Profetismo bíblico X atual

Jeremias no poço, Marc Chagall
E procuravam prendê-lo; mas temeram o povo, que o tinha por um profeta. Mateus 21.46

 Segundo alguns autores, o período do profetismo em Israel pode ser contado de Samuel a Joel, o que cobre uns bons 650 anos de história. Apesar da Bíblia mencionar pelo nome alguns poucos, sabemos que o número de profetas foi bem maior do que o apresentado, porém, ainda muito menor do que o número de falsos profetas que se misturavam entre os verdadeiramente comissionados por Deus para essa função. Uma rápida olhada em nosso tempo vai dizer que hoje a quantidade de pessoas que se intitulam profetas somada ao seleto grupo dos autênticos arautos de Deus supera em muito todos quantos, verdadeiros ou falsos, viveram o período do profetismo bíblico.

Já identificamos aqui nas mensagens desse blog algumas diferenças entre o profetismo verdadeiro e o falso, principalmente aquelas que mais saltam aos olhos. Contudo, revendo algumas postagens pudemos perceber que omitimos levianamente o fato de que a autoridade que esse título ostentava na sua época, e ainda por um bom tempo depois, se mostrava infinitamente maior do que a de todos os nossos profetas e profetizas contemporâneos.

O versículo citado de Mateus, que fala diretamente do caráter profético do ministério de Jesus, não é o único a corroborar com essa ideia, visto que a João, o batista, respeito e consideração em igual escala também foram atribuídos. A Bíblia, através desses versículos, nos dá a conhecer que tanto as autoridades religiosas, representadas nesse texto pelos sacerdotes e escribas, quanto as autoridades civis, e aqui podemos destacar Herodes e Pilatos, apesar de se posicionarem contrárias às propostas apresentadas por João e por Jesus, ainda lhes reservavam um profundo respeito. Seria possível, então, através desses mesmos versículos, identificarmos onde estaria o grande diferencial que se estabeleceu entre os dois profetismos: o bíblico e o atual?

Como ponto de partida podemos reparar no ditado que Jesus cita de memória e que era muito conhecido em sua época: Mt 13.57 - E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa. Na época de Jesus o profeta não tinha reconhecimento entre as pessoas que lhe eram mais chegadas, enquanto que o profeta dos tempos modernos somente é reconhecido como tal no seio do seu minúsculo rebanho. Era uma regra quase que generalizada, a preferência de Deus, na escolha de seus profetas, recair sobre as pessoas mais comuns e menos evidentes. Paulo fala a respeito disso em I Co 1.26: Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento.

O segundo ponto a considerar é que os profetas antigos colocavam a si mesmos sob a mesma condenação dos erros que eles denunciavam. Não houve um registro sequer de que um profeta bíblico tenha morrido, durante o seu ministério, em paz e na companhia dos seus familiares. A mensagem que eles pregavam doía sempre mais em seus corações do que nos corações de seus ouvintes.

Outro ponto relevante é que a profecia dos antigos não era regional, nem circunstancial e raramente pessoal. Ela era sempre abrangente e de um alcance quase que internacional, quando não era global. Os profetas da Bíblia não se ocupavam em dizer quem ia casar com quem ou se fulano ia ser feliz se casasse com fulana. Quem fazia essas coisas eram os magos e adivinhos das religiões dos povos pagãos. O que o profeta vaticinava servia para todos os povos em todas as épocas.

Talvez o ponto mais relevante fosse mesmo a fragilidade e a vulnerabilidade com que o profeta apresentava o seu vaticínio. Ele estava sempre sozinho e desarmado contra um horda inimiga e equipada com todos os instrumentos para fazê-lo se calar. Não havia prerrogativa alguma que resguardasse a sua integridade física, muito menos o conhecido agouro com que os profetas atuais confrontam seus adversários: ai daquele que tocar no servo do Senhor. Os verdadeiros servos do Senhor, pelo menos na Bíblia, sempre foram os mais humilhados, achincalhados e abusados. Eles pagaram caro pelo privilégio de terem sido escolhidos.

Podemos ver que não é sem razão que a esmagadora maioria dos profetas atuais em vez de repeito e consideração, se prestam para o aviltamento da Palavra que sequer conhecem direito, e que nunca foram chamados a proclamar.

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