Triunfo de Davi, Nicolas Pousin |
Não foram poucas as vezes em que eu coloquei o rei Davi
entre os maiores salafrários da Bíblia. Porém, ultimamente tenho compreendido
melhor algumas situações em que ele esteve envolvido e que me fizeram entender
mais um pouco as atitudes que tomou esse queridíssimo personagem bíblico, a
quem não cansamos de homenagear dando aos nossos filhos o seu nome. Eu mesmo
tenho um neto chamado Davi.
Alguns dos fatores que mais justificaram a mudança parcial
do meu julgamento vieram justamente das pessoas que o cercavam, menos pelas
companhias escolhidas por ele do que pelas que cruzaram aleatoriamente o seu
caminho. Poderia citar rapidamente Saul e Absalão como bons exemplos, mas
prefiro ficar com o amaldiçoador particular do rei: Semei, filho de Gera,
parente do rei deposto, Saul. Um tipo impertinente e recalcitrante que não lhe dava
trégua: O qual ia proferindo maldições
enquanto andava. Atirava pedras contra o rei Davi e contra todos os seus
servos.
Esse guerrilheiro urbano não se escondia na multidão para
lançar injúrias contra o rei, mas se apresentava publicamente com discursos
de baixíssimo calão: Vai-te, vai-te
embora, homem sanguinário e celerado. O Senhor faz cair sobre ti todo o
sangue da casa de Saul, cujo trono usurpaste. Como entender que um homem de
comportamento agressivo como Davi suportava alguém assim em seus calcanhares?
Como entender que ele não fizesse o que qualquer rei faria? Assim como motivos,
conselhos lhe não faltaram: Por que
insulta esse cão morto ao rei, meu senhor? Deixa-me passar, vou cortar-lhe a
cabeça.
É justamente na resposta de Davi que o conceito de homem
segundo o coração de Deus fala mais alto: Vede:
se meu filho, fruto de minhas entranhas, conspira contra a minha vida, quanto
mais agora esse benjaminita? Deixai-o amaldiçoar, se o Senhor lho ordenou.
Para entender esse paradoxo de Davi vamos recorrer ao
pensamento de um homem que era o próprio coração de Deus, quando este se
encontrou em uma situação bem mais complexa e de risco muito maior do que uma
simples pedrada. Ele nos ensinou de modo simples e direto que devemos conviver
com as críticas, sejam elas verdadeiras ou não. Mais do que isso, nos ensinou a
perdoar essa ofensa quando declarou que até as ofensas e blasfêmias dirigidas contra
Deus seriam perdoadas.
O pequeno coração de Davi nos ajuda a entender um pouco o
grande coração de Deus principalmente quanto à injúria maior que lhe foi
proferida: a horrenda cruz que seu Filho teve que suportar por nossa causa e
por nossa decisão.
Entender e mudar alguns conceitos sobre Davi custou-me
alguma reflexão. Entender e aceitar o amor gratuito e incondicional do
incomensurável coração de Deus talvez me custe a vida inteira.
Ps. Textos bíblicos retirados dos capítulos 15 e 16 de II
Samuel.
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