Cantares de Salomão, John W. Waterhouse |
Fio de escarlate no rosto da bem-amada, Cantares diz que os
lábios destilam o mel untuoso da palavra, e Job 16.5 diz que são a própria
palavra em estado nascente. Diversamente da língua, órgão ativo que serve para
falar, os lábios e a boca esperam ser abertos para exprimir o fundo do coração.
Os lábios e o coração.
Os lábios estão a serviço do coração, tanto do bom quanto do
mau: Pv 10.32 - Os lábios do justo sabem
o que agrada, mas a boca dos perversos, somente o mal. Revelam-lhe as
qualidades, como: a graça do rei ideal ou o engodo enganador da mulher infiel: porque os lábios da mulher adúltera destilam
favos de mel, e as suas palavras são mais suaves do que o azeite. No
pecador eles se põem a serviço da duplicidade, com seu cortejo de mentira,
trapaça, calúnia podem, por trás de uma face afável, esconder a maldade íntima:
Pv 26.23 - Como vaso de barro coberto de
escórias de prata, assim são os lábios amorosos e o coração maligno. Uma duplicidade
que se verifica até no diálogo com Deus: esse povo me honra com os lábios, mas
seu coração está longe de mim. Mt 15.8 e Is 29.13.
Em oposição a essa duplicidade traça-se o ideal daquele
cujos lábios são sempre sinceros e justos. Mas para resguardá-los de toda a
palavra impostora é preciso que o próprio Deus os instrua: Pv 22.17 - Inclina o ouvido, e ouve as palavras dos
sábios, e aplica o coração ao meu conhecimento. Eles devem sempre estar dependentes
dos lábios de Deus, pela obediência e pela fidelidade: Job 23.12 - Do mandamento de seus lábios nunca me
apartei, escondi no meu íntimo as palavras da sua boca.
“Senhor, abre os meus lábios!"
Para obter a graça da simplicidade no diálogo com o próximo,
o salmista sabe que precisa recorrer à sabedoria que vem de Deus. Mas diante de
Deus o homem já não pode senão fazer a confissão de sua corrupção mais profunda:
Is 6.5 - Ai de mim, estou perdido, pois
sou um homem de lábios impuros, moro em meio a um povo de lábios impuros, e
meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos. Ele sabe que deve
glorificar e aclamar a Deus: Sl 63.5-6 - Como
de banha e de gordura farta-se a minha alma; e, com júbilo nos lábios, a minha
boca te louva, no meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a
vigília da noite. Deve também oferecer um louvor autêntico: Os 14.3 - A Assíria já não nos salvará, não iremos
montados em cavalos e não mais diremos à obra das nossas mãos: tu és o nosso
Deus; por ti o órfão alcançará misericórdia. Mas conhece também a sua impureza
radical. Não espera simplesmente que Deus se digne abrir-lhe os lábios para dar-lhe
uma resposta. Para que seu pecado seja tirado, seus lábios devem ser purificados
pelo fogo: Is 6.6-7 Então, um dos
serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com
uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus
lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado.
Por ocasião de seu Dia, Deus fará para si povos de lábios puros:
Sf 3.9 - Então, darei lábios puros aos
povos, para que todos invoquem o nome do Senhor e o sirvam de comum acordo,
assim como criará neles um coração novo: Ez 36.26 - Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de
vós o coração de pedra e vos darei coração de carne.
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