A cruz de Cristo e a árvore de Adão, Norman Adams em 1989 |
No Segundo Testamento
O Segundo Testamento não só confere
diversas vezes ao homem a expressão imagem de Deus, como em ICo 11.7 e Tg 3.9,
mas um bom número de vezes utiliza e desenvolve o respectivo tema. Assim o mandamento
de Cristo: Sede perfeitos como vosso Pai
celestial é perfeito surge como uma consequência e uma exigência da
doutrina do homem imagem de Deus.
O mesmo vale da Palavra atribuída a Cristo e referida por Clemente de Alexandria: Ver teu irmão é ver a Deus. Essa convicção provoca o respeito pelos outros e fundamenta nosso amor para com eles: I Jo 4.20 - Quem não ama seu irmão a quem vê não poderá amar a Deus que não vê. Mas esta imagem imperfeita e pecadora que é o homem precisa ser superada. Tal superação é esboçada pela Sabedoria vétero-testamentária e realizada por Cristo.
O mesmo vale da Palavra atribuída a Cristo e referida por Clemente de Alexandria: Ver teu irmão é ver a Deus. Essa convicção provoca o respeito pelos outros e fundamenta nosso amor para com eles: I Jo 4.20 - Quem não ama seu irmão a quem vê não poderá amar a Deus que não vê. Mas esta imagem imperfeita e pecadora que é o homem precisa ser superada. Tal superação é esboçada pela Sabedoria vétero-testamentária e realizada por Cristo.
A sabedoria, imagem por
excelência de Deus
O homem não é mais que uma imagem
imperfeita; a Sabedoria, ao contrário, é um espelho sem mancha da atividade
de Deus, uma imagem da excelência de Deus. Como ela existe desde o início,
antes da origem da terra: Pv 8.23 – Desde
a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes do começo da terra,
conclui-se que ela presidiu à criação do homem. Daí se compreender certas
especulações do judaísmo alexandrino, das quais se encontram ecos em Fílon.
Para este, a imagem de Deus, que é o Logos, é o instrumento de que Deus se
serviu por ocasião da criação, o arquétipo, o exemplar, o princípio, o filho
primogênito, segundo o qual Deus criou o homem.
Cristo, imagem de Deus
Esta expressão se encontra
unicamente nas epístolas de São Paulo, a ideia, porém, não está ausente no
evangelho segundo São João: entre o
Cristo e aquele que o envia, e entre o Filho único que revela seu Pai e o Deus
invisível, a união é tal que supõe algo mais que uma simples delegação de poder.
A missão de Cristo supera a dos profetas para nivelar-se à da Palavra e da Sabedoria
divinas; ela supõe que Cristo seja um reflexo da glória de Deus; supõe entre
Cristo e seu Pai uma semelhança que é claramente expressa na afirmação, onde se
encontra, se não a palavra, ao menos o tema da imagem: Jo 14.9 - Quem me viu viu o Pai.
São Paulo, embora utilizando, com relação ao homem, a doutrina
do Gênesis sabe também, dada a ocasião, servir-se das interpretações rabínicas
e filonianas dos dois Adões, que ele aplica ao próprio Cristo: ICo 15.45 : O primeiro homem, Adão, foi feito alma
vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante, e mais tarde ao
homem novo: Cl 3.10: Vos revistais do novo
homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o
criou. Mas é à luz da Sabedoria, imagem perfeita, que ele atribui a Cristo
o título de imagem de Deus, tal como vemos em IICo 3.18-4.4. Sem abandonar essas diferentes
fontes de inspiração, São Paulo se esforça por precisar mais ainda o mistério
de Cristo: Cristo é imagem por filiação.
Ele preside, enquanto imagem, à criação do homem novo. Enriquecida por esta
convergência de elementos antigos e de dados novos, a noção da imagem de Deus,
tal como Paulo a aplica a Cristo, especialmente em Cl 1,15: Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito
de toda a criação.
Semelhança, mas semelhança espiritual
e perfeita, por uma filiação anterior à criação; representação, em seu sentido
mais estrito, do Pai invisível; soberania cósmica do Senhor, que deixa impressa
sua marca no mundo visível e invisível; imagem de Deus segundo a imortalidade:
primogênito dentre os mortos; exclusiva e única imagem que assegura a unidade
de todos os seres e a unidade do plano divino: princípio da criação e princípio
da sua restauração por meio de uma nova criação.
O
cristão transformado segundo a imagem de Cristo
Todos esses elementos constituem forças de atração sobre o homem. A imagem imperfeita e pecadora
precisa dessa imagem perfeita, que é Cristo, para reencontrar e realizar seu propósito
original. Depois de ter revestido a imagem do Adão terrestre, precisa revestir
a imagem do Adão celeste. Entre essas duas imagens unidas em um só desígnio divino existe uma ligação
oculta: uma ruptura profunda causada pelo pecado, e uma superação dinâmica causada
pela graça. Esse dinamismo se revela também no cristão: tendo ele se tornado
desde agora um mesmo ser com Cristo, ele é filho de Deus e, sob a ação do Pai, se transforma de glória em glória nesta
imagem do Filho, primogênito de uma multidão de irmãos. O nome desse processo de glorificação é
ressurreição, que possibilita ao cristão revestir definitivamente a imagem do
Adão celeste e transformar o nosso corpo de miséria em corpo de glória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário