Que cultura é essa?

A Escola de Atenas Rafael em 1508
Porque tudo passa rapidamente e nós voamos... Salmos 90
Agora pois permanecem a fé, a esperança e o amor.... I Coríntios 13

Paulo Freire, educador a quem devemos inteligentes mudanças que facilitaram a alfabetização de adultos entre outras tantas lúcidas contribuições, não era figura apreciada pelos militares que exerceram o poder político no Brasil depois da revolução de 1964. Estes fatos que hoje fazem parte de nossa história levaram o educador a passar uma temporada rodando pelo mundo divulgando sua Pedagogia luminosa e as inteligentes observações que se transformaram em causos de sua rica personalidade.

Passeando no campus de uma Universidade chilena com um de seus mestres, Paulo colocou, descontraído seu braço sobre o ombro do colega e o passeio continuou. Mas se esgotou no máximo em quatro passos, porque o chileno não conseguiu deixar de dizer: Desculpe-me, Paulo, mas no Chile não é comum os homens andarem enlaçados. 

Nosso ilustre educador não disse nada. Desculpou-se, no entanto, o seu pensamento recusou aquele tipo de interdição: Mas que tipo de Cultura se permite exilar um gesto de afeição?

Passaram alguns meses e eis nosso Paulo às voltas com um professor africano num roteiro em tudo recorrente, embora ao contrário. Foi o africano que tomou sua mão com delicadeza e ternura no rápido trajeto de grama bem podada. E Paulo confessou posteriormente que ficou aflito imaginando que algum pernambucano poderia vê-lo fazendo par com um mestre da África: Perdão, Afonso, mas o brasileiro admira a doçura do comportamento na África, porém, não se sente à vontade para caminhar de mãos dadas com outro homem. E o pensamento voltou-se contra ele mesmo: Que Cultura é a minha que vê com preconceito um gesto inocente de carinho?

À luz dessas experiências do educador, eu também pergunto: De que valem os nossos credos que, para existirem, geraram guerras sangrentas? De que vale uma Cultura que produz um livro como Maleos Maleficarum (O Martelo das Feiticeiras), que colaborando com a Inquisição, afirma que a mulher nunca será reta, porque foi criada de uma costela recurva de Adão? Que Cultura é essa que leva ao extermínio de 75% de mulheres dos países católicos da Europa. Seria melhor que não existissem esses credos.

De que valem os nossos ódios, equívocos e rancores? As paixões, as guerras, polêmicas, partidos, teologias sem amor? Debates como o de Ário e Atanásio, o primeiro reivindicando que Jesus era de substância semelhante a de Deus e o segundo deblaterando que o substância de Deus e de Jesus eram iguais! Quem fez este exame?

Já basta de tantas tolices sem a presença do amor. Melanchton afirma com bom senso: Unidade no essencial, liberdade no acidental e amor em todas as coisas.


Jonas e eu, 14/12/2014
Texto do Rev. Jonas Rezende especialmente escrito para a comemoração do segundo aniversário desse blog. Mais do que um colaborador semanal, o reverendo Jonas tem sido além de consultor e moderador, um abnegado e constante doador de ideias e argumentos para as nossas meditações. Por isso é que nessa hora me vejo na obrigação de parafrasear Isaac Newton, o ilustre físico: Se pude ver mais longe é porque estava sobre ombros de gigantes. Meus sinceros agradecimentos ao velho mestre, que ao longo de quarenta anos de convivência só quis o meu bem, não se omitindo em absolutamente para ver o seu intento realizado.


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