A visibilidade no evangelho

Cristo cura o homem que nasceu cego, Sebastiano Ricci, 1712
Então, os vizinhos e os que dantes o conheciam de vista, como mendigo, perguntavam: Não é este o que estava assentado pedindo esmolas? Uns diziam: É ele. Outros: Não, mas se parece com ele. Ele mesmo, porém, dizia: Sou eu. Leia todo o capítulo 9 do evangelho de João. 

Na realidade do mundo atual três coisas fazem as pessoas se destacarem da multidão e auferirem notoriedade. Se usássemos a linguagem popular diríamos que são as três coisas que fazem as pessoas aparecerem: o que elas são, o que elas têm e o que elas sabem. Dentro dessa perspectiva, vários elementos podem ser considerados. Por exemplo: o ter não somente se refere ao dinheiro ou ao poder; um corpo e um rosto bonitos também se prestam para bem este fim. O saber também não trata somente do conhecimento científico, pois hoje em dia conhecer uma falcatrua, ou mesmo o passado tenebroso de alguém ou de uma organização é também uma excelente moeda de troca. O que as pessoas fazem para aparecer, então, não encontra limites nem mesmo no ridículo ou no risco da própria vida. Seria certo pensar que hoje em dia alguém somente chegará a ser visível se puder lançar mão de um desses três recursos?

O evangelho diz que não, porque na história da igreja, como também na secular, existem e existiram pessoas que chegaram a ter uma enorme visibilidade sem fazer uso de qualquer desses artifícios. Não me refiro um Paulo de Tarso, pois poderiam alegar que este já era possuidor de alguns desses atributos quando se converteu à fé cristã. Falo de pessoas completamente invisíveis, que através do evangelho conseguiram se tornar, com justa razão, grandes celebridades. Poderia citar o exemplo de pessoas humildes, como foi o caso de João, o batista, ou de simples pescadores, como a maioria dos que frequentavam o círculo íntimo de Jesus, e que mais tarde se tornaram referência na fé, como apóstolos e pais apostólicos.

É curioso notar também que este não é um fenômeno comum às religiões, pois na época de Jesus, divindades que eram adoradas em suntuosos templos, e pessoas carismáticas que arrastavam grandes multidões atrás de si, hoje estão completamente esquecidas e a sua memória apagada da história.

Para calçarmos este argumento com dados concretos vamos obsevar a vida do cego de nascença, antes e depois do seu encontro com Jesus. Vamos ver quem era aquele que foi marcado desde e seu nascimento com justamente o oposto de tudo o que poderia lhe servir para alcançar algum prestígio. Primeiramente, ele era mais um dos que eram amaldiçoados pelo pecado, e essa maldição antiga inconteste se revelava no fato dele já ter nascido cego. Ele era apenas mais um dos excluídos de Israel. Seus vizinhos mal o conheciam de vista. Sua própria família sequer sabia das aflições do seu dia-a-dia. Para a religião formal, ele era apenas mais um condenado ao esquecimento eterno. Mas bastou um simples e rápido encontro com Jesus para que tudo mudasse e todos se empenhassem em ter uma opinião formada sobre ele.

Imediatamente ele passou a ser o centro das atenções do povo, dos escribas, dos fariseus, pois Jesus nele quebrou a barreira do impossível, com ele mesmo diz: Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Contudo, a realidade transformadora do evangelho foi muito além de simplesmente abrir os olhos de um cego, mas fez também que os olhos do mundo se abrissem para ele. Logo ele, que apesar de não ter, de não ser e de não saber atraiu sobre si a notoriedade dos que tiveram um encontro pessoal com Jesus.

Através deste episódio aprendemos que ver é muito mais do ter a capacidade de enxergar. É neste fato rapidamente narrado pelo evangelho que podemos ter a certeza de que a notoriedade não é apenas uma questão de saber, ter ou ser, como quer nos fazer crer o mundo. Pois para esse mesmo evangelho são justamente as pessoas que estão mais escondidas e as que o mundo faz questão ab soluta de esquecer que nos revelam o verdadeiro rosto de um Deus que não pode ser subornado pelo ter, seduzido pelo ser, ou mesmo influenciado pelo saber. 

2 comentários:

NEHEMIAS RUBIM disse...

Caro amigo pastor
Existe uma corrente que cita este episódio como paradigma da pre existência da alma.Quando os apóstolos perguntam quem pecou primeiro ? Subentende-se que o espírito que dava a vida àquele cego já habitara outro corpo. A resposta de Jesus não contradiria tal tese. Afirma que NAQUELE CASO o motivo era outro, tanto que aqui estamos falando sobre o milagre. Ou seja, para a maioria dos cegos de nascença seria uma experiência expiatória. Haveria 2 tipos de carma, o fixo Ex:a maioria dos cegos de nascença morrem cegos, e o móvel, este se curou.
É mais um longo assunto.
Abração.

Amós Boiadeiro disse...

Este é um dogma católico. Para eles Deus tem um estoque de almas e vai liberando-as de acordo com a sua vontade. Na doutrina protestante, a alma nasce no momento em que o ser humano é concebido.

ads 728x90 B
Tecnologia do Blogger.