Jeroboão sacrificando ao ídolo, Jean-Honore Fragonard |
Ninguém neste mundo viu nem pode ver
Deus Pai. Por de suas imagens que ele se dá a conhecer. Antes da revelação
plena, que ele fez de si mesmo através da imagem por excelência que é seu Filho
Jesus Cristo, na antiga aliança, ele começou a fazer brilhar diante dos homens
a sua glória reveladora. A Sabedoria de Deus, emanação pura de sua glória e imagem
de sua excelência, já revelava certos aspectos de Deus; e o homem, criado com o
poder de dominar a natureza e agraciado com a vida eterna, constitui já uma
imagem viva de Deus. Contudo, a proibição das imagens no culto de Israel exprimia,
como que por contraste, a seriedade desse título dado ao homem, e preparava por
via negativa a vinda do Homem-Deus, única imagem em que se revela o Pai plenamente.
A proibição das imagens
Esse preceito do decálogo, em Dt
27.15; Ex 20.4; Dt 4.9-28, aplicado com maior ou menor rigor no decorrer dos
séculos, constitui um fator fácil de justificar quando se trata dos falsos
deuses ou ídolos, mais difícil de explicar quando se trata das imagens de
Iahweh. Não é contra uma representação visível que os autores sagrados, habituados
aos antropomorfismos, pretendem atirar suas flechas denunciatórias; antes,
querem lutar contra a magia idolátrica e preservar a transcendência de Deus.
Deus não manifesta sua glória por meio dos bezerros de ouro e nem através das
imagens feitas por mãos de homem, e sim através das obras de sua criação: Rm 1.20
– Porque os atributos invisíveis de Deus,
assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se
reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas
que foram criadas. Deus não se deixa comover mediante imagens portentosas,
nas quais o homem dispõe a adorar acentuando atributos isolados ou determinadas
realizações, mas exerce a sua ação salvífica livremente através dos corações,
pela Sabedoria, e em seu Filho.
O homem, imagem de Deus
No Primeiro Testamento, a
importância desta expressão não provém tanto do próprio termo, que já havia
sido empregado nas narrativas da criação do homem em poemas babilônicos
egípcios, mas do seu contexto geral: o homem é a imagem não de um deus, principalmente
quando este também concebido à imagem do homem, mas de um Deus tão
transcendente a ponto de ser impossível fazer dele uma imagem. Somente o homem
pode ter pretensões a esse título, o qual exprime a sua mais alta dignidade - Gn
9.6 – Se alguém derramar o sangue do
homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua
imagem.
Segundo Gn 1.26-29, ser imagem de
Deus e semelhança sua implica o poder de dominar sobre todas as criaturas terrestres
e também, ao que parece, o poder, senão de criar, ao menos de procriar seres
vivos. Contudo, no geral, os textos do Primeiro Testamento desenvolvem mais o
primeiro tema, o do domínio. Ao mesmo tempo, a noção de imagem de Deus, quer
seja utilizada explicitamente ou não nesses textos, parece identificada com um
estado de glória e esplendor pouco inferior ao de um ser divino: Sl 8.5 – Fizeste-o, o entanto, por um pouco, menor do
que Deus e de honra e glória o coroaste.
Nos deuterocanônicos, o homem não
é só a imagem de Deus numa expressão imprecisa, que dava margem a certas
interpretações rabínicas, mas é, com toda propriedade, a imagem de Deus por
excelência. Enfim, um elemento importante de semelhança entre Deus e o homem se
tornou explícito, a saber: a vida eterna. O judaísmo alexandrino, com sérias
tendências gnósticas, distingue duas criações segundo os dois relatos do
Gênesis: só o homem celeste é criado à imagem de Deus; o homem terrestre, que
é tirado do pó. Essa especulação sobre os dois Adões será retomada e transformada
radicalmente por São Paulo em I Co 15. (continua)
Um comentário:
Qualquer imagem que eu queira fazer de DEUS SERIA IMPERFEITA, PORQUE EU SOU IMPERFEITO, E FAZER AS PESSOAS ADORAR UMA IMAGEM IMPERFEITA NÃO SERIA JUSTO COM UM DEUS PERFEITO 😀
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