Inveja, Hieronymus Bosch |
Proteção e prevenção contra a inveja tem sido um tema
bastante explorado pelas igrejas neopentecostais, pois sempre foi uma das
grandes preocupações que o sincretismo religioso faz prevalecer nesse país há
várias gerações. Contudo, até então, eu ainda não havia me deparado com
qualquer respaldo bíblico que pudesse justificar tamanha preocupação no meio dos
crentes em Jesus Cristo. Foi aí que li um cartaz numa dessas igrejas que
promovia uma cruzada contra a inveja, respaldada pelo versículo acima citado, cujo
título era: Todo cuidado é pouco na hora
de se prevenir contra esse sentimento destrutivo.
Confesso que tenho que aplaudir essa iniciativa, logicamente
que sem entrar muito no mérito das questões e das práticas com que os ministros
dessa igreja a cercaram entre suas paredes, mas porque, pelo menos em
princípio, o caminho que a Bíblia aponta, realmente passa por esse aspecto: a
inveja é um mal que precisa ser combatido.
Porém uma coisa deve ficar bastante clara para nós de
imediato: a inveja que deve ser combatida é no invejoso e não no invejado. A
pessoa que é invejada fique tranquila, porque, segundo a nossa fé, esse segunda
inveja passa longe da intenção de Tiago quando escreveu sobre esse assunto em
sua carta. A fé cristã não admite qualquer possibilidade da inveja de uma
pessoa venha a se constituir em um mal físico ou espiritual, e que esse mal
possa sobrevir de alguma forma a outra pessoa. Esse tipo de inveja é problema
exclusivo do misticismo e da superstição que o cercam, nada tem a ver conosco.
A total preocupação da Bíblia é justamente com o invejoso,
porque este sim necessita de atenção e cuidado. É o seu coração que está
sofrendo. São as suas próprias atitudes sentimentos que estão lhe trazendo todo
o mal que a inveja pode causar. É o seu comportamento que reivindica urgente
orientação. Atentemos para o que Tiago diz imediatamente antes, nos versículos
de 13 a 15 desse mesmo capítulo: Quem
entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante
condigno proceder, as suas obras. Se, pelo contrário, tendes em vosso coração
inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais
contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é
terrena, animal e demoníaca.
Logo se saída Tiago diz que a inveja é uma burrice, e é
mesmo. E de uma forma bastante escabrosa ela tem penetrado nas igrejas de hoje.
Quase todo mundo em nossas igrejas quer ser ministro de louvor, quer ser
profeta, quer ser até apóstolo. E algumas pessoas quando não conseguem se
projetar de alguma dessas formas em sua comunidade de fé, mudam imediatamente
para outra comunidade onde esses seus “dons” possam ser mais bem apreciados.
Poucas são as pessoas que se interessam pela educação cristã, que se empenham
na arte visitação, que estimulem o convívio fraterno. A pouca inteligência tem
levado as igrejas tradicionais a serem cegas e mancas, constataria Einstein.
Cega pela inveja de não conseguir atrair um número grande de fiéis, como as
novas denominações o fazem. E mancas, porque sem ter o mínimo traquejo de lidar
com temas próprios da superstição, tentam imitá-las das formas mais ridículas
que a improvisação permite.
Eu queria terminar tratando de um tipo de inveja subliminar
que tem confundido muito membros, principalmente os mais humildes. Aqueles que
já não aspiram ascendência a cargos importantes, e por isso vivem à margem das grandes
decisões da igreja, pois se tornaram meros contribuintes. São esses membros que
projetam a sua realização na figura do pastor. Eles não têm carro, mas o seu
pastor tem o mais luxuoso da região. Eles moram em casebres, mas o seu pastor
tem uma mansão de causar inveja. Alguns poderiam chamar de inveja santa, mas
isso não existe. Segundo Tiago, toda inveja é animal e demoníaca. E é essa
inveja que tem alienado às igrejas das suas comunidades locais, pois tem
pregado uma fé em que os prósperos são os abençoados, e que fatalmente joga os
que não são na lama da inveja. Que faz com que a igreja seja o prédio mais rico
da região.
Em uma oração de profunda gratidão Jesus deixou bastante
claro que são os menos favorecidos os bem aventurados, porque a esses, e
exclusivamente a esses, foi dado conhecer mistérios da fé que permanecerão
eternamente velados aos olhos dos ricos e poderosos.
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