Jeremias no poço, Marc Chagall |
Já identificamos aqui nas mensagens desse blog algumas diferenças
entre o profetismo verdadeiro e o falso, principalmente aquelas que mais saltam
aos olhos. Contudo, revendo algumas postagens pudemos perceber que omitimos levianamente
o fato de que a autoridade que esse título ostentava na sua época, e ainda por
um bom tempo depois, se mostrava infinitamente maior do que a de todos os
nossos profetas e profetizas contemporâneos.
O versículo citado de Mateus, que fala diretamente do
caráter profético do ministério de Jesus, não é o único a corroborar com essa
ideia, visto que a João, o batista, respeito e consideração em igual escala
também foram atribuídos. A Bíblia, através desses versículos, nos dá a conhecer
que tanto as autoridades religiosas, representadas nesse texto pelos sacerdotes
e escribas, quanto as autoridades civis, e aqui podemos destacar Herodes e
Pilatos, apesar de se posicionarem contrárias às propostas apresentadas por
João e por Jesus, ainda lhes reservavam um profundo respeito. Seria possível,
então, através desses mesmos versículos, identificarmos onde estaria o grande
diferencial que se estabeleceu entre os dois profetismos: o bíblico e o atual?
Como ponto de partida podemos reparar no ditado que Jesus cita
de memória e que era muito conhecido em sua época: Mt 13.57 - E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes
disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa. Na época
de Jesus o profeta não tinha reconhecimento entre as pessoas que lhe eram mais
chegadas, enquanto que o profeta dos tempos modernos somente é reconhecido como
tal no seio do seu minúsculo rebanho. Era uma regra quase que generalizada, a
preferência de Deus, na escolha de seus profetas, recair sobre as pessoas mais
comuns e menos evidentes. Paulo fala a respeito disso em I Co 1.26: Irmãos, reparai, pois, na vossa
vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos
poderosos, nem muitos de nobre nascimento.
O segundo ponto a considerar é que os profetas antigos colocavam
a si mesmos sob a mesma condenação dos erros que eles denunciavam. Não houve um
registro sequer de que um profeta bíblico tenha morrido, durante o seu
ministério, em paz e na companhia dos seus familiares. A mensagem que eles pregavam
doía sempre mais em seus corações do que nos corações de seus ouvintes.
Outro ponto relevante é que a profecia dos antigos não era
regional, nem circunstancial e raramente pessoal. Ela era sempre abrangente e de
um alcance quase que internacional, quando não era global. Os profetas da Bíblia
não se ocupavam em dizer quem ia casar com quem ou se fulano ia ser feliz se
casasse com fulana. Quem fazia essas coisas eram os magos e adivinhos das
religiões dos povos pagãos. O que o profeta vaticinava servia para todos os
povos em todas as épocas.
Talvez o ponto mais relevante fosse mesmo a fragilidade e a
vulnerabilidade com que o profeta apresentava o seu vaticínio. Ele estava
sempre sozinho e desarmado contra um horda inimiga e equipada com todos os
instrumentos para fazê-lo se calar. Não havia prerrogativa alguma que
resguardasse a sua integridade física, muito menos o conhecido agouro com que
os profetas atuais confrontam seus adversários: ai daquele que tocar no servo
do Senhor. Os verdadeiros servos do Senhor, pelo menos na Bíblia, sempre foram
os mais humilhados, achincalhados e abusados. Eles pagaram caro pelo privilégio
de terem sido escolhidos.
Podemos ver que não é sem razão que a esmagadora maioria dos
profetas atuais em vez de repeito e consideração, se prestam para o aviltamento
da Palavra que sequer conhecem direito, e que nunca foram chamados a proclamar.
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