Fiz do meu rosto uma pederneira

O Senhor Iahweh me deu uma língua de discípulo para que eu soubesse trazer ao cansado uma palavra de conforto. De manhã em manhã ele me desperta, sim, desperta o meu ouvido para que eu ouça como os discípulos. Senhor Iahweh abriu-me os ouvidos e eu não fui rebelde, não recuei. Ofereci o dorso aos que me feriam e as faces aos que me arrancavam os fios da barba; não ocultei o rosto às injúrias e aos escarros. O Senhor Iahweh virá em meu socorro, eis porque não me sinto humilhado, eis porque fiz do meu rosto uma pederneira e tenho a certeza de que não ficarei confundido. Isaías 50.4-7 segundo a Bíblia de Jerusalém
Sílex pirômaco, material das pederneiras
A palavra pederneira não é muito usada em nosso vocabulário cotidiano, mas ela vem tipificar um estado de dureza quase que incomum na natureza. E quando o texto de Isaías 50, que é um dos cânticos do Servo Sofredor, diz que este servo fez do seu rosto uma pederneira, nem de longe está se referindo ao endurecimento de uma face alienada diante das situações críticas, como fazem os bem conhecidos caras de pau, mas sim algo que bem me lembrou o meu amigo Dr. Nehemias Rubin: a paciência não é carregar e aguentar até não poder mais e explodir. Paciência é a arte de poder se liberar de cargas emocionais dispensáveis para manter o estado de paz.

Não há como não crer que são exatamente os momentos que antecedem a Páscoa do nosso Senhor Jesus Cristo que mais o aproximam da profecia de Isaías, e que mais revelam que é ele o servo escolhido por Deus para espiar de uma só vez os pecados de todo o mundo.

O desenrolar da profecia deste homem grandemente usado por Deus no passado detalha pormenores que nem o próprio Cristo tinha como controlar ou por si só fazer acontecer. Ele narra as injustas e cruéis feridas que lhe foram aplicadas nas costas, as tendenciosas mentiras e injúrias que contra ele foram levantadas, e os degradantes e nojentos escarros dos quais foi vítima. Agruras e humilhações que somente um rosto enrijecido feito pederneira poderia suportar mansa e silenciosamente.

Mas a dureza não é o único atributo que a pederneira possui. Ela também carrega atrás de si outras características bem interessantes. Além de ser um mineral de extrema dureza, ele produz enormes faíscas quando atritada com outros minerais, principalmente o ferro. Ou seja, desde os tempos mais primitivos ele é largamente usado pelo homem para dar início a uma ignição que produz luz pra iluminar as noites escuras e calor para aquecer as frias madrugadas.

Essa também é uma característica do servo de Isaías, que ao profetizar não propriamente o sofrimento deste servo, mas a sua chegada a esse mundo diz com total convicção: O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz.

Por fim, o sílex pirômaco, elemento do qual é constituída a pederneira é inconfundível, não permite dúvidas quanto a sua finalidade e aparência. O servo sofreu com paciente resignação por nossos pecados pela convicção de que a sua missão era única e intransferível. Exagerada também era a sua confiança naquele que o sustentava, e por todas essas coisas ele jamais poderá ser confundido com os enviados dos deuses de outras civilizações, cujas histórias em muitos aspectos se sobrepõem a dele.

O rev. Luiz Carlos Ramos fez uma observação de extrema pertinência ao assunto. Observação esta que somente traduz com poesia tudo que foi dito até então, mas que também torna claro o propósito do sofrimento do Cristo que se estende para além da Páscoa, para chorar junto com aqueles que sofrem também nos dias de hoje: Deus só pode amar os que o interpelam (dizem que Jesus era o seu filho amado, aquele que ousou questioná-lo: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"). Por isso haverá sempre de nos surpreender abraçado ao sofredor.

Um comentário:

Aline Efatá disse...

Obrigada!

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