O fariseu e o coletor de impostos, autor não identificado |
Em segundo lugar, a oração do fariseu estava baseada em
aparências externas. Seu orgulho era construído sobre o alicerce instável do
ter e não do ser. Aquilo que o fariseu fez: dar o dízimo e jejuar, e aquilo
que ele se obrigou a não fazer: não beber, não fumar, não dançar, não jogar etc, eram
regras ditadas por ele mesmo. Não havia dependência alguma de Deus em sua vida
impecável de boas obras. Tudo o que ele conseguiu fazer de bom e tudo o que ele
conseguiu não fazer de ruim ele conseguiu fazer sem Deus e, coitado, ele nem
percebeu isso.
Por isso nós devemos cavar mais fundo ainda no ensinamento
dessa parábola, para entendermos como o orgulho deturpa a nossa capacidade de nos
enxergarmos como realmente somos. É muito fácil cair na ilusão de que estamos
em comunhão com Deus simplesmente avaliando aquilo que temos feito. E o mundo
está cheio de gente que pensa deste jeito. Simplesmente chegaram à conclusão de
que a retidão depende exclusivamente de sua própria bondade, seus próprios
esforços e das suas próprias boas obras. Na verdade isso é o que nós queremos
enxergar e só enxergamos aquilo que queremos, quer seja verdade, quer não. Nossas
mentes estão sempre maquinando para justificar nossos erros e ela se valerá de
tudo para fazer com que nos sintamos seguros. E se nós nos sentimos seguros na
nossa relação com Deus, nossa mente brigará até contra Deus para nos defender
em nossa própria retidão e em nossas boas obras. Tudo o que eu sou, eu devo a
mim. Eu obedeço à lei, dou o dízimo, jejuo, faço tudo direitinho e, por tudo isso,
eu tenho garantido um lugar de honra na presença de Deus.
Por esse motivo muitas das nossas orações Deus não responde
e nunca responderá. A finalidade da oração é nos fazer ver as coisas como elas
são, não nos colocar num mundo de ilusão e num paraíso de fantasia; de fazer
com que nós nos vejamos como realmente somos; de ver Deus como ele tem se
revelado a si mesmo na pessoa de Jesus Cristo. Deus quer que nos confrontemos a
pessoa verdadeira que está dentro de nós. Quer nos colocar diante de nossas esperanças,
nossos sonhos, nossos demônios e nossos fantasmas do passado. O dia em que não
tivermos mais essas coisas, aí estaremos no céu, mas por enquanto temos que
encará-las. Deus quer que na oração venham à tona as nossas fraquezas, nossos
pecados, nossas oportunidades perdidas e nossas potencialidades desperdiçadas.
Quer que sejamos honestos com aquilo que desejamos, pois é comparando aquilo
que desejamos com aquilo que Deus deseja de nós, que nós podemos fazer uma
oração que Deus escutará e responderá.
O terceiro motivo da oração do fariseu não ter chegado a
Deus é que lhe faltou humildade. Humildade genuína e a expressão externa de
gratidão e de coragem de ser. A humildade faz e ao mesmo tempo responde três
perguntas essenciais:
O que é que eu tenho que não foi me dado?
Quem sou eu na realidade?
Quais são os próximos passos na aventura do meu crescimento?
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