Essa oração Deus não responde. III

O fariseu e o publicano, afresco na Basílica de Ottobeuren
Deus é humilde e ele não espera nada diferente de nós. Aquele que jamais necessitou de alguém, se humilhou a si mesmo e nos criou, para que pudesse amar e ser amado. Ainda que não aceitando a rebelião humana ele se humilhou a ponto de se fazer um dos mais humildes entre nós. A sua encarnação na pessoa de Jesus Cristo testou os limites da sua humildade. Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam de mim, porque eu sou bondoso e tenho espírito humilde. Vocês encontrarão descanso. Esse convite é para que repartamos o coração humilde de Deus. Jesus está nos dizendo que todos os que reconhecem a sua carência de Deus podem experimentar o conforto de Deus e podem receber a força para ser aquilo que Deus os criou para ser.

O orgulho do fariseu estava baseado no fato de que ele não precisava de Deus. Não necessitava de Deus para ser realizado na vida, nem mesmo para conseguir a sua própria retidão. Enquanto que a posição do publicano era totalmente oposta. Ele carecia desesperadamente de Deus: Lc 18.13 - Mas o cobrador de impostos ficou de longe e nem levantava o rosto para o céu. Batia no peito e dizia: “Ó Deus, tem pena de mim, pois sou pecador!

O que fez com que o publicano chegasse ao ponto de ver a si mesmo como pecador? O que quebrou a barreira definitiva que o fez ver a pessoa real que ele havia se tornado. Jesus reconheceu que a oração dele era uma manifestação de humildade. Mas quem mais teria pensado nesse publicano, esse homem comprometido com a opressão e mergulhado até o pescoço na corrupção, como uma pessoa humilde? Então do que foi que padeceu esse publicano para elevá-lo à altura sublime dessa oração abençoada? Ninguém sabe! Nós podemos imaginar alguma coisa baseados na nossa própria experiência. A pergunta que se segue a isso é: também nós, os cristãos, temos que confessar que somos pecadores? Nunca superaremos, com nosso crescimento espiritual, aquele estágio de contrição? Não existe uma condição em que a nossa humildade seja suficiente para que não precisemos nos confessar pecadores?

O problema é que nós entendemos mal o pecado. O pecado não é somente a separação de Deus. É também nossa separação daquilo que Deus quer que sejamos, daquilo que Deus nos deu o dom de ser. Ninguém é aquilo que deveria ser ou o que Deus propôs. Nunca chegará a hora em que poderemos chegar para Deus e dizer: eu não preciso mais de perdão, da tua misericórdia e nem do teu amor. Quem não tem em sua vida áreas que necessita urgentemente de Deus? Quem não tem relacionamentos conturbados que precisam da intervenção direta de Deus para resolvê-los? Existem pessoas que não gostam de mim e se fizeram deliberadamente meus inimigos, o que eu posso fazer?

Tanto as nossas oportunidades quanto as nossas falhas nos aproximam de Deus continuamente. A carência da graça de Deus inicia em nós a aspiração de crescer como nunca. Deus ainda não terminou conosco e, por causa disso, nós ainda não alcançamos a plenitude. No instante em que chegamos a essa conclusão preciso lhe fazer uma pergunta: você não está consciente de que coisas que você fez e coisas que você deixou de fazer; coisas que você disse e coisas que você deveria ter dito, o apunhalam constantemente? Alguém pode me dizer que não? Para mim não existe um ser humano que se sinta assim. Ninguém pode viver um dia sequer sem sentir sobre si o peso das oportunidades perdidas e dos pecados evidentes que têm machucado a nós mesmo e aos outros.

O maior apóstolo do evangelho disse no fim de seu ministério: I Tm 1.15-16 - Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior. Mas foi por esse mesmo motivo que Deus teve misericórdia de mim, para que Cristo Jesus pudesse mostrar toda a sua paciência comigo. Paulo é o maior advogado da graça de Deus de todas as épocas. Estava sempre correndo em direção ao alvo, contudo, por mais perto que chegasse do prêmio, maior era a sua necessidade de Deus. Foi isso que Jesus nos ensinou na parábola do fariseu e o publicano: a raiz mestra da oração autêntica é a necessidade de Deus.

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