Erguei os olhos e vede os campos

Os ceifeiros, Pieter Brueghel
Muitos outros creram nele, por causa da sua palavra, e diziam à mulher: Já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo. João 4.41-42

 Embora esteja em visível baixa, não podemos dizer que a Educação Cristã seja uma cruzada solitária ou uma preocupação de raríssimas pessoas. Mesmo que alguém se arvore a dizer que está sozinho nessa tarefa vai ouvir o que Deus disse a Elias: também conservei em Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal.

O principal motivo dessa terrível falha é o grande descaso para com a maior agência da igreja já criada para esse fim: a Escola Dominical. Isso não se deve apenas ao fato da maioria das denominações mais novas não se valerem desse recurso de evangelização, restringindo esse trabalho a umas poucas classes de crianças, quando não possuem somente berçários. O problema maior está nas igrejas tradicionais que transformaram a Escola Dominical em uma reunião de troca de “experiências”, onde cada um tenta provar que o seu milagre é maior do que o dos outros, ou em uma extensão do “culto de louvor”, expressão que uso indevidamente, pois todo culto é de louvor. O que pode ser observado também, principalmente nas igrejas que têm uma organização interna específica para esse fim, que as lições são preparadas seguindo um calendário fixo, cujo ciclo é de no máximo cinco anos. Esse dejavu interminável faz com que essa Escola não gradue ninguém, e que meia dúzia de abnegados vocacionados tenha que frequentar cursos extracurriculares para se tornarem, quem sabe um dia, professores, que perpetuarão de vez esse erro.

Não são poucos os exemplos do que seria uma formação ideal que podemos encontrar na Bíblia. No Primeiro Testamento temos o caso clássico de Jó, que só deixou a superstição daquilo que ouvia falar sobre Deus, quando se colocou face a face com ele em uma experiência que mudaria definitivamente os rumos de sua enfadonha vidinha. Paulo, por sua vez, não escreveu uma carta sequer em que a propagação da sã doutrina não ficasse em evidência. Em algumas delas, como a que escreveu aos coríntios, condenou severamente aqueles que insistiam em permanecer nos elementos primários da doutrina cristã, chamando-os nanicos na fé, que somente se alimentavam de leite, pois não possuíam as mínimas condições para receber alimento sólido.

Tomemos o episódio de Jesus entre os samaritanos como base para um ensino cristão eficiente. Depois de um fantástico diálogo que Jesus teve com a mulher à beira do Poço de Jacó, os seus discípulos o encontram, e sem se darem conta da preciosidade que foi aquele momento, não fazem outra coisa senão avaliar erradamente as necessidades mais prementes do seu Mestre insistindo para que ele comesse. Ainda não satisfeitos com a sua falta de sensibilidade avaliam erradamente também o caráter de Jesus, desconfiando que ele tivesse alguma comida escondida, da qual se servia quando não estava sendo observado.

Por conta disso, Jesus tem que baixar o nível da conversa e falar de modo metafórico de uma das tarefas mais primárias e essenciais do sustento humano, que é a colheita: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa. Convém lembrar que Jesus estava entre os samaritanos, um povo indesejável aos judeus, e totalmente distante da pretensão evangelística dos discípulos.

O texto narra que bastaram apenas dois dias para que os samaritanos se rendessem à sua mensagem. Mesmo que o evangelho não nos informe que Jesus tenha realizado algum milagre naquela cidade deixa bem claro que muitos creram nele. Primeiramente alguns, pelo testemunho da mulher, mas a maioria veio a crer pelo o que ouviu diretamente dele: Já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo.

Não se trata aqui de desprezar o contato, o diálogo ou mesmo o testemunho. Esses são essenciais para levar as pessoas ao contato com o primordial, com o insubstituível, com o indescritível: o encontro com Deus face a face. Isso só se consegue quando a Igreja deixa de ser um fim em si mesma, e passa a ser um meio pelo qual Deus possa falar diretamente com as pessoas. O culto se presta para muita coisa, mas nunca, em circunstância alguma poderá substituir o que Deus tem a nos falar diretamente através do manuseio livre da sua Palavra, o que só acontece numa boa, fiel e íntegra Escola Dominical. 

4 comentários:

NEHEMIAS RUBIM disse...

Caro amigo pastor
"Que Deus tem a nos falar diretamente através do manuseio livre da sua Palavra, o que SÓ acontece numa Escola Dominical."
Por favor Sergio incentive a Escola Dominical, onde muito aprendi, mas, DEIXA DEUS SER DEUS e que Ele continue a nos falar diretamente DE INÚMERAS maneiras.
Abração.

Amós Boiadeiro disse...

Para mim o trabalho da Escola Dominical deve ser realizado por leigos. O que gera ovelha é ovelha. Vejo um desperdício de capacidades nessa igreja que não se encontra facilmente por aí. Mas não está na minha competência.

NEHEMIAS RUBIM disse...

Desculpe-me amigo Sergio,mas não entendi seu comentário.
Abração.

Amós Boiadeiro disse...

Ele vai ao encontro do seu anseio por uma educação cristã mais eficiente.

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