Israel retornando à Torah, Zalman Kleinman |
Quando éramos crianças na Igreja em Vila Isabel, era ensinado que para nos tornarmos membros da igreja deveríamos obedecer a uma série infindável de prescrições. Nós deveríamos frequentar todos os cultos, sermos alunos assíduos da Escola Dominical, contribuir regularmente com o nosso dízimo, ser membro atuante na Sociedade de Crianças e cantar no Coral Infantil. Depois disso, os adultos nos falavam: se pararem de fazer essas coisas, vocês estarão perdidos. Nessa mesma linha de pensamento existe também um spiritual afro-americano cuja letra diz assim: Estou trabalhando / Estou trabalhando tentando ganhar 100 / 99,5 não servirá.
Olhando agora para esses dois conjuntos de regras, tento imaginar como era difícil para nós ganharmos uma nota 100 e fico imagino o quanto eu era feliz antes de ser membro da igreja. Por mais absurdo que pudesse parecer esse pensamento, eu descobri que não estou sozinho nessa. Olhem o que o apóstolo Paulo disse a seu respeito: Pois houve um tempo em que eu não conhecia a lei e estava vivo. Mas, quando fiquei conhecendo o mandamento, o pecado começou a viver, e eu morri. É o nosso texto bíblico de hoje.
Como é duro tentar ser sempre bom! Como é duro obedecer todos os preceitos da lei! Como é duro superar a sensação de não se sentir adequado! Como é exaustivo o legalismo. O legalismo é assim, quando nós cremos que a obediência aos mandamentos fará com que nos sintamos bem e salvos. É quando cremos que Deus nos aceita pelo que fazemos. Quando cremos que as nossas boas obras subornam Deus para que ele nos salve. Ou seja, uma concepção totalmente mesquinha, interesseira e egoísta de fazer Deus nos aceitar.
Deixe-me perguntar uma coisa. O que acontece realmente? Esse é um resultado possível de ser esperado, ou é mais uma confirmação da experiência de não se sentir bem? Deixe-me também explicar o que acontece. Por mais que obedeçamos todos os mandamentos, sempre vai existir um que nos esquecemos de guardar. Quando eu acabo de cumprir com todos os meus deveres, o que eu descubro é uma coisa só: há mais deveres a serem feitos. A obediência jamais nos aliviará dos mandamentos futuros. As autoridades religiosas nunca nos transmitem o sentimento de bem estar, e sim o de que sempre nos falta algo. O legalismo torna-se uma tarefa árdua, que nunca tem fim e sob a falsa promessa de que um dia seremos aceitos por Deus, e todo esse trabalho de perfeição apenas nos guia ao desespero.
No começo da sua história Israel tinha apenas regras básicas
de privilégios e responsabilidades: obedeceu é justo, não obedeceu é pecador.
Com o tempo, regras e mais regras foram acrescentadas, até que tornou-se
impossível conhecer todos os mandamentos, e mais difícil ainda obedecê-los. Podemos comprovar isso com a inquietação do
jovem rico, que expressa toda a sua angústia quanto ao cumprimento de todas as
leis: Replicou-lhe o jovem: Tudo isso
tenho observado; que me falta ainda? Disse-lhe
Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás
um tesouro no céu; depois, vem e segue-me.
O Segundo Testamento serve para por um fim ao tirânico
legalismo. Jesus se aproveitou da ansiedade do jovem para libertá-lo do
labirinto infindável que a lei armou ao redor dele. Tentou de todas as formas
fazer com que as autoridades religiosas entendessem o verdadeiro sentido da
lei. Em Mateus 23 Jesus não poderia ser mais claro: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da
hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais
importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer
estas coisas, sem omitir aquelas! (continua)
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