estão sujeitos, o que já não acontece com os dos demais seres vivos.

Ambas as leis são igualmente verdadeiras e ambas estão declaradas na Bíblia. Mas mesmo assim, nunca achamos que a morte é uma coisa normal ou natural. Nós achamos que a morte é contrária às leis da natureza. Nós achamos que a morte é terrível, e a prova disso é que existe dentro de nós uma compulsão que se rebela contra a morte sempre e onde quer que ela apareça. Ficamos extremamente revoltados com a morte de uma criança, pior ainda de um bebê. Rebelamos-nos contra a morte de um jovem. Sentimos a profunda tragédia da morte de uma pessoa de idade, com toda a sua sabedoria, experiência e personalidade insubstituível. Rebelamos-nos contra o nosso próprio fim, porque o nosso fim é tão indefinido quanto inevitável.

Nós não nos revoltaríamos contra a morte se a julgássemos natural, como as folhas que caem de uma árvore. Isso nós aceitamos naturalmente, mas não aceitamos a morte de ninguém. É complicado falar desse assunto, porque nunca aceitamos que a morte realmente existe. É tão difícil enfrentar isso, que fazemos tudo para deixar a realidade da morte para depois. Mas, a despeito de tudo isso, a nossa rebeldia é inútil. Tornamos-nos conformados, porque afinal de contas, o que vamos fazer? E entre a nossa rebelião e a nossa resignação vivemos uma vida oscilante, mas sempre contrários à ideia da naturalidade da morte. 

A morte também é o resultado do julgamento de Deus. Isso nos choca profunda e intimamente. Por isso é tão difícil entender o que João escreveu em 3.36 do seu evangelho: Por isso quem crê no Filho tem a vida eterna; porém quem desobedece ao Filho nunca terá a vida eterna, mas sofrerá para sempre o castigo de Deus. O castigo de Deus, nas versões mais antigas, é traduzido como “a ira de Deus”. Mas ambas as traduções são intrincadas. Como pode ter Deus amor e misericórdia de todo ser humano se a sua ira está sempre pronta para castigar quem não obedece ao seu filho? Como sentimos isso? 

Eu penso que o significado dessa ira de Deus é uma reação inevitável. É uma reação irrevogável de Deus contra toda a distorção da lei da vida, e especialmente contra a arrogância humana. Essa reação não é um ato de vingança. Deus é amor e a sua misericórdia não admite vingança. Essa reação da ira de Deus, que nos parece mais uma vingança da parte de Deus, não é nada disso. É o restabelecimento do equilíbrio da balança entre Deus e o homem, desde que se instalou a rebeldia do ser humano contra Deus. É uma coisa totalmente diferente. Nós só podemos entender o mistério da morte quando levamos a sério a rebelião humana contra Deus. Só podemos entender esse mistério, quando entendemos que a morte é o salário do pecado. Por isso uma barreira chamada morte tem sido levantada contra nós. Por causa de nossa rebelião contra Deus. A morte nos ensina que nós somos transitórios, que somos pó. A morte nos ensina que estamos debaixo do julgamento de Deus. A morte nos ensina que não somos iguais a Deus, e pior. Ensina-nos que não somos Deus. 

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