Meu nome é Multidão IV

Rebanho demoníaco, www.fuyinchina.com
Mas Jesus não deixou e disse: — Volte para casa e conte aos seus parentes o que o Senhor lhe fez e como ele foi bom para você. Leia Marcos 5.1-20

O nosso ódio próprio, que nem percebemos que existe, se mostra nas coisas pequenas. Eu sei bem como ele se mostra em mim. Ele se mostra nas coisas pequenas que fazemos contra nós mesmos, como comer demais, trabalhar demais, em passar da conta em várias atitudes e no abusar das coisas e das pessoas. Ele se mostra também quando nos depreciamos em palavras e ações. Eu tenho muita dificuldade nas minhas relações profissionais, justamente porque não sei dar valor ao meu trabalho. Preciso sempre de alguém ao meu lado que faça isso.


Na realidade eu não sei nem viver dos meus dons pastorais, por isso que, mesmo na dificuldade em que me encontro eu ainda trabalhe para a igreja de graça. Talvez seja porque eu ache que não sou merecedor. Talvez eu ache que meu trabalho não vale o que normalmente se costuma pagar por algo assim.

Mas de onde vem a cura para isso? A cura vem de Jesus, é claro! Mas ela vem de um modo totalmente revolucionário, de um modo totalmente diferente de tudo que o temos feito e pensado. O que Jesus fez com o homem que se chamava Multidão? Ele apenas o encorajou aceitar-se e a se amar justamente como ele era. Ele não fez o que fazemos nas nossas campanhas de evangelização, quando saímos pelo mundo para tentar convencer as pessoas a mudar as suas personalidades para amoldá-las ao que julgamos ser o certo. Quando será o dia em que sairemos das nossas igrejas para ajudar as pessoas a se aceitarem e se amarem como são? Não foi intenção minha que estas palavras fossem colocadas nessa meditação justamente na quarta-feira de cinzas, quando a multidão de pessoas está de ressaca do Carnaval. Mas eu sinto que elas vieram em boa hora. Por minha própria capacidade eu não teria premeditado situação semelhante.

Quando esse dia chegar o Reino de Deus será pleno, porque as pessoas conhecerão e encontrarão o seu lugar no evangelho de Jesus, exatamente com a fantasia que estão vestindo, exatamente como são: com todas as suas culpas, ressentimentos, rejeições e ódios. Não mais será pregado pseudoevangelho de nossas igrejas ou das nossas doutrinas. Isso é que é revolucionário. Isso é que é novidade. Isso é o que Jesus levou para o endemoninhado gadareno, a quem chamavam de Multidão, e o quer trazer para cada um de nós hoje.

Às vezes eu me pergunto: será que realmente sabemos que a graça de Deus é maior que todo o nosso pecado? Será que sabemos que é quando nos encontramos no nosso pior momento e na nossa maior alienação dos outros que a graça de Deus nos alcança? Será que sabemos também que a graça de Deus é a negação de tudo o que fazemos quando descobrimos o pecado, a falta, a fraqueza ou o vício das outras pessoas?

Para assegurar que o milagre na vida do ex-Multidão tinha se consumado de fato, Jesus manda que os espíritos maus entrassem nos porcos que ali estavam e eles se jogaram no lago, onde se afogaram. Esse acontecimento é tão estranho e tão difícil de entender que eu nem me atrevo sequer começar a tentar explicar. Mas uma coisa eu entendo: tomara que nós tivéssemos hoje aqui alguns desses porcos, não precisaríamos nem dos dois mil, apenas dois seriam suficientes para nos dar a certeza de que estamos realmente livres como aquele homem depois do seu encontro com Jesus. Que jeito formidável de nos livrarmos do nosso espírito de porco seria esse!

Os porcos eram o símbolo, eles eram a confirmação da libertação. As pessoas presentes puderam ver claramente que os espíritos maus que estavam dentro daquele homem sumiram para sempre simbolicamente naqueles porcos. Tem muita gente que acha absurdo esse desfecho, mas aí eu pergunto o seguinte: se nós matamos milhões de porcos todos os dias com a finalidade única de nos alimentar, então, por que não aceitar que eles podem ser usados também como sinal de uma libertação tão espetacular? Por que não aceitar que eles possam servir como sinal da cura de alguém que estava tão doente quanto Multidão?

Na cura do Multidão nós podemos ver o que pode significar a nossa própria cura. Jesus tem prometido satisfazer todas as nossas necessidades, mas para isso ele pergunta a cada um de nós: como você se chama? Ele pergunta isso não para nos conhecer, porque ele já nos conhece. Pergunta para que nos reconheçamos na multidão de compulsões, frustrações, ambições e desejos que temos dentro de nós. Ele nos deixa totalmente livres para respondermos exatamente quem somos. Ninguém mais precisa se esconder nos cemitérios, e as coisas divergentes dentro de nós são banidas para sempre. Então, não será mais necessário vivermos com culpa e com remorso, porque respondendo sim ao amor revelado de Deus revelado em Jesus Cristo, mesmo com a multidão degeneradora latente dentro de nós, estaremos livres para dizer ao mundo o quanto Deus foi bom para nós. 

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