A Copa das Copas, anônimo |
É isto, meu bem
Nossa grandeza está na impotência
Que Deus inveja.
Ele tem o fastio do sem fim
E não sorve com a mesma urgência
O orvalho das taças secas.
Ele nem ama
(outra vez tenho pena dele)
Porque não precisa de amor,
Como poderia amar quem não tem pressa?
Dessa maneira, o rev. Jonas Rezende termina a poesia Petit
Pois do seu livro Direito e Avesso. Embora a essência do tema por ele proposto me
cubra de questionamentos, não ouso duvidar da sinceridade e eficácia da teologia,
muito menos por em dúvida o ministério comprovadamente profícuo deste que, para
mim, é o maior orador sacro da língua portuguesa. A despeito de tudo isso, uma
coisa a poesia me ensina com muita propriedade, E foi desse conhecimento que passei
a ter esta absoluta certeza: quem ama tem pressa.
Esse argumento me leva a pensar em algo que as pessoas têm
altíssima conta: a emoção. Refiro-me particularmente a emoção nacional que
tomou conta do país em virtude da Copa do Mundo, que recuso a dizer que é da
FIFA, com também a emoção das músicas gospel
que embala a maioria das igrejas cristãs do nosso tempo. Já fui voto
vencido na tentativa de qualificar as tais músicas como vazias de significado e
meramente repetitivas. Por isso, tenho que repensá-las, se não o meu destino será
figurar prematuramente em algum compêndio de arqueologia cristã. E é justamente
essa poesia escrita no final dos anos de 1970 que está me fazendo refletir
sobre a emoção.
Se quem ama tem pressa, onde estaria a pressa que o povo
brasileiro mostra ao mundo quando canta à capela um hino que era considerado um
verdadeiro pé no saco, quando éramos obrigados a cantá-lo perfilados
nos pátios das escolas públicas até recentemente? Ver a emoção nos olhos daqueles
sessentões que viveram os anos de chumbo da ditadura é muito mais estranho
ainda, pois esse hino pregava exatamente o oposto de tudo que era vivido no
país, que por coincidência, competência ou retribuição, ganhou também naquela
época uma Copa do Mundo.
A nossa emoção estaria mesmo ligada ao amor que temos por
este país, que tão pouco nos tem demonstrado amor? Podemos dizer que a nossa
alegria nas vitórias é espelho da realidade em que vivemos, ou que o sofrimento
para obtê-las é o retrato fiel de como conseguimos conquistar algo que nos é
dado como benefício, mas que é de fato nosso direito? Quero lembrar aqui Santo
Agostinho, que dizia: que não se dê por
caridade o que deve por justiça. Cito apenas como ilustração que a seleção suíça
foi recebida com honras militares, simplesmente pelo fato de ter passado da
fase eliminatória da competição. Uma festa da alegria que retrata, sem sombra
de dúvidas, a emoção de um povo que vive em uma nação que toma conta dos seus.
Trazendo esse contexto para as nossas igrejas, podemos muito
bem fazer perguntas semelhantes. A “nossa” emoção ao cantar um hino sem
maturidade teológica, sem métrica e, na maioria das vezes, sem rima, estaria
ligada ao fato da igreja estar cumprindo a missão que lhe foi proposta, ou é
mais uma maneira de nos enganarmos achando que Deus se compraz com tão pouco?
Pressa de que? Pressa para chegar aonde? Pressa para voltar
a um campeonato nacional onde as maiores vitórias são conseguidas nos
tribunais? Pressa para voltar a uma igreja que gasta noventa por cento do seu
orçamento consigo mesma?
Perdi um tempo enorme, e não falei da emoção. Pretendo
voltar a esse tema, mas gostaria de contar com a colaboração dos meus
selecionadíssimos leitores. Por favor, me ajudem nessa.
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