Pontos de vista

Balaão, a mula e o anjo, Gustav Jäger
Jesus disse-lhes: Vós procurais parecer justos aos olhos dos homens, mas Deus vos conhece os corações; pois o que é elevado aos olhos dos homens é abominável aos olhos de Deus. Lucas 16.15

Ainda nesta semana ouvi no rádio o comentário de um filólogo falando sobre a palavra razão. Embora não tivesse entrado na etimologia da palavra, ele quis deixar claro que a razão depende exclusivamente do ponto de vista. Ou seja, a razão é algo tão maleável quanto as perspectivas que são passíveis de serem observadas a partir dela. Mas a Bíblia diz que não é exatamente assim, e agora?

Existe um exemplo de razão e pontos de vista no livro de Números, quando fala através de um texto bastante intrincado, do quanto está errada esta conclusão do filólogo. É bem provável que este texto nem figurasse no Canon Bíblico, não fosse o resgate que o profeta Miqueias fez citando a sua importância para este tipo de julgamento. Em 6.5 ele fala simplesmente assim: Meu povo, lembre dos planos que Balaque, rei de Moabe, fez contra vocês e da resposta que Balaão, filho de Beor, lhe deu. Lembrem de tudo o que aconteceu desde que saíram do acampamento do vale das Acácias até que chegaram à cidade de Gilgal. Não esqueçam nunca as vitórias que eu, o SENHOR, consegui.

Apesar de ter ouvido muitos pregadores exaltarem as vitórias militares que os hebreus recém-saídos do Egito obtiveram contra povos militar e tecnologicamente superiores de Canaã, tenho para mim que o que interessa para o pensamento cristão é um outro tipo de vitória, e que aconteceu antes mesmo dos exércitos se confrontarem. Uma vitória com que Israel foi agraciado sem que tivesse qualquer participação. Uma vitória sobre a razão mais liquida e certa sob qualquer ponto de vista. Uma vitória que foi decisiva para a conquista da Terra Prometida.

Em uma época em que a palavra daqueles que tinham a capacidade de enxergar de forma clara e objetiva o futuro, pesava bem mais do que a dos que denunciam a realidade palpável, ou seja, exatamente como acontece hoje, havia naquela região um vidente chamado Balaão, que foi reconhecidamente o maior do seu tempo. E esse Balaão foi convocado pelos reis locais para amaldiçoar Israel, coisa para ele era mais que razoável. Se, por ordem do rei, ele os amaldiçoasse, os exércitos das cidades cananeias iriam para a batalha com mais segurança e vontade. Mas o vidente se viu na condição única de abençoá-los. E os reis lhe disseram: nós te chamamos para amaldiçoá-los e tu os abençoas? Levaram Balaão a um lugar alto, de onde ele poderia ver a numerosa migração hebreia. E Balaão mais uma vez se viu na condição única de abençoá-los. Os reis o levaram para ver os hebreus de perto, para que visse como eles eram feios, maltrapilhos, ignorantes e broncos. E Balaão reafirma a sua bênção dizendo: como posso amaldiçoá-los se é Deus quem os abençoa?

Não creio que a bênção tenha triunfado sobre a maldição, mesmo porque qualquer tipo de maldição já nasce completamente inócua. Creio sim que a benção triunfou sobre todos os pontos de vista. Creio que a bênção triunfou sobre a razão mais pura. Creio que a bênção triunfou sobre todas as expectativas.

Essa é a bênção de Deus que não pode ser traduzida por uma vitória contra o inimigo, e sim de uma vitória contra o consenso. Lucas foi o único evangelista que registrou essas palavras determinantes de Jesus. Esse é o nosso versículo base: o que é justo aos olhos dos homens, dificilmente será justo aos olhos de Deus. Ele quis dizer que a razão não é uma questão de ponto de vista, de opinião ou reflexão. A razão está ao lado de Deus, e que somente pelo fato de Deus entender desse modo, aí está o verdadeiro sentido de justiça e de razão.

O escritor russo Fiódor Dostoiévski, quando conseguiu sair com vida da Casa dos Mortos, na Sibéria, foi mais além e disse: Mais do que isso: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se encontra nele, prefiro ficar com Cristo a ficar com a verdade.

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