Severina, autor não identificado |
Nós não nos revoltaríamos contra a morte se a julgássemos natural, como as folhas que caem de uma árvore. Isso nós aceitamos naturalmente, mas não aceitamos a morte de ninguém. É complicado falar desse assunto, porque nunca aceitamos que a morte realmente existe. É tão difícil enfrentar isso, que fazemos tudo para deixar a realidade da morte para depois. Mas, a despeito de tudo isso, a nossa rebeldia é inútil. Tornamos-nos conformados, porque afinal de contas, o que vamos fazer? E entre a nossa rebelião e a nossa resignação vivemos uma vida oscilante, mas sempre contrários à ideia da naturalidade da morte.
A morte também é o resultado do julgamento de Deus. Isso nos choca profunda e intimamente. Por isso é tão difícil entender o que João escreveu em 3.36 do seu evangelho: Por isso quem crê no Filho tem a vida eterna; porém quem desobedece ao Filho nunca terá a vida eterna, mas sofrerá para sempre o castigo de Deus. O castigo de Deus, nas versões mais antigas, é traduzido como “a ira de Deus”. Mas ambas as traduções são intrincadas. Como pode ter Deus amor e misericórdia de todo ser humano se a sua ira está sempre pronta para castigar quem não obedece ao seu filho? Como sentimos isso?
Eu penso que o significado dessa ira de Deus é uma reação inevitável. É uma reação irrevogável de Deus contra toda a distorção da lei da vida, e especialmente contra a arrogância humana. Essa reação não é um ato de vingança. Deus é amor e a sua misericórdia não admite vingança. Essa reação da ira de Deus, que nos parece mais uma vingança da parte de Deus, não é nada disso. É o restabelecimento do equilíbrio da balança entre Deus e o homem, desde que se instalou a rebeldia do ser humano contra Deus. É uma coisa totalmente diferente. Nós só podemos entender o mistério da morte quando levamos a sério a rebelião humana contra Deus. Só podemos entender esse mistério, quando entendemos que a morte é o salário do pecado. Por isso uma barreira chamada morte tem sido levantada contra nós. Por causa de nossa rebelião contra Deus. A morte nos ensina que nós somos transitórios, que somos pó. A morte nos ensina que estamos debaixo do julgamento de Deus. A morte nos ensina que não somos iguais a Deus, e pior. Ensina-nos que não somos Deus.
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