Coisas puras e coisas impuras
Se uma pessoa tocar alguma coisa imunda, como imundícia de
homem, ou de gado imundo, ou de qualquer réptil imundo e da carne do sacrifício
pacífico, que é do Senhor, ela comer, será eliminada do seu povo. Levítico 7:21
E, clamando a si a multidão, disse-lhes: Ouvi, e entendei: Não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o que o contamina. Mateus 15.10-11
Na lei judaica TUMAH e TAHARAH definem respectivamente os
estados de pureza e de impureza ritual, mas não são de forma alguma princípios
exclusivos do Judaísmo. Muitos desses costumes podem ser encontrados em
religiões mais antigas, como também praticados por povos que nunca tiveram
influência judaizante. Para o judeu do primeiro século, uma vez considerado
impura, a pessoa era privada de exercer uma série de funções ou mesmo de tocar
em outra pessoa. Dependendo do grau de contaminação ela poderia ser banida de
convívio com o povo eleito.
Os judeus cumpriam rigorosamente estes rituais de pureza,
posto que estavam prescritos em seus preceitos religiosos. Os escribas e
fariseus julgavam o que ou quem era puro ou impuro segundo o rigor de leis
estabelecidas por eles mesmos. Jesus inverte o que dizia a lei. Mesmo aquelas
pessoas que eram consideradas extremamente impuras, caso tocassem em Jesus, não
o tornavam impuro. Pelo contrário, a mulher com fluxo de sangue, os portadores
de hanseníase e outros reputados como abomináveis, imediatamente tornaram-se
puros ao toque de Jesus, sem a necessidade de cumprir qualquer ritual de
purificação. Mas Jesus não atuou apenas na defensiva, esperando ser tocado. Em
meio a uma grande multidão, acintosamente toca o esquife do filho da viúva de
Naim e transtorna a realidade. O que estava morto, reviveu; onde havia
tristeza, reinou a alegria; onde predominava o choro, fez-se o riso. Ainda que
agindo à revelia da lei, exerceu o mais sublime dos sacerdócios para nos dizer
que não é o mal que contamina o bem e sim a ausência do bem é que propicia o
surgimento do mal.
É lamentável que nem mesmo este esclarecedor ensinamento de
Jesus foi suficiente para que os seus discípulos deixassem de seguir os
rigorosos preceitos dessas leis. Nesse aspecto específico, a ruptura definitiva
entre o Judaísmo e o Cristianismo, no que diz respeito aos conceitos de pureza
e impureza antes relativizados por Jesus, pela dureza dos seus corações ainda precisaram
ser reafirmados pelos ministérios dos apóstolos Pedro e Paulo. Pedro foi de vez
convencido por uma ordem direta de Deus para matar e comer animais impuros, transmitida
a ele por meio de um sonho que está descrito em Atos 10. Não consideres impuro
o que Deus purificou. Já Paulo, mesmo intimado por Tiago a se abster de comidas
impuras, ignorou completamente tal ordem, permanecendo firme no que recebera do
Senhor: Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por
nenhuma delas.
Ao mesmo tempo em que este novo entendimento liberta, torna todo
discípulo de Jesus responsável pelas suas escolhas. Não é mais a lei ou um
intérprete das Escrituras que dizem ao cristão o que ele pode ou não fazer; o
que pode ou não beber; o que pode ou não tocar. Quando os cristãos se abstém ou
induzem alguém a se abster de comer certos alimentos ou de tocar em determinados
objetos por considerá-los legal ou religiosamente repugnantes, o fazem por pura
superstição herdada do paganismo, uma vez que foram por Jesus de vez para
sempre libertos de todo o tipo de opressão, inclusive de leis absurdas como estas. (Anterior) (Continua)
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