O fariseu e o publicano, autor não identificado |
Texto baseado em sermão do rev. Garrison.
O fariseu ficou de pé e orou sozinho, assim: Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Lucas 18.11
Nós achamos que essa oração tem algo errado e tem mesmo, pois sequer pode ser chamada de oração. O fariseu não estava orando a Deus e sim a si mesmo. A tradução Revista e Atualizada de Almeida diz que ele orava de si para si mesmo. Embora a nossa primeira reação seja criticá-lo vamos ver que ele não orava muito diferente daquilo que nós também chamamos de oração.
É possível orarmos ou pensamos que estamos orando quando na realidade estamos apenas expressando o nosso preconceito. Podemos pensar que estamos orando a Deus quando na realidade estamos apenas divagando na nossa percepção da realidade. Se no fim é apenas um monólogo, então por que Jesus contou essa parábola? O que ele estava querendo nos dizer? Certamente ele não estava afirmando que todos os fariseus eram hipócritas e nem que todos os cobradores de impostos eram mal entendidos e mal julgados. Não podemos cair na tentação de classificar as pessoas em categorias, coisa que eu sempre me pego fazendo. Essa parábola não é tão simplista assim, pois nela Jesus troca os papéis que atribuímos a cada um para chamar a nossa atenção.
Ele trocou de propósito os papeis porque o resultado esperado era justamente o oposto. Ninguém iria pensar que o corrupto, o falso, o traidor da pátria iria para casa com a paz de Deus. Nós esperávamos que o homem piedoso, que jejuava, que obedecia a lei, que dava o dízimo recebesse essa bênção, mas não foi assim. Nesta parábola Jesus estava falando do quanto Deus valoriza a humildade. Sua intenção era a de alertar uns e consolar outros. Se alguém ainda acha que não espere até ler o último versículo, pois dele ninguém escapa: Porque quem se engrandece será humilhado e quem se humilha será engrandecido.
Dois homens foram orar: um fariseu, outro publicano. Os dois
tinham muita coisa em comum. Os dois eram judeus, ambos queria falar com Deus,
ambos queriam comunhão com Deus, mas aqui a semelhança termina, porque suas
orações não poderiam estar mais distantes uma da outra. A oração do fariseu é
uma ilustração da oração que Deus não pode responder e Jesus disse a razão: ele orava de si para si mesmo. Sua
oração era restrita à sua própria autossuficiência. Não possuía nada de um
coração contrito e humilde.
Essa oração incomoda porque nos é familiar demais. Essa
é a oração que não chega nem ao teto do templo. Este homem religioso, esse líder espiritual,
esse homem bom em todo o sentido sustentava um modelo de orgulho e havia três
motivos para isso. Vamos ver quais são.
Primeiramente, a oração dele era comparativa. Eu penso que
ele deve ter ficado irado com o resultado final, pois não há nada de errado em
ser grato por ser bom, por ser honesto e por ser piedoso. Ele tinha toda a
razão em ser uma pessoa feliz e de ter uma vida útil. Não há nada de errado
nisso. O que está errado é fazer comparações na sua oração de gratidão. Ele
usou como parâmetro outro ser humano e não a perfeição de Deus. Uma comparação
não somente odiosa, mas oportunista. Ele queria elevar a si mesmo rebaixando o
outro. Nossa relação com Deus nunca está baseada no fato de alguém ser melhor
que o outro. Nós somos, quando muito, aquilo que Deus nos tem chamado para ser.
Nós não somos melhores que as outras pessoas por sermos cristãos, mas como é
fácil enveredar na segurança defensiva e tortuosa do fariseu. Como nos regozijamos
no fracasso e nas improbidades dos outros! Em comparação com eles, somos
realmente os tais. Nós até pensamos que Deus está feliz porque nós somos
melhores que os não cristão. E mais feliz ainda por pertencermos à Igreja tal,
porque ela é a melhor de todas. Damos graças a Deus por isso.
Até mesmo as nossas melhores expressões de gratidão a Deus estão
saturadas de orgulho. Nossa humildade implícita à fé cristã está adulterada
pelo orgulho. Deus tem um parâmetro só. Ele não quer saber de você em relação
ao muçulmano, ao espírita, ao ateu ou a qualquer outro. Há um parâmetro só para
a comparação da sua vida, e o parâmetro é Jesus Cristo.
De repente o nosso olhar de desdém e de superioridade não é mais aceitável. Quem entre nós está à altura de comparar a sua vida com a de Jesus Cristo? Absolutamente ninguém! Pois é exatamente esse autorreconhecimento que faz possível a oração ser aceita. (continua)
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