Mas que dificuldade de dizer sim!

Buscai o Senhor e o seu poder; buscai perpetuamente a sua presença.
Salmo 105, Bible Picture Gallery
Leia Salmos 105
Texto do rev. Jonas Rezende.
Quando visitei a cidade de Assis, na Itália, e as relíquias de São Francisco, um fato me marcou de modo negativo: o santo, que me parece mais próximo do amor de Jesus e da comunhão com a Natureza, usava instrumentos para se torturar, para fazer penitência.

Pois é. Uma visão isenta do fenômeno religioso pode constatar dois fatos: a universalidade dessa fome que o ser humano tem de transcendência, gerando os mais diversos cultos a deuses tão diferentes. E o fato de que a religião cria ou trabalha - muito mal, é bom que se diga - o sentimento de culpa que parece grudado na alma de todos, estabelecendo sacrifícios ou penitências que tornam o relacionamento com a divindade marcado pelo medo e nunca por uma atitude de amor. Aí entram as religiosas que se banham com um tipo de camisola, a atitude negativa em face do corpo criado por Deus, como a castração ou infibulação das mulheres coptas e muçulmanas, e mesmo a postura contra o sexo, na vida de um santo da índia, como o Mahatma Gandhi.

O salmo que temos diante de nós exorta: lembrem-se das maravilhas do Senhor. Narra, em síntese, a história do povo hebreu guiado e assistido, depois da libertação do Egito, nos quarenta anos de êxodo no deserto: e conduziu com alegria o seu povo, e com jubiloso canto os seus escolhidos.

Por seu turno, o povo continuamente dizia não a Deus e desconhecia a sua presença providencial. O salmista registra o seu queixume: não acudiram à voz do Senhor. E forjaram deuses, como o bezerro de outro. E sentiram saudade do tempo da escravidão.
Esses fatos todos me levam a esquematizar o relacionamento de Deus com o povo libertado, na forma infeliz que este e muitos outros salmos deploram.

Deus quer a intimidade dos seus filhos, o seu amor: filho meu, dê- me o seu coração. Ele declara: você é meu filho, hoje eu o gerei. Na parábola do filho pródigo, Deus é o pai que corre ao encontro do filho, que não o aceita na condição de trabalhador comum, isto é, não deseja penitência. Pelo contrário. Faz-lhe uma festa e declara: este meu filho estava perdido e foi achado; estava morto e reviveu.

O problema é o ser humano, que não diz sim diante da divina sedução, inventa holocaustos para aplacar a sua culpa, e nem ouve quando Deus comenta: misericórdia eu quero, e não sacrifícios. Mesmo uma inteligência como a de Kierkegaard ainda raciocina em termos de temor e tremor, expressão corrente no Velho Testamento. É lamentável que o Deus de amor e ternura desperte apenas o pavor de seus filhos, mesmo depois que Jesus nos ensina a chamá-lo de pai, paizinho.

Existe, na vida de todos nós, a noite do silêncio divino, guando Deus parece distante de nossas preocupações, alheio aos problemas que enfrentamos. Até Jesus viveu esse momento: meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste? Mas essas crises são superadas, porque o Senhor é Emanuel, Deus conosco, Deus em nós. Uma bonita canção nascida da fé reconhece:

Deus está aqui, aleluia!
Tão certo como o ar que eu respiro,
tão certo como o amanhã que se levanta,
tão certo como eu lhe falo e pode me ouvir.

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