Escola Dominical de Tea-Treats, 1800 |
Extraído do livro Pequena História do Povo Chamado Metodista de João Wesley Dornellas.
A frase acima é de autoria de João Wesley,
que aprendeu a ler na própria Bíblia pelas mãos de sua mãe Susana. Em sua longa
vida ele nunca deixou de se preocupar com os corações e as mentes das crianças.
Apesar do exemplo de Jesus e de suas recomendações, feitas repetidas vezes, a verdade
é que, durante quase 1.800 anos, as crianças não tiveram lugar nem vez na vida
da Igreja. Como também não tiveram na própria sociedade. Ao Movimento Metodista
– e a João Wesley certamente – o cristianismo deve hoje o interesse pelas
crianças.
O surgimento da Escola Dominical no seio do Movimento Metodista, um dos primeiros espaços conquistados pelas crianças numa igreja cristã, se deveu sem dúvida àquelas preocupações de Wesley. Já em Savannah, na Georgia, onde servia como missionário, Wesley se reunia com crianças para ensiná-las no caminho da Bíblia. Alguns chegam até a achar que ali é que foi inventada, por Wesley, a Escola Dominical.
O surgimento da Escola Dominical no seio do Movimento Metodista, um dos primeiros espaços conquistados pelas crianças numa igreja cristã, se deveu sem dúvida àquelas preocupações de Wesley. Já em Savannah, na Georgia, onde servia como missionário, Wesley se reunia com crianças para ensiná-las no caminho da Bíblia. Alguns chegam até a achar que ali é que foi inventada, por Wesley, a Escola Dominical.
Em toda a sua vida, Wesley nunca se descuidou
do trabalho com as crianças. O seu Diário tem muitas citações de encontros
pastorais com as crianças. Nos seus sermões, ele não se cansava de falar sobre
o assunto. Há alguns bem
específicos, que ainda não foram traduzidos, como “A Religião Familiar” (nº
94), “A Educação das Crianças”(nº 95) e “Obediência aos pais”(nº 96).
No primeiro dos
sermões citados, Wesley diz o seguinte: “Vocês devem particularmente
esforçar-se para instruir seus filhos bem cedo, de maneira simples, frequente e
pacientemente”. Eu chamo esses conceitos práticos de “Leis de Wesley para o ensino
de crianças”. O cedo para Wesley era a primeira hora em que os pais percebessem
que a razão começava a alvorecer em seus filhos. E ele dizia que isto acontecia
mais cedo do que se poderia supor, fato que a ciência só comprovou mais de dois
séculos depois.
Uma das “dicas”
de Wesley era: “quando uma criança começa a falar, você pode estar certo de que
sua razão começa a trabalhar”. Outra recomendação dele é a simplicidade, que é fundamental
em educação. “Use somente as palavras que uma criança pode entender”.
“Se você quer ver
o fruto do seu labor, você tem que ensiná-las não só cedo e de maneira simples
mas frequentemente também. Será de pequeno ou nenhum valor se você o faz apenas
uma ou duas vezes por semana. Com que frequência você alimenta seus corpos? Não
menos do que três vezes ao dia. A alma é de menor valor do que o corpo?”
Por último,
Wesley enfatiza a paciência e a perseverança na atividade de ensinar as crianças:
“nunca pare, nunca interrompa seu labor de amor até que você veja os frutos dele”.
Como pastor de pastores, Wesley não se cansava de recomendar diligência no trabalho
com as crianças. Ele os exortava para reuni-las em bands (classes) pelo menos duas
vezes por semana. Quando algum pregador se desculpava dizendo que não tinha
esse dom, a resposta
de Wesley era clara e incisiva: “Com dom ou sem ele, você deve fazer isso; do
contrário, você não foi chamado para ser um pregador metodista”. Nos exames de admissão
para novos pregadores, os roteiros (minutes), preparados por ele em 1766, incluíam
uma pergunta específica, na realidade uma determinação de Wesley: “você instruirá
diligente e cuidadosamente as crianças e as visitará de casa em casa?”
Infelizmente, as
estatísticas mostram que, em nossa Igreja, os segmentos etários não têm a mesma
representatividade da população brasileira. Somos uma igreja com mais adultos e
idosos e menos crianças, adolescentes e jovens. Se não mudarmos esse estado de coisas,
é fácil prever que o futuro não será bom. Muitos em nossa igreja talvez
prefiram trabalhar mais pelas conversões traumáticas de adultos do que investir
no antigo e eficiente processo de iluminação, ou seja, o do “educa a criança no
caminho que deve andar”. Quando os
pastores e os líderes leigos das igrejas se interessam mais pela Escola Dominical
e pelo trabalho com as crianças, os frutos aparecem a “cento por um”, que é a medida
bíblica para o crescimento.
Podemos afirmar
que nenhum pastor metodista já falou para crianças na proporção de João Wesley.
No seu Diário (20.4.1788), ele menciona ter falado em Bolton às três da tarde para
um público de 900 a 1000 crianças. Diz ele: “Eu nunca tinha visto nada igual.
Que belos hinos cantavam juntos, nenhuma delas fora do tom. A melodia soava
melhor do que se pode ouvir num
teatro. O melhor de tudo é que elas realmente creem em Deus e a maioria conhece
a verdadeira salvação. Elas são modelo para toda a cidade. Em grupos de, 8 ou
até 10 crianças juntas, elas visitam os pobres e os doentes para encorajar,
confortar e orar por eles”. Foi mencionando aquela escola dominical que, em
carta a Alexandre Suter, Wesley afirmou :
“eu amo muito a Escola Dominical. Ela tem distribuído o bem em abundância”.
A Escola
Dominical de Newcastle, fundada por Charles Artmore, tinha mais de 1.000 crianças
matriculadas e 70 professores. No dia 8 de junho de 1789, uma terça-feira, à
noite, Wesley já com 86 anos, falou para 600 ou 700 crianças dessa escola. Dias
antes ele havia falado para as crianças de Wigan e ele revela que as ruas
ficaram vazias de crianças, que estiveram reunidas durante todo o dia na
igreja.
Para terminar
este capítulo, cabe uma pergunta. O que aconteceria à nossa Igreja se pudéssemos
ter um número tão grande de crianças em nossas escolas dominicais? Se os precursores
do Metodismo, com todas as dificuldades do século XVIII conseguiram, por que
não podemos fazer o mesmo? Claro que podemos! Se temos os dons e os meios, por que
não utilizá-los nesse trabalho? Se não os temos, por que não pedir a Deus para
obtê-los?
Se Deus, como
dizia Wesley, começa a sua obra com as crianças, nós vamos começar com quem?
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