A ressurreição de Lázaro, José de Ribera em 1616 |
Não haveria nenhuma questão a ser levantada nesse conhecido versículo
da Carta aos Efésios, caso Paulo não o tivesse começado assim: E é por isso que se diz. A partir de
então foram geradas todas as dúvidas e controvérsias de onde esta palavra seria
derivada. Ou seja, de onde Paulo foi se inspirar para fazer tão importante
alerta. Por isso vamos nos deter por um tempo examinado algumas possibilidades,
como também as derivações de sentido que cada uma delas traz consigo.
Alguns pensam ser tirada de Isaías 26.19, que diz: Os vossos mortos e também o meu cadáver
viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o
teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho de vida, e a terra dará à luz os seus
mortos. Nessa visão, o profeta se inclui dentre aqueles que devem manter a
sua esperança viva em Deus, mesmo que já estejam habitando no mundo dos mortos.
Pois estes um dia ainda ressuscitarão e cantarão louvores.
Outros já inferem que Paulo se inspirou em Isaías 60.1-3: Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua
luz, e a glória do SENHOR nasce sobre ti. Porque eis que as trevas cobrem a
terra, e a escuridão, os povos; mas sobre ti aparece resplendente o SENHOR, e a
sua glória se vê sobre ti. As nações se encaminham para a tua luz, e os reis,
para o resplendor que te nasceu. Essa outra visão coloca Isaías, ou
alguém a quem a sua palavra profetiza a sua vinda, como aquele que trará a luz
para as nações que jazem nas trevas.
Epifânio supunha que elas foram tomadas a partir de uma
antiga profecia de Elias há muito perdida. Syncellus e Euthalius disseram que
elas foram retiradas de uma obra apócrifa atribuída a Jeremias, o profeta.
Alguns estudiosos contemporâneos dizem que elas compunham parte de um hino
muito cantado na igreja cristã primitiva. É sabido que os hinos, cânticos
espirituais, bem como salmos, que este aposto faz referência em Ef 5.19 e em Cl
3.16 possuem essa mesma estrutura, e eram cantados mais ou menos assim: Desperta, ó tu que dormes, e dos mortos
surgem tu, e Cristo brilhará sobre ti.
Contudo, parece ser mais natural entender essas palavras como
se referindo à luz do evangelho citado Ef 5.13: E, quando qualquer coisa é trazida para a luz, então a sua verdadeira
natureza é revelada. Neste caso, Paulo estaria se referindo a uma das
palavras mais enfáticas proferidas por Jesus: Levanta-te. Este é o comando da voz forte do Evangelho em todos os segmentos
da vida: receber instrução; deixar o pecado que está levando à perdição; crer
no Senhor Jesus Cristo, que ele vai iluminar e salvar. Paulo faz-nos
lembrar que assim, como qualquer pessoa em estado de torpor, não tem
discernimento e nem produz qualquer coisa que pode ser chamada de útil, as
pessoas que não conhecem Cristo vivem esse sono infindável que beira os limites
da morte.
À medida em que a Palavra de Deus mantém viva a expectativa de
que um morto ainda possa executar qualquer função; a esperança para os que se mantém
à margem da promessa; para os que ainda dormem, mesmo estando na igreja; para os que se
iludem com doutrinas que não causam senão um estado de torpor espiritual
completo, se constituem na mais absoluta certeza que de eles podem ser acordados pela voz do
Evangelho.
Apesar de mortos para toda a bondade e para todas as bênçãos
da vida espiritual, mesmo que os instintos mais animalescos estejam inteiros
dentro de nós, o que nos resta de percepção e de razão ainda são suficientes para
fazer-nos capazes de ouvir a voz do Evangelho mandando que nos levantemos. É
somente sob essa influência, que sempre acompanha a Palavra quando é fielmente
pregada, que nós podemos discernir sua excelência e reencontrarmos o poder de
Deus para a nossa salvação. Seja qual for o estado de decomposição em que
nos encontremos, sempre seremos abordados e desafiados por esse apóstolo e pela
sua promessa de que, se acordarmos, Cristo nos iluminará.
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