Rupturas com o Judaísmo

Bênção e Maldição
Bênção e Maldição (Sang Min)

De um tempo para cá, em algumas igrejas chamadas históricas, pessoas decidiram por conta própria que seria mais espiritual imitar usos e costumes de religiões, seitas e evangelhos diferentes dos que lhes foram legados pela sua tradição. Daí por diante, este movimento se mostrou irrefreável. O que era inconcebível por duas ou três gerações anteriores à nossa, hoje é quase que obrigatório. Ninguém é mais culpado desta tragédia do que a minha geração de metodistas. Não atentamos para que João Wesley havia deixado bastante claro: O que uma geração tolerar, a próxima abraçará. 

 Não é pelo simples fato de considerarmos o mesmo livro como inspirado, que temos a pena liberdade de adotarmos como prática de culto certos tradicionalismo dos judeus em detrimento da nossa tradição. A grande diferença se estabelece porque não lemos o Primeiro Testamento com os olhos de Moisés, mas sim com os de Jesus Cristo. Esta sim é a nossa tradição. Para que fique de vez por todas evidente essa diferença, ouçamos o que nos disse Nikolai Berdyaev: Tradição é a fé viva dos que já morreram. Tradicionalismo é a fé morta dos que ainda vivem. 

I parte - Bênção e maldição 
Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados. Gênesis 12.3 

Vocês ouviram o que foi dito: Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Mateus 5.43-45 

Existe alguma maneira de lermos esses dois textos que nos possibilite fazer uma conciliação entre eles? O “Eu porém vos digo” de Jesus parece dizer que não. Os antigos faziam assim orientados por uma promessa de Deus a Abraão. Ou seja, na pré-história judaica. Algo transmitido e retransmitido, desde antes da escrita, por uma longa tradição oral. Aqueles não aceitam que Moisés foi o autor do Pentateuco e que levam em conta que o Gênesis recebeu suas primeiras transcrições por volta do ano 600 a.C., também dizem que não. Analisando a questão sob esse ponto de vista, podemos concluir que a promessa de Deus a Abraão serve para o Judaísmo, mas de forma alguma serve para o Cristianismo. 

Porém, não podemos pensar assim de toda a promessa. Pelo fato de Jesus ter contraditado apenas a primeira parte da promessa, deixou patente que ainda está vigente dela a sua segunda parte. Aquela que diz: Em ti serão benditas todas as nações da terra. Justamente a parte em que Deus promete abençoar o mundo por meio daqueles que professam a fé nele. Estes e não outros quaisquer serão o único canal da sua bênção maior que é o evangelho, pois este é um privilégio que foi dado à igreja, negado a reis e profetas e recusado aos anjos, que assim gostariam imensamente de fazê-lo. 

O que é assim pensado sugere uma pergunta: o que levou a igreja a adulterar tão precioso preceito e agir de forma contrária ao que Jesus determinou? Não é o que fazemos de melhor: amaldiçoar sem piedade os nossos inimigos e ameaçar com os horrores de um inferno iminente todos os povos que não professam a nossa fé. Não era exatamente este o preceito do Judaísmo: benção para os amigos e maldição para os inimigos. Aí vem Jesus rompendo de vez com a tradição judaica e nos manda amar os nossos inimigos e abençoar os que nos perseguem. 

É bem certo que amar os inimigos é coisa da cabeça de Jesus. Nenhum líder religioso ou político antes ou depois dele ousou proferir tamanho absurdo. E ele não parou por aí. Disse também que esta é uma exigência para todos aqueles que almejam ser filhos de um Deus que não faz acepção de pessoas, que derrama bênçãos de igual forma sobre justos e injustos e que trata com o amor de um pai bondoso tanto os bons quanto os maus.(Continua)

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