Rupturas com o Judaísmo - `Parte III


Coisas puras e coisas impuras

Se uma pessoa tocar alguma coisa imunda, como imundícia de homem, ou de gado imundo, ou de qualquer réptil imundo e da carne do sacrifício pacífico, que é do Senhor, ela comer, será eliminada do seu povo. Levítico 7:21

 

E, clamando a si a multidão, disse-lhes: Ouvi, e entendei: Não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o que o contamina. Mateus 15.10-11

 

Na lei judaica TUMAH e TAHARAH definem respectivamente os estados de pureza e de impureza ritual, mas não são de forma alguma princípios exclusivos do Judaísmo. Muitos desses costumes podem ser encontrados em religiões mais antigas, como também praticados por povos que nunca tiveram influência judaizante. Para o judeu do primeiro século, uma vez considerado impura, a pessoa era privada de exercer uma série de funções ou mesmo de tocar em outra pessoa. Dependendo do grau de contaminação ela poderia ser banida de convívio com o povo eleito.

 

Os judeus cumpriam rigorosamente estes rituais de pureza, posto que estavam prescritos em seus preceitos religiosos. Os escribas e fariseus julgavam o que ou quem era puro ou impuro segundo o rigor de leis estabelecidas por eles mesmos. Jesus inverte o que dizia a lei. Mesmo aquelas pessoas que eram consideradas extremamente impuras, caso tocassem em Jesus, não o tornavam impuro. Pelo contrário, a mulher com fluxo de sangue, os portadores de hanseníase e outros reputados como abomináveis, imediatamente tornaram-se puros ao toque de Jesus, sem a necessidade de cumprir qualquer ritual de purificação. Mas Jesus não atuou apenas na defensiva, esperando ser tocado. Em meio a uma grande multidão, acintosamente toca o esquife do filho da viúva de Naim e transtorna a realidade. O que estava morto, reviveu; onde havia tristeza, reinou a alegria; onde predominava o choro, fez-se o riso. Ainda que agindo à revelia da lei, exerceu o mais sublime dos sacerdócios para nos dizer que não é o mal que contamina o bem e sim a ausência do bem é que propicia o surgimento do mal.

 

É lamentável que nem mesmo este esclarecedor ensinamento de Jesus foi suficiente para que os seus discípulos deixassem de seguir os rigorosos preceitos dessas leis. Nesse aspecto específico, a ruptura definitiva entre o Judaísmo e o Cristianismo, no que diz respeito aos conceitos de pureza e impureza antes relativizados por Jesus, pela dureza dos seus corações ainda precisaram ser reafirmados pelos ministérios dos apóstolos Pedro e Paulo. Pedro foi de vez convencido por uma ordem direta de Deus para matar e comer animais impuros, transmitida a ele por meio de um sonho que está descrito em Atos 10. Não consideres impuro o que Deus purificou. Já Paulo, mesmo intimado por Tiago a se abster de comidas impuras, ignorou completamente tal ordem, permanecendo firme no que recebera do Senhor: Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.

 

Ao mesmo tempo em que este novo entendimento liberta, torna todo discípulo de Jesus responsável pelas suas escolhas. Não é mais a lei ou um intérprete das Escrituras que dizem ao cristão o que ele pode ou não fazer; o que pode ou não beber; o que pode ou não tocar. Quando os cristãos se abstém ou induzem alguém a se abster de comer certos alimentos ou de tocar em determinados objetos por considerá-los legal ou religiosamente repugnantes, o fazem por pura superstição herdada do paganismo, uma vez que foram por Jesus de vez para sempre libertos de todo o tipo de opressão, inclusive de leis absurdas como estas. (Anterior) (Continua)


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