Ouviste o que foi dito? II

Jesus confronta os fariseus, Tissot em 1890
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Mateus 23.27

A religião virou um jogo para manipular a opinião pública, isso é um ponto pacífico na questão. Contudo, seu principal objetivo é a tentativa vã de manipular o próprio Deus. Nesse versículo, Jesus denuncia a hipocrisia que está embutida nas aparências. Fossem elas manifestadas nas caras e gestos daqueles que praticavam jejuns ou davam esmolas, ou através de encenações de um poder que pretensamente usado em nome de Deus, serviriam apenas para ganhar aplausos e autenticar a sua autoridade, mas que na realidade serviam mesmo para esconder as suas más intenções.

Os líderes religiosos confrontados por Jesus eram pietistas fraudulentos, que obedeciam as regras de conduta que criavam, mas negavam o espírito para o qual essas regras foram criadas. Conferindo a descrição que Jesus fez dos enganadores do seu tempo, teremos um quadro bastante próximo dos enganadores de hoje: Mateus 23.5 - Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens. Disse também que a aflição deles em proliferar sinagogas e duplicar o número de discípulos, eles viajaram todos os mares e alcançaram todas as terras. Uma vez que tivessem colocado o fardo da lei nas costas de um prosélito, não se furtavam em formar líderes religiosos duas vezes mais merecedores do inferno que eles mesmos. Quando um cego guia outro, acabam os dois caindo no buraco.

Concluiríamos então que o problema é a lei? Claro que não! Paulo dizia que as demandas da lei são espirituais, exigindo o nosso amor aos outros para cumpri-las, portanto, amar é obedecer todas as leis. Então, o problema está em nós. Nossa motivação para obedecer a lei não tem sido o amor a Deus, muito menos o amor ao próximo. Nossa motivação tem sido o amor próprio, no qual desejamos ser reconhecidos, exaltados e dignos de um premio de retidão. A causa desse erro vem da história de cada um de nós, que quando crianças aprendemos que temos que obedecer aos nossos pais para ganharmos o amor deles. Todos fomos marcados com a autoridade indubitável de nossos pais, nossos avós, nossos tios e das pessoas mais velhas. O conteúdo dessa autoridade nunca é examinado ou criticado por nós, e ela é gravada em nossas mentes como a verdade absoluta. Então, nós chegamos à conclusão que o amor dessas pessoas é condicional.

Para nos educar, os nossos pais desfilam um cortejo de regras daquilo que nós podemos fazer e daquilo que não podemos fazer. Eles fazem isso porque são responsáveis, fazem isso porque nos amam. Mas isso também nos incute a ideia de que seremos amados se fizermos o certo e se não fizermos o errado. É uma concepção de vida imposta sem questionamento, pois não temos outra escolha. No nosso raciocínio infantil conclui que nossos pais nos amam por sermos bons, mas não é a verdade. Eles nos amam porque nós somos seus filhos.


Adequamos as experiências obtidas através do convívio com nossos pais à nossa experiência de vida com Deus. Tornamos-nos legalistas desde a infância, e quando chegamos à idade adulta tentamos ganhar o amor de Deus da mesma maneira, tentando fazer apenas boas obras. Esse modo de vida desemboca no legalismo, não tem como ser diferente. E o resultado desse legalismo é o aumento da alienação em vez da sua cura. Somos marcados a vida inteira por esse sinal destrutivo, sem dúvida, mas podemos fazer alguma coisa? (continua)

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