Ambiguidade pastoral I

Walter Gonçalves e Homero Silva, D. Pescadinha Jr.
Fez a minha boca como uma espada aguda, na sombra da sua mão me escondeu; fez-me como uma flecha polida, e me guardou na sua aljava. Eu mesmo disse: debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia, o meu direito está perante o SENHOR, a minha recompensa, perante o meu Deus. Is 49.2, 4.

Neste último sábado, meio que forçado, assisti uma palestra de um pastor que tinha mais ou menos a minha idade, cujo tema girava em torno de um seu livro e que tratava especificamente dos vícios do ministério pastoral. Ou seja, era um livro exclusivo para pastores. Não posso precisar, mas parecia ser eu o único pastor na assistência. Os demais eram alguns membros de minha igreja e seminaristas em maior número. Após ter manifestado uma simples opinião fui finalmente identificado como pastor e também como um dos pastores daquela igreja, ao que um dos seminaristas imediatamente retrucou: não parece não.

Deixando um pouco de lado o estigma do “parecer ser” da mulher de Cesar, pensei bastante no tempo naquilo que me faz parecer com um pastor. Recordei de como, ainda no Seminário, recebi o honroso apelido de Profeta Amós, que me foi conferido por seu Homero, um zelador da Igreja e atestado de imediato pelo grande e influente amigo, rev. Walter Gonçalves. Esses foram os meus dois grandes mentores na ideia, na produção e na escolha do nome desse blog. 

Olhando no rosto daqueles seminaristas comecei a pensar e questionei a mim mesmo: o que me fazia parecer antes e não me faz parecer agora? No transcorrer daquela mesma palestra foram sugeridos temas, a partir dos quais obtive algumas respostas.

Primeiro: a mesma pessoa que questionou a minha aparência disse no contexto de uma longa frase: porque nós fomos escolhidos por Deus. Era exatamente que assim eu pensava. Se eu estava no Seminário, estudando para ser pastor, dedicando minha vida ao ministério, o que poderia me fazer pensar diferente? Eu me senti o glorioso escolhido de Deus até quando li atentamente II Co 6.1, em que Paulo fala a respeito dos que se julgam escolhidos por Deus para o ministério pastoral: E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus. 

Para meu espanto descobri que a palavra grega pragma, que foi traduzida por cooperadores, na realidade significava coisa ruim, e era muito empregada, naquela época, para designar os remadores inferiores, aqueles que por falta de qualificação ficavam no porão das galés agitando desordenadamente seus remos, e eram os primeiros a morrer quando o navio naufragava. Ou seja, eles eram os descartáveis.


Se alguém, como eu, ficou também espantado com essa analogia feita por Paulo, que leia II Co 4.7-12, quando ele chama a si e aos demais apóstolos de vasos de barro, e reparem que não um vaso qualquer, mas aquele especificamente destinado a receber os dejetos e imundices. Caso ainda não esteja convicto da natureza da escolha de Deus, que leia I Co 4.13, quando o mesmo apóstolo classifica assim classifica a si e aos seus pares: até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória do universo.

Eu um dia pensei que este chamado me colocaria em cima de um pedestal e que tão somente isso seria suficiente para que eu fosse ouvido e aceito pela igreja. Vejo também o quanto esses jovens iniciantes no ministério precisam aprender, não com enfatuados os pinguins de geladeira que ocupam os nossos púlpitos, mas com os zeladores como Homero, e com os pastores como Walter, que eram de uma época em que ser ministro da pregação da Palavra ou ministro da limpeza da limpeza do templo era apenas ser mais um membro devotado e dedicado entre tantos outros do imenso rebanho de um único e verdadeiro pastor. (continua)


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