Maria Madalena de Heinrich Friedrich Füger (1751-1818) |
Contudo, mais do que uma homenagem às mulheres, eu queria tentar mostrar quem foi de fato o grande responsável por este dia, o verdadeiro mentor da justa, embora tardia, comemoração do Dia Internacional da Mulher. Ao fazer isso vou ter que falar daquele que foi mais longe do que tudo que já foi feito ou sequer pensado pela valorização da mulher. Ainda hoje, após tantos anos, com todos os avanços conseguidos nessa área, ninguém lhe conseguiu fazer sombra, no tocante ao tanto que ele fez pela mulher.
Para orientar essa meditação tomo por base uma mulher, que a partir de um sermão do Papa Gregório Magno, no ano de 591, em uma mensagem maldita, nos dois sentidos, mal proferida e mal fadada, foi condenada a ser nada menos do que a padroeira das prostitutas. Um conceito que deu margem a especulações sobre um suposto envolvimento secreto com Jesus. Quero falar de Maria Madalena.
De antemão, quero dizer que não há nenhuma crítica velada ao papado da Igreja Católica Romana, mesmo porque, na época referida, protestantes e católicos ainda congregavam em uma única igreja. Gregório Magno foi tão nosso Papa também, quanto dos católicos. Nós também fazemos parte desse lado triste da história da igreja.
Infelizmente esse não é um fato isolado e nem de longe o único que contribuiu com a difamação da mulher ao longo da nossa história. As Escrituras possuem por volta de mil e quinhentos personagens, menos de dez por cento deles são mulheres. Porém, nem essa relação desproporcional foi suficiente para livrar algumas mulheres de serem as figuras mais execradas da Bíblia. Foi assim com Eva, Dalila, com Betesabá, Gezebel, Salomé, Safira e tantas outras. Me parece que esse é o dado evidente de que não é só a obsessão masculina pela superioridade, o único motivo para fazer imprimir esta cicatriz tão profunda na história da humanidade. Temos que considerar que por trás de toda essa má intenção, existem fatores obscuros que tem levado o sexo masculino a preservar essa triste herança através milhares de gerações. No caso específico de Maria Madalena, foi preciso que o tal papa engendrasse uma combinação absurda entre prostituição e possessão demoníaca, que pareceria ridícula aos contemporâneos de Maria Madalena no século I, para dar credibilidade à sua mensagem difamatória e mal intencionada.
Até que
fosse considerado maligno por santo Agostinho, o ato sexual era tido como uma dádiva
dos deuses. Muitos de nós ficaríamos boquiabertos com as alusões ao amor
erótico contidas no livro de Cantares. Mas era entre os pagãos que o sexo atingia
seu maior status, era o ato que mais os aproximava de suas divindades. Para
alguém que viveu na época de Jesus, o sermão do Papa seria no mínimo engraçado,
posto que a simples menção da existência de uma prostituta endemoninhada seria por
si um verdadeiro disparate. A coitada não teria sequer como subsistir, e seu negócio,
por assim dizer, estaria fadado, não apenas ao fracasso, como também ao escárnio
de todos. Uma vez que o desejo sexual era considerado uma dádiva divina. Quem,
em seu juízo perfeito, procuraria uma pessoa possuída por um espírito maligno para
tais serviços?
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