Viagem da tocha, detalhe em cerâmica |
Certa vez li uma belíssima comparação de Rubem Alves entre o
tênis e o frescobol. Interessante que esse meu professor estabeleceu
diferenças, tanto no objetivo, quanto no resultado final. Se no tênis a
finalidade é colocar a bola longe do alcance do adversário construindo ponto a
ponto a sua derrota, no frescobol o mérito do rebatedor, não sei se tem esse
nome, é devolvê-la na melhor condição possível, propiciando um ataque ainda
mais eficiente da parte do seu oponente.
No capítulo 3 da Carta aos
Filipenses, Paulo esboça como seria a sua participação num tipo de competição que
se assemelhava a uma prova de atletismo no melhor estilo grego da época. Ele,
que auxiliado por Silas em 49, foi pastor e fundador daquela que foi a primeira
igreja cristã radicada numa cidade europeia, vê-se agora, menos de oito anos
depois, concorrendo com a doutrina de outros pastores, que, se beneficiando da
ingenuidade daquela congregação, tentavam mudar radicalmente o conteúdo e os
objetivos do trabalho por ele iniciado.
O embate começa na apresentação,
pois se os pastores que chegaram até eles tinham títulos e recomendações, ele,
Paulo, muito mais. Para tanto, descreve uma série de atributos, que tantos
judeus como judeus-cristãos se orgulhariam de possuir. Dentre eles o que
mostrava de modo irrefutável que a sua conversão do Judaísmo para o
Cristianismo era autêntica: Paulo já havia sido um perseguidor da Igreja da
qual agora era servo.
Na citada carta, Paulo dá sinais
de que havia detectado um programa bem elaborado por parte desses novos pastores,
cujo objetivo era fazer a Igreja voltar aos antigos preceitos da religião
judaica. E é nesse ponto que podemos dizer que acontece a largada da prova. Paulo
fala da alegria do cristão em servir a Deus e a igreja. Fala também das
oportunidades que perdeu por causa do evangelho. Fala da sua fé, que apesar de
pequena, lhe propicia a justiça. E fala que corre, não em direção à vitória,
mas em direção à morte.
Importante que se diga que Paulo
não estabelece exatamente um ponto de chegada. Qualquer lugar em que tivesse
chegado marcaria apenas mais um ponto de partida, assim como lhe apontaria a direção
a ser seguida. Então, qual seria o prêmio desta competição?
Como membro da Igreja Triunfante, Paulo
gostaria de receber o prêmio de ver aquela pequena e frágil Igreja refutar a
doutrina daqueles que ele chamou de inimigos da cruz de Cristo. Pois, se os
filipenses dessem importância aos ritos e prescrições judaicas estariam
anulando por completo o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário.
Como prêmio pessoal, como pastor
sério e fiel, ele gostaria de ver malograda a tentativa daqueles que se
aproveitavam do evangelho para lucro e promoção próprios. Aqueles, que como ele
mesmo diz, têm o ventre como seu Deus, e cuja mentalidade ainda é terrena e
cujos objetivos não são os de Deus.
Como prêmio definitivo, ele queria,
ainda que por alguns instantes, saborear a sensação de dever cumprido. Não que
ele julgasse terminado o seu trabalho, pelo contrário, cada vez corria mais
rápido e para mais longe, em direção a um prêmio que não estava aqui no mundo,
mas no alto.
Podemos considerar que esta seja
uma santa tentação, até podemos desejá-la para nós, mas antes de pensarmos nos
prêmios a receber, que compreendamos ser esse não um jogo de tênis, mas de
frescobol. Pensemos antes de tudo o quanto teremos que abrir mão, o quanto
teremos que nos virar para servir bem, e em tudo o quando nos será devolvido
sob a forma de incompreensão, ingratidão e agressividade. Se não é assim que
pensamos, será melhor nem entrarmos nessa disputa.
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