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O nosso ódio próprio, que nem percebemos que existe, se
mostra nas coisas pequenas. Eu sei bem como ele se mostra em mim. Ele se mostra
nas coisas pequenas que fazemos contra nós mesmos, como comer demais, trabalhar
demais, em passar da conta em várias atitudes e no abusar das coisas e das
pessoas. Ele se mostra também quando nos depreciamos em palavras e ações. Eu
tenho muita dificuldade nas minhas relações profissionais, justamente porque
não sei dar valor ao meu trabalho. Preciso sempre de alguém ao meu lado que
faça isso.
Na realidade eu não sei nem viver dos meus dons pastorais, por isso
que, mesmo na dificuldade em que me encontro eu ainda trabalhe para a igreja
de graça. Talvez seja porque eu ache que não sou merecedor. Talvez eu ache que
meu trabalho não vale o que normalmente se costuma pagar por algo assim.
Na cura do Multidão nós podemos ver o que pode significar a
nossa própria cura. Jesus tem prometido satisfazer todas as nossas necessidades,
mas para isso ele pergunta a cada um de nós: como você se chama? Ele pergunta
isso não para nos conhecer, porque ele já nos conhece. Pergunta para que nos
reconheçamos na multidão de compulsões, frustrações, ambições e desejos que temos
dentro de nós. Ele nos deixa totalmente livres para respondermos exatamente
quem somos. Ninguém mais precisa se esconder nos cemitérios, e as coisas
divergentes dentro de nós são banidas para sempre. Então, não será mais
necessário vivermos com culpa e com remorso, porque respondendo sim ao amor
revelado de Deus revelado em Jesus Cristo, mesmo com a multidão degeneradora latente
dentro de nós, estaremos livres para dizer ao mundo o quanto Deus foi bom para
nós.
Mas de onde vem a cura para isso? A cura vem de Jesus, é
claro! Mas ela vem de um modo totalmente revolucionário, de um modo totalmente
diferente de tudo que o temos feito e pensado. O que Jesus fez com o homem que
se chamava Multidão? Ele apenas o encorajou aceitar-se e a se amar justamente
como ele era. Ele não fez o que fazemos nas nossas campanhas de evangelização,
quando saímos pelo mundo para tentar convencer as pessoas a mudar as suas
personalidades para amoldá-las ao que julgamos ser o certo. Quando será o dia
em que sairemos das nossas igrejas para ajudar as pessoas a se aceitarem e se
amarem como são? Não foi intenção minha que estas palavras fossem colocadas
nessa meditação justamente na quarta-feira de cinzas, quando a multidão de
pessoas está de ressaca do Carnaval. Mas eu sinto que elas vieram em boa hora.
Por minha própria capacidade eu não teria premeditado situação semelhante.
Quando esse dia chegar o Reino de Deus será pleno, porque as
pessoas conhecerão e encontrarão o seu lugar no evangelho de Jesus, exatamente com
a fantasia que estão vestindo, exatamente como são: com todas as suas culpas,
ressentimentos, rejeições e ódios. Não mais será pregado pseudoevangelho de
nossas igrejas ou das nossas doutrinas. Isso é que é revolucionário. Isso é que
é novidade. Isso é o que Jesus levou para o endemoninhado gadareno, a quem
chamavam de Multidão, e o quer trazer para cada um de nós hoje.
Às vezes eu me pergunto: será que realmente sabemos que a
graça de Deus é maior que todo o nosso pecado? Será que sabemos que é quando
nos encontramos no nosso pior momento e na nossa maior alienação dos outros que a graça de Deus nos alcança? Será que sabemos também que a
graça de Deus é a negação de tudo o que fazemos quando descobrimos o pecado, a
falta, a fraqueza ou o vício das outras pessoas?
Para assegurar que o milagre na vida do ex-Multidão tinha se
consumado de fato, Jesus manda que os espíritos maus entrassem nos porcos que
ali estavam e eles se jogaram no lago, onde se afogaram. Esse acontecimento é
tão estranho e tão difícil de entender que eu nem me atrevo sequer começar a tentar
explicar. Mas uma coisa eu entendo: tomara que nós tivéssemos hoje aqui alguns
desses porcos, não precisaríamos nem dos dois mil, apenas dois seriam
suficientes para nos dar a certeza de que estamos realmente livres como aquele
homem depois do seu encontro com Jesus. Que jeito formidável de nos livrarmos
do nosso espírito de porco seria esse!
Os porcos eram o símbolo, eles eram a confirmação da
libertação. As pessoas presentes puderam ver claramente que os espíritos maus
que estavam dentro daquele homem sumiram para sempre simbolicamente naqueles
porcos. Tem muita gente que acha absurdo esse desfecho, mas aí eu pergunto o
seguinte: se nós matamos milhões de porcos
todos os dias com a finalidade única de nos
alimentar, então, por que não aceitar que eles podem ser usados também como
sinal de uma libertação tão espetacular? Por que não aceitar que eles possam
servir como sinal da cura de alguém que estava tão doente quanto Multidão?
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