Cristo carregando a cruz, Giovan Battista Tiepolo em 1737
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Alguns bons motivos me ocorrem nessa hora. Seriam eles menos consagrados dos que os homens e mulheres que nasceram durante ou depois do nascimento de Jesus Cristo? Teriam se colocado sob a direção de Deus com menos rigor do que os apóstolos? Seus martírios e perseguições aconteceram em menor grau de intensidade do que o que foi imposto aos santos e santas venerados por grande parte da igreja cristã em todo o mundo? Teriam eles realizado a vontade de Deus pela metade?
A parábola do semeador também poderia muito bem nos oferecer alternativas
que corroboram com esta distinção. Os homens e mulheres do passado distante
foram as sementes citadas por Jesus que caíram na beira da estrada, entre os
pedregulhos e as que foram sufocadas pelos espinhos. Somente dos cristãos
autênticos se pode dizer que são as sementes que caíram em terra fértil. Seria mesmo assim?
Por outro lado, resta-me uma certeza e eu a tenho como absoluta: a esmagadora maioria desses santos
ou santas reconhecidos pela igreja endossaria ou sequer permitiria qualquer movimento
em prol da sua beatificação, e menos ainda da sua santificação. Tenho sérias razões para acreditar que esses que foram considerados santos após o início desse processo formal declaram,
assim como fez o Papa João Paulo II, a reprovação incontestável da indicação do
seu nome a esta consagração. Mesmo porque, aqueles que o fizessem já não seriam
merecedores dessa distinção.
Sabemos bem que a parábola do semeador não se aplica às pessoas do Primeiro Testamento, pois ele tinha também seus heróis. O povo considerava em
alta referência, da mesma forma, os homens e mulheres que foram grandemente usados por Deus no
seu tempo. Reconheceram que era o Espírito de Deus quem os guiava e que era em
seu nome que estas pessoas se pronunciavam. Mas esse mesmo povo nunca sentiu a necessidade de reconhecer que eles eram pessoas diferenciadas ou que merecessem qualquer veneração ou superestima.
Pelo contrário. Essas pessoas eram as mais vigiadas, foram as que tiveram as
suas vidas mais expostas e as suas mazelas mais conhecidas. Parece que o Primeiro
Testamento em vez de instaurar um processo de beatificação empenhava-se em
fazer uma varredura na vida pregressa do pretenso enviado de Deus, para que uma
vez atestada a sua humanidade, a sua atitude ou mensagem fosse finalmente reconhecida como
autenticamente divina.
Hoje em dia se faz diferente. Quando morre uma pessoa que se
destacou na vida cristã investiga-se apenas aquilo que ela contribuiu positivamente com o
evangelho para que seu nome seja exaltado acima dos demais mortais.
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