Nossa orfandade é o tamanho de tua grandeza

Rubem Alves, (15/09/1933 - 19/07/2014)
Amar é ter um pássaro pousado no dedo. 
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar.
Rubem Alves

Foi amplamente divulgado pela imprensa a morte neste último sábado de Rubem Alves. Falou-se muito da sua trajetória como escritor, cronista, psicanalista e educador, mas se detiveram naquilo que, não somente foi a sua maior paixão como também o seu principal legado, a teologia. Sem sombra de dúvidas, o maior teólogo protestante brasileiro deixou atrás de si não somente um enorme contingente de teólogos protestantes órfãos, mas muito católicos também se sentem deste mesmo jeito.

Um dos seus mais próximos seguidores e igualmente próximo amigo, administrador desse blog, o rev. Jonas Rezende, traduziu com palavras um pouco desse nosso sentimento de vazio que Rubem já havia profetizado na poesia citada acima, e que agora postamos com exclusividade.

Nem bem deixaste o Seminário como aluno laureado e jovem Mestre, tu visitaste nossa Casa trazendo debaixo do braço uma tese original, que não poderia ser isenta de crítica ao Reformador de Genebra, o contraponto dos novos tempos que trazias com tua vinda. E silenciosamente ou com espalhafato, assim registramos com admiração e respeito o teu definitivo ingresso na vida do Brasil que pensa e de nossa pequenina Igreja Protestante: Habemus Papam!

Foi a tua escrita inaugural e os grandes livros que seriam o alicerce teológico de tua e de nossa vida. Mas, à medida que o tempo passou, não se complicou a mensagem que tinha a ardência de uma banda de metais: ias mais fundo enquanto desbastavas o excesso que entulhava a livre corrente de teu pensamento. Nada estava fora, como objeto da Teologia se esbarrasse, ainda que suavemente, nos desejos do ser humano, dos problemas da infância, da educação, do entretenimento até à morte. E nós recebíamos como imaginávamos que fustigaste teu computador ate chegares à nova ideia, que poderia ser um livro não intelectualizado, segundo o vulgo, até às preciosas palavras de ordem, em que davas, por exemplo, um novo sentido à saudade... Ou divagações sobre futebol.

 Tu que mergulhaste na morte, como no prefácio de meu magro livro Colarinho de Padre, aborrecido com a intimidade dessa Loba, com certeza a investigaste, só não de todo satisfeito porque já não podias partilhar tua luz com os discípulos esparramados nos insuspeitos lugares. Quem sabe se o Papa Francisco não é um deles que lê o teu saber com humor diferente do Papa anterior que renunciou seu cargo?
   A verdade, Rubem, é que tivemos tempo, o longo tempo de teu sofrimento para ajeitarmos nossa vida à fria constatação de que a orfandade que azeda nossa boca durante o metabolismo de tua partida, é do exato tamanho de tua grandeza.

 Assim ruminamos a tua perene lição: CARPE DIEM!

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