Rupturas com o Judaísmo - Parte II


Leão de Judá e Cordeiro de Deus

Dito e feito: No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! João 1.29. 


Dito, mas não feito: E eu chorava muito, porque ninguém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar para ele. Todavia, um dos anciãos me disse: Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos. Apocalipse 5.4-5


 Leão de Judá e Cordeiro de Deus são insígnias que não podem e não devem ser usadas na mesma frase, muito menos investidas na pessoa de Jesus, posto que configuram elementos cruciais na ruptura entre o Judaísmo e o Cristianismo. Leão de Judá faz referência à profecia de Jacó sobre o seu quarto filho, em Gênesis 49.9. Jacó arvorando-se a ser profeta prognosticou que Judá seria um leão, que reinaria e teria poder, não somente sobre os demais irmãos, como também sobre todas as nações. Assim, deveriam ser conferido a Judá autoridade própria de um governante tirânico, que governaria exclusivamente pelo poder que lhe foi conferido pela profecia de um moribundo no seu leito de morte. Contudo, na realidade, Israel nunca alcançou esta hegemonia entre as nações da antiguidade. Teve seu momento de glória enquanto as poderosas nações do norte e do sul atravessavam simultaneamente os seus maiores declínios.


 A expressão Leão de Judá também era usada juntamente com termos como: Terrível de Isaac, Poderoso de Jacó e Yahveh dos Exércitos, como uma instigação proferida pelo povo de Israel  contra os povos vizinhos, em nome de um deus iminentemente beligerante, ora para causar pavor aos seus oponentes, ora como prerrogativas para obter vitória nas batalhas.


 Cordeiro de Deus é a síntese da profecia de Isaías que, diferentemente de outros profetas, proclamou o Messias como servo humilde e que sofreria injúrias e castigos em favor da humanidade. Alguém bem distante de possuir qualquer um dos atributos conferidos ao Leão de Judá. Pelo contrário: Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Isaías 53

 

Muito embora a expectativa dos cristãos em todos os tempos, inclusive dos discípulos de Jesus, focasse um Messias com características próprias do Leão de Judá. Todos divergindo explicitamente do que Jesus nos deixou como legado em diversas ocasiões do evangelho, quando ensinou que: O seu movimento não tinha espírito belicistas; que os inimigos deveriam ser amados e abençoados; que o seu reino não era desse mundo e que não veio para ser servido e sim para servir e dar a sua vida em favor de muitos. Tal como fora profetizado por Isaías.

 

Em uma leitura continuada de um dos nossos textos, veremos que os dois personagens estão lado a lado na visão do Apocalipse. Veremos, também, que a expectativa de João recaía preferencialmente sobre o poderoso Leão de Judá, o único que se insinuava com peculiaridades para ser digno de abrir o livro que marcaria o fim da opressão de Israel sob o jugo romano. Contudo, na hora crucial o Leão “passa batido” e quem se mostra digno de abrir o livro não é o Leão, mas sim o Cordeiro, com uma aparência mórbida de quem não transmite qualquer vestígio de poder. Nas entrelinhas podemos notar uma certa decepção de João, que se vê frustrado na sua expectativa de vingança, uma vez que o Leão é violento, mas o Cordeiro é manso; o Leão castiga, o Cordeiro perdoa; o Leão mata, o Cordeiro morre.

 

Não foi por mero acaso que em todo restante do livro do Apocalipse o Leão de Judá é novamente mencionado. Como sabemos que o livro do Apocalipse não admite acréscimos e nem omissões, temos que concluir que naquele exato momento, o Leão de Judá, na caminhada da igreja, saiu de cena de uma vez para sempre. Diante de tudo que foi exposto, o cristão precisa escolher um lado: o truculento do Leão ou benevolente do Cordeiro e pautar o seu ministério segundo a sua escolha. Tendo em mente que também não foi por mero acaso, que na visão de João, toda a corte celestial cantou a uma voz um cântico novo: Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda raça, tribo, língua e nação. Apocalipse 5.9 (Anterior) (Continua)


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