O fariseu e o publicano, afresco na Basílica de Ottobeuren |
Deus é humilde e ele não espera
nada diferente de nós. Aquele que jamais necessitou de alguém, se humilhou a si
mesmo e nos criou, para que pudesse amar e ser amado. Ainda que não aceitando a
rebelião humana ele se humilhou a ponto de se fazer um dos mais humildes entre
nós. A sua encarnação na pessoa de Jesus Cristo testou os limites da sua
humildade. Venham a mim todos vocês que
estão cansados de carregar suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam
meus seguidores e aprendam de mim, porque eu sou bondoso e tenho espírito
humilde. Vocês encontrarão descanso.
Esse convite é para que repartamos o coração humilde de Deus. Jesus está nos
dizendo que todos os que reconhecem a sua carência de Deus podem experimentar o
conforto de Deus e podem receber a força para ser aquilo que Deus os criou para
ser.
O orgulho do fariseu estava
baseado no fato de que ele não precisava de Deus. Não necessitava de Deus para
ser realizado na vida, nem mesmo para conseguir a sua própria retidão. Enquanto
que a posição do publicano era totalmente oposta. Ele carecia desesperadamente
de Deus: Lc 18.13 - Mas o cobrador de
impostos ficou de longe e nem levantava o rosto para o céu. Batia no peito e
dizia: “Ó Deus, tem pena de mim, pois sou pecador!
O que fez com que o publicano
chegasse ao ponto de ver a si mesmo como pecador? O que quebrou a barreira definitiva
que o fez ver a pessoa real que ele havia se tornado. Jesus reconheceu que a
oração dele era uma manifestação de humildade. Mas quem mais teria pensado
nesse publicano, esse homem comprometido com a opressão e mergulhado até o
pescoço na corrupção, como uma pessoa humilde? Então do que foi que padeceu
esse publicano para elevá-lo à altura sublime dessa oração abençoada? Ninguém
sabe! Nós podemos imaginar alguma coisa baseados na nossa própria experiência. A
pergunta que se segue a isso é: também nós, os cristãos, temos que confessar
que somos pecadores? Nunca superaremos, com nosso crescimento espiritual, aquele
estágio de contrição? Não existe uma condição em que a nossa humildade seja
suficiente para que não precisemos nos confessar pecadores?
O problema é que nós
entendemos mal o pecado. O pecado não é somente a separação de Deus. É também nossa
separação daquilo que Deus quer que sejamos, daquilo que Deus nos deu o dom de
ser. Ninguém é aquilo que deveria ser ou o que Deus propôs. Nunca chegará a
hora em que poderemos chegar para Deus e dizer: eu não preciso mais de perdão, da tua misericórdia e nem do teu amor.
Quem não tem em sua vida áreas que necessita urgentemente de Deus? Quem não tem
relacionamentos conturbados que precisam da intervenção direta de Deus para
resolvê-los? Existem pessoas que não gostam de mim e se fizeram deliberadamente
meus inimigos, o que eu posso fazer?
Tanto as nossas oportunidades
quanto as nossas falhas nos aproximam de Deus continuamente. A carência da
graça de Deus inicia em nós a aspiração de crescer como nunca. Deus ainda não terminou
conosco e, por causa disso, nós ainda não alcançamos a plenitude. No instante
em que chegamos a essa conclusão preciso lhe fazer uma pergunta: você não está
consciente de que coisas que você fez e coisas que você deixou de fazer; coisas
que você disse e coisas que você deveria ter dito, o apunhalam constantemente? Alguém
pode me dizer que não? Para mim não existe um ser humano que se sinta assim.
Ninguém pode viver um dia sequer sem sentir sobre si o peso das oportunidades
perdidas e dos pecados evidentes que têm machucado a nós mesmo e aos outros.
O maior apóstolo do evangelho
disse no fim de seu ministério: I Tm 1.15-16 - Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o
pior. Mas foi por esse mesmo motivo que Deus teve misericórdia de mim, para que
Cristo Jesus pudesse mostrar toda a sua paciência comigo. Paulo é o maior
advogado da graça de Deus de todas as épocas. Estava sempre correndo em direção
ao alvo, contudo, por mais perto que chegasse do prêmio, maior era a sua necessidade
de Deus. Foi isso que Jesus nos ensinou na parábola do fariseu e o publicano: a
raiz mestra da oração autêntica é a necessidade de Deus.
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