As 3 revelações do samaritano

Bom samaritano, He Qi

Texto compartilhado entre o rev. Jonas Rezende e o rev. Sergio Duarte.
A conhecida parábola do Bom Samaritano tem servido para fundamentar uma boa quantidade de argumentos de moral e fé. Através de um ou de outro detalhe, uma doutrina pode ser consolidada, inclusive aquelas que relação alguma tem com o texto, como é o caso da que prega a necessidade urgente e importante da ação social. A prática é crucial, está certo, mas não é disso que a parábola trata, pois ela se refere ao comportamento entre pessoas do mesmo nível social, e não do tão importante serviço aos necessitados.

No seu eixo central a parábola nos apresenta três filosofias de vida que são bastante conhecidas por nós em todos os segmentos da vida. Filosofias que têm acompanhado a civilização humana desde os primórdios, e que tem relevado uma delas em detrimento das outras, as quais tem se esmerado em aprimorar ao longo de todo esse tempo.

A primeira filosofia que o texto ressalta é a filosofia do ladrão, que é aquela que diz: o que é meu é meu, e o que é seu é meu também. Filosofia largamente usada pela classe política, pelos banqueiros e mega empresários ao redor do mundo. Esta, eu diria, é a filosofia que não somente mascara ou anula as demais, mas que infelizmente tem sido a mais divulgada e estimulada pelas escolas. É a filosofia que confere o mais elevado status a quem sabe manipulá-la com esperteza, e a quem sabe também fazer dela sua linha mestra de conduta e relacionamento. O que se observa de mais curioso nela é que a punição só existe para aqueles que se deixam flagrar no ato ou para aqueles que a usam moderadamente. É este o exato conceito que fazemos do ladrão da parábola, que é contrário ao que Jesus estava propondo, pois a contou justamente para uma pessoa de uma classe que era mestra em manipular a lei em seu próprio benefício.

A segunda filosofia exposta pela parábola é a filosofia dos escribas e sacerdotes, que é filosofia que prega: o que é meu é meu, e o que é seu é seu. Se esta não apresenta os requintes de crueldade que podem ser detectados na filosofia anterior, está longe de ser a ideal, pois é a digna representante da justiça cega, que trata a todos com igualdade, que não avalia a necessidade, mas exclusivamente o direito, primordialmente nas relações que são oriundas da maior desigualdade possível. O que é meu é meu! O que é seu é seu, inclusive a fome, a miséria, o abandono e carência de amor e cuidado. Eu chamaria esta filosofia de filosofia do abastado preguiçoso, aquele que não encontra mais motivos para reverter a segunda parte da sua filosofia, a ponto de fazer com que ela seja a filosofia do ladrão.

Esta jamais será contestada pela lei dos homens ou por aqueles que possuem um senso prático de avaliação. Era esse o estado em que Jesus encontrou aquele homem para quem contou a parábola. Era o certinho, o que cumpria as regras, o que fazia o dever de casa, que caminhava junto com o decoro, mas que estava longe do Reino dos Céus.

Depois de devidamente enquadrá-lo em seu atual estágio de vida, nem bom nem mau, é que Jesus lhe apresenta a filosofia do samaritano: o que é seu é seu, mas o que é meu pode ser seu também, caso venha a precisar. Notem que esta não é uma ação de cima para baixo, pois o samaritano entrega o assaltado aos cuidados que seriam devidos ao mesmo, e não apenas àqueles que estariam dentro das suas possibilidades imediatas: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar.

Essa é a mensagem central da parábola, o ensinamento supremo, aquilo que faz toda a diferença. De pouco vale ser razoavelmente bom, quando o mundo à sua volta está mergulhado na maldosa conjectura daquele que pleiteia tudo para si, com a total anuência daquele que só se importa consigo mesmo.

A tudo isso que a parábola nos ensina, Jesus acrescenta apenas mais uma recomendação a título de retoque final: Vai e procede tu de igual modo.

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