Louva a Deus, oh Jerusalém

Royal Albert Hall, onde Maunder foi regente
Um dos hinos mais belos dos que eu tive oportunidade de atrapalhar as execuções do Coral Henrique Soares, quando incompetentemente fazia parte dele, tem esse nome. A versão em inglês chama-se Praise the Lord, o Jerusalem, foi composto por John Henry Maunder em 1897, e é citado como se tivesse sido inspirado no Salmo 147. Mas não é simples assim.

Nessa obra, o autor não apenas revela a sua incrível aptidão musical, como também um profundo conhecimento da Bíblia. Tudo isso aliado à perfeita sensibilidade para com a mais significativa mensagem do texto sagrado. Maunder, que foi muito além do que se inspirar em apenas um salmo, nesse hino nos desafia a fazer esta longa viagem, através do que passa pela mente de alguns poetas da Bíblia, para que conheçamos o sentido apurado com que as declarações sinceras e justas eram dirigidas a Deus através do Saltério.

Louva a Deus, oh Jerusalém, porque fortaleceu as trancas das tuas portas. É certo que o hino começa citando versos do referido salmo que não tem a sua autoria confirmada. Certo é também que estes primeiros versos são os que acendem o pavio para explosão de louvor que permeiam todo o hino. Porém, o nosso autor queria mais, e foi buscar mais. E o fez introduzindo, através de um cântico solo, em meio à performance que foi idealizada por ele para um coral, trechos da mensagem quase que subliminar de outro salmo, o 145, este atribuído a Davi, para que tudo se ajustasse como uma luva ao seu intento de louvor: Piedoso e benigno. Benigno é o Senhor.

Talvez somente essa rápida ligação não justificasse a exaltação feita ao seu conhecimento bíblico. Um salmo está bem próximo do outro, e até uma busca em páginas equivocadas poderia fazer com que as mensagens se misturassem por si. Mas também não é simples assim.

Eis que, para dirimir qualquer dúvida, ele faz entrar, de repente, a parte final da poesia do Salmo 65, para dar o retoque de uma natureza colorida. Justamente o que estava faltando para que a festa musical ficasse completa e irretocável: Os vales se cobrem de trigo e exultam de alegria.

Notem que o autor não somente busca versos que seguem a mesma linha de pensamento, mas que, antes de tudo, se completem. Louva a Deus, oh Jerusalém, porque ele te protege. Louva a Deus, oh Jerusalém, porque ele é benigno. Louva a Deus, oh Jerusalém, porque até a natureza, mesmo na sua manifestação mais simples, faz isso. Este é um hino que percorre a estradas que conhecemos muito bem. Aquelas que vão da preocupação pessoal com a segurança, até a esperança de uma alegria que se traduz na expressão mais bela e, no contexto do salmista, mais necessária para o seu povo: um campo coberto de trigo. Somente o Senhor, intui Maunder, pode nos trazer essas certezas, porque, a despeito das nossas falhas, ele é tardio em irar-se e a sua clemência não tem medida, e eram nesses pilares que a fé, tanto do autor como a dos salmistas, estava baseada.

São revelações dessa natureza que fazem ver o quanto estou distante de um ideal cristão. Fazem-me perceber também o quanto eu tenho que aprender para que a Bíblia me fale tão alto e claramente, como fez no passado distante com os salmistas, e no passado recente com Maunder e outros autores. São coisas assim que fazem valorizar ainda mais os pioneiros da minha fé, porque eu tenho o privilégio de aprender com os exemplos que eles deixaram. E eles, de quem aprenderam, senão diretamente de Deus?

Você poderá ouvir esse hino agora, clicando no menu acima em “Vídeos” e depois no título do hino.

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